Uma operação em que morrem tantos e que no dia seguinte ainda se contam os mortos é desastrosa, um fracasso. E esse fracasso na ação no Complexo do Alemão veio do mau planejamento. Tanto os traficantes, quanto as milícias, precisam ser combatidos, sem dúvida. O Rio é uma cidade sitiada pelo crime; é preciso uma reação. Mas isso tem que ser feito em cooperação com o governo federal. O que se viu ontem foi que o governo estadual, quando percebeu que estava dando errado, decidiu culpar o governo federal.
O argumento usado pelo governador foi que ele pediu blindados, soldados e mecânicos. Fui saber do Ministério da Defesa o que aconteceu com esse pedido e li todo o parecer da AGU que foi entregue a eles. A AGU respondeu que pedir blindados não é uma coisa trivial. Constitucionalmente, não é assim que se faz. Não é dessa maneira informal que se faz um pedido.
- MPF e DPU cobram explicações sobre a megaoperação do Rio que deixou 60 mortos: Eles questionam, por exemplo, se as medidas impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da ADPF 635, a ADPF das Favelas, foram cumpridas
O caminho certo da cooperação é o da PEC da Segurança, que o governador Cláudio Castro foi contra. Mediei um evento em que estavam o governador e o ministro Ricardo Lewandowski. Enquanto o ministro dizia que queria ouvir a opinião dos governadores para aperfeiçoar o projeto, Castro simplesmente criticava a PEC em si. Esta PEC está no Congresso.
Por outro lado, o PL antifacção apresentado pelo Ministério da Justiça está parado na Casa Civil. É preciso ir adiante com isso. Esse assunto é grave demais. Fora isso, tem a questão da ADPF 635, que ontem o governo estadual não respeitou.
Há necessidade de cooperação entre todas as instâncias administrativas, o governo federal, o governo estadual e o municipal. A legalidade deve estar junto nesse combate. Só que a briga política, às vezes, impede. O governador Cláudio Castro disse que não deve haver politização, mas quem está politizando? Ele agora de manhã convocou uma reunião de governadores de direita. Quando deveria haver cooperação federativa. independentemente da tendência do governador e do governo federal.
Um dos argumentos dos governadores contra a PEC da Segurança é que ela tira a autonomia dos estados. Isso tem que dar lugar à cooperação. As forças de segurança têm que cooperar. E tem que haver um combate que use mais a inteligência, mais a busca da informação.
Um exemplo que deu certo: a Operação Carbono Oculto. Fez um estrangulamento financeiro, revelou muita coisa do controle da economia pelo crime (no caso, o PCC). Houve cooperação e houve serviço de inteligência. E não teve essa cena de barbárie que estamos vendo nas últimas horas.

