- ‘Supercélula’: Entenda origem do fenômeno que devastou Rio Bonito do Iguaçu
Segundo o governo do Paraná, o tornado causou estragos principalmente no município de Rio Bonito do Iguaçu, que registrou cinco mortes, e Guarapuava, um com óbito confirmado. Há ainda registros de pelo menos 750 feridos. O evento foi classificado pelo governo estadual como de intensidade F3, em uma escala que vai de 0 a 5.
Dados compilados pelo pesquisador Daniel Henrique Cândido, em sua tese de doutorado na Unicamp, de 2012, apontam um evento com letalidade similar no Paraná há três décadas. Em maio de 1992, houve registro de um tornado em Almirante Tamandaré, também com escala F3, que deixou seis mortos. Na ocasião, o tornado deixou ainda 33 pessoas feridas e destruiu cerca de 500 casas.
Há registros locais de um outro tornado, em maio de 1992, no município de Borrazópolis (PR), com 12 mortos, mas que não foi contabilizado no estudo.
Especialistas afirmam que há dificuldade para padronizar a medição de eventos como tornados, que dependem tanto da observação, como de determinados instrumentos. Um dos fatores que caracterizam eventos de intensidade F3 é a ocorrência de ventos que derrubam muros de casas, algo observado neste tornado no Paraná.
— A medição é muito difícil, mas a característica visual também entra na configuração dessa escala de 0 a 5. A principal dificuldade para detectar o fenômeno é que as ferramentas necessárias envolvem imagens de satélites e informações locais. É preciso ter dados, sobretudo sobre os ventos verticais, que é o que determina a intensidade. Os ventos horizontais não são determinantes — afirmou o meteorologista Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório LAPIS.
A região Sul tem um histórico de eventos como esse, que se explica, segundo especialistas, pela dinâmica de temperaturas da região. Há registros locais de um tornado que teria atingido intensidade F4 no município de Palmas (PR), em 1959, deixando cerca de 60 mortos.
Outros estados da região Sul e de outras regiões do país já tiveram eventos de magnitude similar. Segundo a tese de doutorado do pesquisador Daniel Henrique Cândido, houve um tornado em Itu (SP), em 1991, com registro de 15 mortos e 176 feridos. Em Nova Laranjeiras (PR), um tornado registrado em 1997 teve um saldo de quatro mortes e 72 feridos.
O mais comum no Brasil, porém, são tornados da categoria F1, com ventos entre 117 km/h e 180 km/h. Estudo divulgado neste ano pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) catalogou 581 tornados no país entre a década de 1970 e 2018, dos quais 115 foram de intensidade F1. A região Sul recebeu, no período, 411 tornados, segundo o estudo; o Paraná concentrou 89 deles.
De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, o aumento de temperaturas no país pode estar relacionado a fenômenos mais intensos ou mais recorrentes.
— As temperaturas são o gatilho de todo esse fator de vento. Primeiro você gera esse gradiente térmico, e nesta semana havia muitos desses fatores nas regiões Centro-Oeste e Sul em razão da alta de calor. As temperaturas estão a cada ano mais quentes, isso é um elemento para que esse sistema meteorológico se alimente — avaliou Barbosa.

