Sob ameaça dos EUA, Maduro reforça segurança pessoal com cubanos e muda estilo de aparições públicas

por Assessoria de Imprensa


O líder da Venezuela, Nicolás Maduro, reforçou sua segurança pessoal à medida que cresce, dentro e fora do país, a percepção de que os Estados Unidos podem lançar ataques militares contra alvos venezuelanos. Segundo reportagem do Financial Times, Maduro passou a realizar aparições públicas “cuidadosamente planejadas”, cercado por plateias selecionadas e acompanhado apenas por membros de escalões inferiores do partido. Trata-se de um contraste com anos anteriores, quando subia ao palco ao lado de ministros e generais de alta patente em encontros marcados com antecedência.

As mudanças ocorrem em meio a mobilização militar dos EUA no Caribe, que se tornou a maior concentração americana na região desde a Crise dos Mísseis de 1962, incluindo 12 navios de guerra, como o porta-aviões USS Gerald R. Ford, e mais de 15 mil militares. As Forças Armadas americanas já executaram, pelo menos, 21 ataques contra embarcações supostamente ligadas ao narcotráfico, que já deixaram mais de 80 mortos.

— Maduro está acionando os protocolos de segurança clássicos para quando uma pessoa está sendo ameaçada — afirmou o analista militar venezuelano José García ao Financial Times. — Se ele organiza um evento público, garante que haja centenas de pessoas, para que os Estados Unidos não ataquem sem antes passar por cima de muita gente.

A equipe de proteção direta de Maduro passou a ser composta majoritariamente por agentes cubanos. O presidente, que sobreviveu às sanções de “pressão máxima” impostas pelos EUA durante o primeiro mandato do presidente Donald Trump, teme que seguranças venezuelanos se tornem potenciais traidores, em meio a instabilidade dos salários pela inflação e de crescente desconfiança interna.

Dois agentes de inteligência venezuelanos, ainda em serviço, relataram ao jornal um clima de paranoia dentro das instituições de segurança.

— A suposição é que todos são traidores até que provem o contrário — afirmou um deles.

O outro agente afirmou que funcionários estão “bajulando chefes” para evitar perseguições políticas ou prisões na crise atual.

Havana há muito tempo fornece a Maduro, no poder desde 2013, e a seu falecido mentor populista, Hugo Chávez, assistência em segurança e inteligência.

As aparições públicas recentes do líder venezuelano contrastam com os grandes eventos dos anos anteriores. No último fim de semana, Maduro surgiu em um comício em Caracas cantando trechos de “Imagine”, de John Lennon, cercado por funcionários do setor público — enquanto nomes centrais do regime, como a vice-presidente Delcy Rodríguez e o ministro da Defesa Vladimir Padrino López estavam ausentes, cumprindo agendas paralelas em outras regiões do país.

Analistas ouvidos pelo Financial Times apontam que o afastamento de figuras-chave é deliberado, para evitar que toda a cúpula venezuelana seja atingida em um eventual ataque cirúrgico dos EUA.

Maduro acredita que a operação naval do governo Trump, aliada aos ataques contra embarcações, faz parte de uma estratégia de “mudança de regime”. O presidente americano já autorizou operações secretas da CIA no território venezuelano e se mantém ambíguo sobre ataques aéreos e terrestres.

Esta semana, Trump disse que “com certeza” expandiria os ataques dos EUA para alvos em terra, embora não tenha especificado que seriam na Venezuela.

A mídia americana revelou que autoridades venezuelanas chegaram a propor a Washington que Maduro renunciasse em dois ou três anos e oferecesse maior acesso às reservas de petróleo em troca da redução da pressão militar. A Casa Branca, porém, rejeitou a proposta.

Rota entre negociação e confronto

Maduro acompanha atentamente a escalada recente de crises internacionais, incluindo a guerra entre Israel e Irã, que terminou após bombardeios americanos a instalações nucleares. Para analistas, o episódio reforçou seu temor de que Washington esteja disposto a intervir militarmente.

— É uma situação caminhando para uma negociação definitiva ou para uma espiral de violência — avaliou o cientista político Daniel Arias em entrevista ao Financial Times.

Assim como Trump, Maduro se considera um negociador habilidoso. Ao longo de seus 12 anos no poder, ele consolidou o controle enquanto utilizava as negociações com a oposição venezuelana, os EUA e as potências regionais para ganhar tempo. Apesar de já ter usado negociações para ganhar tempo no passado — como nas tratativas de 2023 com o governo Biden — Maduro enfrenta a pressão mais aguda de seus anos no poder.

Integrantes do governo reconhecem que, se os EUA atacarem, o presidente terá de reagir “para não perder as aparências”, talvez invadindo a embaixada americana em Caracas, vazia desde 2019.

— Do contrário, ele ficaria em uma situação ridícula — afirmou um parlamentar o partido de Maduro.



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