O Senado dos Estados Unidos parece estar se aproximando de um avanço que poderia pôr fim à paralisação do governo (shutdown). Neste domingo, o senador John Thune, republicano da Dakota do Sul e líder da maioria, disse a repórteres que um acordo de gastos estava “se concretizando” e poderia ser votado já na noite de hoje. Segundo um assessor republicano informou à CNN, a expectativa é que o Senado vote o acordo entre 22h30 e 23h (horário de Brasília) de domingo.
- Em meio a ‘shutdown’: Governo Trump exige que estados ‘desfaçam’ trabalho para pagar integralmente auxílio-alimentação
- Impactos nos aeroportos: Mais de 1.500 voos são cancelados em segundo dia da ordem de redução de viagens
De acordo com a emissora, ao menos oito senadores democratas de centro chegaram a um entendimento com os líderes republicanos do Senado e com a Casa Branca para reabrir o governo, em troca de uma futura votação sobre a prorrogação dos subsídios ampliados do Affordable Care Act (Lei de Acesso à Saúde) — medida que enfrenta resistência dentro do próprio Partido Democrata. Se aprovado, o acordo irá pôr fim à paralisação mais longa da História americana.
Os republicanos, que controlam 53 votos no Senado, tentaram sem sucesso, nas últimas semanas, convencer democratas suficientes para aprovar um projeto de lei de gastos temporário. Até hoje, eles haviam conseguido o apoio de apenas três membros da bancada democrata — um número insuficiente para atingir o mínimo de 60 votos necessário para prosseguir.
As declarações de Thune sugerem que ele acredita que seu partido está prestes a conseguir o apoio de democratas suficientes para avançar. Isso seria um avanço notável, especialmente considerando que os republicanos se recusaram a atender à principal exigência dos democratas na luta contra a paralisação do governo: a prorrogação dos subsídios do seguro saúde da Lei de Acesso à Saúde (Affordable Care Act), que expiram no final do ano.
- ‘Shutdown’ nos EUA: Entenda o que é e os impactos da paralisação no país
Thune vinha expressando esperança há dias de que um acordo pudesse ser alcançado, e não estava claro se os democratas, que estavam divididos sobre como proceder, estariam dispostos a se juntar aos republicanos para avançar. Eles estiveram reunidos na noite de domingo para discutir os próximos passos, mesmo com o principal democrata da Câmara expressando indignação com o acordo emergente. Em uma declaração irada, o deputado Hakeem Jeffries, de Nova York, que é líder da minoria, afirmou que os democratas da Câmara se opunham a qualquer acordo nesse sentido.
“Agora parece que os republicanos do Senado enviarão à Câmara dos Representantes um projeto de lei de gastos que não prorroga os créditos tributários da Lei de Acesso à Saúde”, disse Jeffries em um comunicado, indicando que ele acredita que a proposta tenha apoio democrata suficiente para prosseguir. “Donald Trump e o Partido Republicano são responsáveis pela situação tóxica que criaram em nosso país, e o povo americano sabe disso”.
Os comentários de Thune, durante uma rara sessão de domingo, enquanto a paralisação se estendia para o seu 40º dia, seguiram-se a intensas discussões entre um grupo bipartidário de senadores moderados que buscavam um caminho para reabrir o governo.
À medida que o possível acordo se aproxima, o senador Tim Kaine, democrata da Virgínia, disse que votaria a favor da reabertura do governo após garantir a inclusão de uma cláusula no projeto de lei de gastos de curto prazo para reintegrar os funcionários federais demitidos aos seus cargos e assegurar que recebam os salários retroativos.
“Esta legislação protegerá os funcionários federais de demissões injustificadas, reintegrará aqueles que foram demitidos injustamente durante a paralisação e garantirá que os funcionários federais recebam os salários retroativos, conforme exigido por uma lei que aprovei em 2019”, declarou Kaine em um comunicado. “Esse é um passo crucial”.
O cerne do acordo emergente no Senado é um pacote de gastos — negociado discretamente por moderados de ambos os partidos — que inclui uma nova medida provisória para financiar o governo até janeiro, além de três medidas de gastos separadas para cobrir programas relacionados à agricultura, construção militar e agências legislativas durante a maior parte de 2026.
Os líderes da Comissão de Orçamento do Senado divulgaram neste domingo a medida de financiamento temporário, que inclui disposições que os democratas vinham pressionando discretamente para que revertessem as demissões de funcionários federais realizadas pelo presidente Trump durante a paralisação do governo e impedissem novas demissões em massa até janeiro. Os três projetos de lei de gastos individuais omitem a maior parte dos cortes profundos que Trump propôs em seu orçamento deste ano.
A proposta de Trump, por exemplo, teria eliminado o programa Alimentos para a Paz, que envia excedentes de colheitas americanas para comunidades afetadas pela fome e pela inanição em todo o mundo. A legislação do Senado destinaria US$ 1,2 bilhão (R$ 6,4 bilhões) para o programa, defendido por muitos republicanos de importantes estados agrícolas.
Os negociadores do Senado também rejeitaram uma proposta dos republicanos da Câmara para reduzir pela metade o financiamento do Escritório de Responsabilidade Governamental (GAO, na sigla em inglês), uma agência com cerca de um século de existência, criada para ajudar o Congresso a monitorar os gastos federais. O GAO determinou sete vezes este ano que as ações de Trump violaram as regras que o impedem de cancelar unilateralmente o financiamento, e a agência tem permissão, de acordo com a legislação vigente, para processar o presidente e obrigá-lo a liberar fundos retidos ilegalmente.
Em vez disso, os senadores responsáveis pela alocação de verbas propuseram manter o financiamento do GAO inalterado e descartaram uma cláusula que seus colegas da Câmara haviam proposto, a qual buscava impedir que a agência processasse a Casa Branca no futuro.
Os democratas passaram semanas exigindo que os republicanos concordassem em estender permanentemente os subsídios do seguro saúde em troca de seus votos para financiar o governo, mas o Partido Republicano se recusou a atender a essa condição. Na sexta-feira, o senador Chuck Schumer, de Nova York, líder da minoria, reduziu essa exigência, afirmando que os democratas votariam pela reabertura do governo se a legislação incluísse uma prorrogação dos créditos fiscais para saúde por apenas um ano. Os republicanos rejeitaram imediatamente a proposta, considerando-a inviável.
- Comida do lixo e busca em estoques: Americanos entre 42 milhões sem auxílio alimentação relatam dificuldades em meio a shutdown
À medida que os detalhes do possível acordo se tornaram claros no domingo à noite, democratas de todo o espectro ideológico já expressavam sérias preocupações. O senador Bernie Sanders, de Vermont, um independente que se alia aos democratas, disse, ao entrar nas sessões, que votar pela reabertura do governo sem a garantia de prorrogação dos subsídios para planos de saúde “seria um desastre político”.
A senadora Elissa Slotkin, de Michigan, democrata que participou inicialmente das negociações bipartidárias, também não se mostrou inclinada a apoiar tal medida.
— Eu sempre disse que precisamos fazer algo concreto em relação à saúde, e é difícil entender como isso aconteceu — disse ela.

