Tereza e Simone lideram mudança política em Mato Grosso do Sul

por Assessoria de Imprensa


Filhas da mesma elite, ministra dá guinada à esquerda e senadora vira opção conservadora para vice presidência

Tereza e Simone elevam MS a eixo estratégico entre Lula e a nova direita
Tereza Cristina e Simone Tebet durante discursos em diferentes ocasiões (Fotos: Agência Brasil)

Em Mato Grosso do Sul, não tem esse negócio de “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”. Em 48 anos de história marcada pela presença masculina no comando, nunca o eixo da política estadual pendeu tanto a favor das mulheres quanto agora. A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), e a senadora Tereza Cristina (PP) despontam como personagens decisivas na formação dos palanques de 2026 — de um lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva; do outro, Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior ou alguém do clã Bolsonaro. Rompem juntas um padrão de influência em que só os homens deram as cartas e podem, dependendo dos ventos da política, mudar a configuração regional do poder.

Em Mato Grosso do Sul, duas mulheres emergem como figuras centrais na política nacional: a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), e a senadora Tereza Cristina (PP). Ambas, oriundas do agronegócio, representam lados opostos do espectro político, com Tebet alinhada ao governo Lula e Cristina à nova direita. Tereza Cristina, com mandato até 2030, é considerada a mulher mais influente do Centro-Oeste, exercendo poder nas esferas municipal, estadual e federal. Já Simone Tebet, após destacar-se nos debates presidenciais de 2022, tornou-se ministra e trabalha em projetos estratégicos para o estado, como a Rota Bioceânica. As duas podem ser decisivas na formação dos palanques de 2026.

Estofo não falta a elas. As duas têm origem no mesmo berço político e econômico — o agronegócio —, mas trilharam rotas distintas. Tereza, alicerçada na direita produtivista e bolsonarista. Simone, projetada pelo centro político e pela moderação. Unidas pela origem e pela força, representam o encontro inédito de duas lideranças femininas capazes de antecipar uma fissura na hegemonia masculina em Mato Grosso do Sul, previsto apenas para 2030. O foco hoje, porém, é outro: influenciar a eleição de bancadas fortes no Senado, palco de uma disputa anunciada entre os poderes.

Tereza e Simone elevam MS a eixo estratégico entre Lula e a nova direita
Bolsonaro quando ainda era presidente ao lado de Tereza Cristina, que foi ministra durante o governo dele (Foto: Divulgação)

O império político de Tereza – Ex-ministra da Agricultura e uma das parlamentares mais influentes de Brasília, Tereza Cristina é hoje a mulher mais poderosa do Centro-Oeste. Com mandato garantido até 2030, atravessa qualquer cenário com folga. Empoderou-se na nova direita e, como presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), foi decisiva para unir o agronegócio à candidatura de Jair Bolsonaro em 2018. Discreta, mas com rara capacidade de articulação, construiu uma rede de poder em três níveis — municipal, estadual e nacional.

Em Campo Grande, exerce influência direta na prefeitura; no governo estadual, é madrinha política do governador Eduardo Riedel, que a convite dela, há dois meses migrou do PSDB para o PP; e, em Brasília, é cotada como possível vice em 2026, alvo de elogios até de seu provável concorrente, o correligionário e senador Ciro Nogueira ((PI), que a acha com cacife até para encabeçar uma chapa presidencial no ano que vem. Seu domínio se apoia em bases partidárias sólidas: lidera a federação PP–União Brasil, com capilaridade, recursos e estrutura, além do apoio das principais entidades do agro, como a CNA e a própria FPA.

Tereza é relatora do PL 1.532/2025, que amplia prazos de regularização fundiária em áreas de fronteira — cerca de 40% do território estadual. O projeto é festejado por fazendeiros e criticado por movimentos indígenas e sem-terra, mas ela prefere o discurso técnico da segurança jurídica ao ideológico. Também lidera a polêmica campanha “Invasão Zero”, contra ocupações de terra, e é vista pela esquerda como a “UDR de saias”. “Tereza Cristina é a senadora do agro e a articuladora que entende o peso de um Estado exportador. Ela fala para o PIB”, resume o cientista político Daniel Miranda.

Tereza e Simone elevam MS a eixo estratégico entre Lula e a nova direita
Simone Tebet ao lado de Lula durante a campanha eleitoral (Foto: Ricardo Stuckert)

A virada estratégica de Simone – Se Tereza fala para o capital produtivo, Simone Tebet fala para o centro político e o agronegócio da integração. Sua projeção nacional consolidou-se nos debates presidenciais de 2022, quando se destacou pela firmeza e serenidade diante da polarização. Foi decisiva na vitória de Lula e tornou-se ministra do Planejamento, onde tenta equilibrar técnica e política.
Com o respaldo direto do presidente, Simone destrava obras que podem reposicionar Mato Grosso do Sul como gigante logístico e exportador — a mais simbólica é a Rota Bioceânica, que ligará o Brasil aos mercados asiáticos pelo Pacífico.

De Xangai, onde cumpriu agenda recente, enviou mensagem direta aos sul-mato-grossenses com retórica de palanque: “Estou no maior porto do mundo, o porto de Xangai, estratégico para as nossas rotas bioceânicas (…). Mato Grosso do Sul, Centro-Oeste e Brasil serão imbatíveis em commodities e agronegócio”.

Atualmente, Simone é cotada para disputar o Senado por São Paulo, mas o recente retorno à base natal indica outro rumo — uma candidatura por Mato Grosso do Sul. Prefeita de Três Lagoas entre 2005 e 2010, com gestão bem avaliada pelos institutos de pesquisa, foi responsável por atrair a primeira grande indústria de celulose do Estado, transformando o município em polo exportador e símbolo de diversificação econômica.

Contrastes e convergências – “Simone é o contraponto simbólico de Tereza Cristina: nasceram do mesmo Estado e do mesmo agro, mas cresceram em direções opostas”, diz Daniel Miranda. “Uma é o agro-político; a outra, o agro-institucional”. Juntas, diz ele, representam um Mato Grosso do Sul que se tornou um novo centro da política brasileira.

Para o economista Lauredi Borges Sandim, diretor do Ipems (Instituto de Pesquisas de Mato Grosso do Sul), as trajetórias de ambas “refletem duas formas de poder que amadureceram em direções distintas”. Tereza consolidou-se como liderança disciplinada e conservadora; Simone, como perfil institucional e conciliador.
 “Ambas são competitivas, carismáticas e falam a públicos diferentes: Tereza se dirige ao agro tradicional e à direita produtivista; Simone, ao centro e ao agro da integração”, diz.

Sandim ressalta que as duas compartilham autonomia e domínio técnico, qualidades raras na política local. “Nenhuma é refém de grupo político. Ambas tornaram Mato Grosso do Sul visível em Brasília.”

O contraste traduz o momento mais inédito da política estadual: duas mulheres concentram influência nas três esferas da República — local, estadual e nacional — e disputam, ainda que simbolicamente, a narrativa do poder. Ambas vêm de famílias tradicionais da política sul-mato-grossense. Simone é filha do ex-senador e ex-presidente da Assembleia Ramez Tebet; Tereza é bisneta do ex-governador Corrêa da Costa. As duas começaram em cargos estaduais, chegaram ao Congresso e ocuparam postos de destaque nos ministérios de Jair Bolsonaro e Lula 3.

Há, contudo, ironias: embora em lados opostos, Simone e Tereza se cruzam no governo estadual. O marido de Simone, o ex-deputado Eduardo Rocha (MDB), é chefe da Casa Civil do governador Riedel, principal aliado de Tereza. O entrelaçamento revela o pragmatismo híbrido da política sul-mato-grossense, onde adversários em Brasília se aliam em Campo Grande.

Sandim aponta ainda uma curiosa inversão ideológica: Simone, criada no MDB conservador, aproximou-se de Lula e está em franca guinada à esquerda; Tereza, que começou no PSB do lendário esquerdista Miguel Arraes, consolidou-se à direita, hoje associada ao bolsonarismo e ao agronegócio.

Tereza domina o campo conservador e as prefeituras, onde divide com o aliado PL, agora sob o comando do ex-governador Reinaldo Azambuja, o controle de mais de 75% da base municipalista. Simone, com apenas dois prefeitos em seu partido, aposta em eleitorado de centro-esquerda e na aproximação com Lula.

“Tereza é articulada e disciplinada; Simone, mais independente e intelectual”, resume Sandim. “Na verve. não dá para comparar: Simone fala para as massas, tem carisma. Tereza fala para bolhas do agro, do bolsonarismo, é agregadora, de grupo, disciplinada; Simone é mais individualista, mas intelectualmente articulada.”

Tereza cultiva na política a imagem da direita moderada. Simone, ao se aliar a Lula, expande o MDB e se firma como alternativa equilibrada à polarização. Ambas têm capilaridade nacional — e se uma delas decidir disputar o governo em 2026, o tabuleiro das disputas muda radicalmente e a história política do Estado pode ser reescrita.



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