Do quintal de dona Maria às crianças de hoje, memórias viram contação de histórias
A história da arte-educadora Sueli Rocha Bonfim começou muito antes de ela pisar em uma sala de aula ou ser convidada para trabalhar no Bioparque Pantanal. Começou no interior de Minas Gerais, sentada aos pés da avó Maria Isabel, uma contadora de histórias nata, que transformava um ribeirão, um pé de árvore ou até uma rama de chuchu em aventuras cheias de fantasia.
A arte-educadora Sueli Rocha Bonfim transformou as histórias que ouvia de sua avó Maria Isabel em uma carreira dedicada à educação ambiental. Com formação em Artes Visuais e Pedagogia, ela utiliza técnicas narrativas para traduzir conceitos científicos em linguagem acessível às crianças. No Bioparque Pantanal, onde trabalha há três anos, Sueli desenvolve histórias que abordam temas como conservação e sustentabilidade, alinhadas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Utilizando recursos lúdicos e uma conexão única com seu público infantil, ela mantém viva a tradição familiar de contar histórias, agora com propósito educacional.
Era na casa onde cabiam mais de 30 primos que o mundo se abria diante dela. “Eu vivenciei o que as crianças hoje vivenciam por meio das histórias que eu conto. Quando você ouve uma história, sente emoção, sente algo preenchendo dentro de você. Eu era sempre preenchida com as histórias da minha avó”, lembra.
Esse estímulo lúdico, que moldou sua forma de sentir, imaginar e se conectar com o mundo, se tornou o fio condutor da carreira que ela nem sabia que estava começando ali, enquanto escutava a avó inventar narrativas colhidas da natureza e da própria vivência. “Ela buscava referências no ribeirão, nas árvores. Era ali na natureza que ela buscava os estímulos para contar as histórias”, detalha.

O hábito de contar histórias seguiu com Sueli por toda a vida. Primeiro, com os dois filhos. Depois, com os 15 sobrinhos, que até hoje associam as reuniões de família às noites ouvindo seus contos. Hoje, a tradição alcança a terceira geração, as três netas, entre elas Beatriz, de 11 anos. “A Beatriz eu acho que vai sair uma boa contadora de histórias. Está passando de geração em geração”, afirma.
Com formação em artes visuais e pedagogia, Sueli transformou o afeto das memórias em técnica e estudo. “Meu conhecimento empírico ganhou agora um campo científico”, define. Cada personagem que ela cria para suas histórias nasce de muita pesquisa, leitura e mergulho no universo infantil.
A natureza, que era matéria-prima das histórias da avó, continua sendo guia, agora com camadas de ciência e de educação ambiental pautadas nos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável).
Há três anos, Sueli foi convidada a integrar a equipe do Bioparque Pantanal. Segundo ela, a experiência foi única e transformadora. Lá, a professora encontrou incentivo, estrutura e público, um público exigente, afetivo e cheio de memória.
“Tem estudante que chega e lembra de alguma história que já me ouviu contar e fica na expectativa da história da vez”, revela.
Ao mesmo tempo em que despertam curiosidade, as narrativas carregam responsabilidade. No Bioparque, ela traduz temas científicos, como comportamento animal, conservação e sustentabilidade, para um vocabulário poético e acessível ao olhar infantil.

“Se eu levar muito científico para o pequenininho, ele não vai entender. Então eu transformo tudo isso em linguagem do pequeno, sempre conectando aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável”, explica.
Para isso, ela usa desde fantoches feitos com meia até recursos visuais simples, mas altamente simbólicos. “A criança entende que aquilo faz parte de um conjunto de ideias de que o mundo precisa para melhorar. Ela entende a responsabilidade que tem nesse processo”, avalia.
Quando entra em ação, Sueli diz que não vê mais nada ao redor. “Pode passar repórter, TV, a diretora do Bioparque, que eu não vejo. Eu me conecto com a energia das crianças”, afirma.
E são nesses momentos que ela sente ainda mais forte a ligação com a avó Maria Isabel. Com a mesma capacidade de transportar alguém para outra dimensão e abrir portas para a imaginação. “Minha avó conseguia fazer essa conexão. Contar histórias é levar alguém para outra dimensão”, relata.

Sueli afirma que contar histórias nunca foi apertar um botão. É entregar energia, atenção e cuidado. Entender cada grupo, respeitar sensibilidades e, ao mesmo tempo, provocar imaginação e consciência ambiental.
“A infância é muito pura. A criança usa a imaginação, e a gente precisa resgatar isso. Eu resgato por meio da lucidez, sem perder meu foco, que é a educação ambiental e sustentabilidade”, finaliza.
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