Vieira e Rubio mantêm diálogo comercial, sem tratar de Brics ou dólar

por Assessoria de Imprensa


Segundo interlocutores do governo Lula, esses assuntos, considerados sensíveis pela Casa Branca, foram evitados. O presidente Donald Trump tem demonstrado incômodo com discussões sobre alternativas ao uso da moeda americana no comércio entre os países do grupo e, com frequência, ameaça aumentar tarifas sobre nações que busquem reduzir o domínio do dólar.

De acordo com participantes do encontro, a reunião entre Vieira e Rubio concentrou-se em questões econômicas e comerciais bilaterais e foi vista como parte do esforço de reaproximação entre Brasil e Estados Unidos após meses de tensão diplomática. O resultado da reunião foi relatado, nesta sexta-feira a Lula pelo chanceler brasileiro.

Os chefes da diplomacia brasileira e americana também discutiram os preparativos para o primeiro encontro entre Lula e Trump. Embora ainda sem data confirmada, os dois lados consideraram a possibilidade de que a reunião ocorra à margem da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), na Malásia, no fim deste mês.

Segundo integrantes do governo, o calendário até o fim do ano oferece ao menos três possíveis oportunidades para um novo encontro. Na próxima semana, tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto o americano Donald Trump estarão na Malásia. Lula deve permanecer no país entre os dias 25 e 27.

Caso o encontro não ocorra em Kuala Lumpur, haveria uma brecha entre 11 e 19 de novembro, período em que Lula retorna a Brasília após a COP, marcada até o dia 10. Depois disso, o presidente brasileiro participará do G20 na África do Sul — reunião da qual Trump não deve comparecer — e da cúpula do Mercosul, que contará com a presença de autoridades da União Europeia.

Nos dias 4 e 5 de dezembro está prevista a Cúpula das Américas, na República Dominicana, tradicionalmente com a participação dos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos. Desta vez, contudo, o país anfitrião não pretende convidar Cuba, Venezuela e Nicarágua. Fontes classificaram a decisão como um “retrocesso enorme”, lembrando que, historicamente, todos os países da região, independentemente de seus regimes políticos, eram chamados a participar.

Diante desse cenário, há a possibilidade de Lula não comparecer à Cúpula das Américas. Ainda assim, há um esforço para que uma reunião bilateral entre Brasil e Estados Unidos ocorra até o fim do ano.

Na reunião realizada na quinta-feira, em Washington, com o secretário de Estado americano, com a presença do representante de Comércio da Casa Branca, Jamieson Greer, o ministro Mauro Vieira pediu a suspensão do tarifaço sobre produtos brasileiros enquanto durarem as negociações comerciais entre os dois países. O apelo havia sido feito por Lula a Trump no início da semana anterior, em uma conversa telefônica de meia hora.

Segundo interlocutores do governo brasileiro, o diálogo entre os chefes da diplomacia do Brasil e dos Estados Unidos teve um tom “exploratório” e buscou definir novas bases para as discussões bilaterais. Ficou acertado que temas comerciais — como o próprio tarifaço e a investigação contra o Brasil aberta pela Seção 301 da legislação de comércio americana — passarão a ser conduzidos pelo USTR (Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos) e pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Já questões políticas e diplomáticas, como as sanções impostas a cidadãos brasileiros e a situação envolvendo Estados Unidos e Venezuela, permanecerão sob responsabilidade de Vieira e Rubio.

Em 9 de julho deste ano, o presidente dos EUA anunciou uma sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros, que se somou à tarifa de 10% aplicada a todos os países que mantêm comércio com os americanos. Trump havia condicionado uma negociação comercial com o Brasil ao arquivamento do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). O governo brasileiro reagiu, afirmando que o republicano interferia em assuntos internos e ressaltando que os Poderes no país são independentes.

Já a investigação com base na Seção 301 foi aberta por Washington sob o argumento de que o Brasil adota práticas comerciais “desleais”. O relatório preliminar inclui uma ampla gama de temas, que vão do desmatamento e da corrupção à regulação de meios de pagamento como o Pix, passando pelo comércio de produtos falsificados na Rua 25 de Março, em São Paulo, e pelas políticas de biocombustíveis e etanol. Caso sejam comprovadas irregularidades, o processo pode resultar em novas sanções e restrições comerciais.

Durante a conversa, nenhuma das partes mencionou Bolsonaro, condenado pelo STF por tentativa de golpe de Estado. O foco foi dar início às negociações para um acordo comercial com os Estados Unidos.

Para diplomatas brasileiros, a reunião em Washington representa um passo inicial, mas importante, na tentativa de reconstruir as pontes entre Brasília e Washington. Os próximos movimentos devem envolver encontros técnicos entre negociadores dos dois países, voltados a definir prazos e condições para a revisão das tarifas e o avanço de temas estruturais da relação bilateral.

Nos bastidores, prevalece a avaliação de que o clima foi construtivo, embora cauteloso. O governo Lula aposta que a reaproximação poderá abrir caminho para medidas concretas nos próximos meses — e reduzir o peso de disputas políticas e comerciais que, nos últimos anos, minaram a relação entre Brasil e Estados Unidos.



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