Ainda é cedo para saber quanto irá durar o clima de lua de mel que pairou no encontro desta quinta-feira entre os presidentes da China e dos Estados Unidos, Xi Jinping e Donald Trump. A tendência é que seja algo efêmero, considerando-se as diferenças fundamentais entre os dois países e a competição entre eles pela liderança global em diversas áreas. Mas de tudo o que transparece, dá para dizer que a China sai com um vitória clara, enquanto que os EUA celebram uma vitória com certo sabor de empate.
Para Pequim, o que estava em jogo nunca foi apenas o que havia sobre a mesa de negociação, mas um plano de redefinir as regras da relação com os EUA e com o Ocidente. É uma ideia antiga. A proposta foi feita em 2013, quando Xi estava apenas alguns meses no poder e teve seu primeiro encontro com o então presidente americano, Barack Obama. O modelo apresentado por Xi era de uma relação entre “grandes potências”, baseada em três pilares: respeito, não-confrontação e benefícios mútuos.
Obama concordou com os princípios, mas a partir de seu governo o esforço para conter a ascensão da China tornou-se a norma na política externa americana, além de consolidar um dos raros consensos bipartidários em Washington. Com a guerra comercial deflagrada em seu primeiro governo (2017-2021), mais as restrições ao acesso da China a tecnologias avançadas, Trump estabeleceu um novo patamar de rivalidade, que foi mantido por seu sucessor, Joe Biden. Mas o jogo agora parece mais equilibrado.
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“Trump diz que o presidente Xi é um grande líder de um grande país”, estampou o jornal estatal Global Times, vinculado ao Partido Comunista da China. A frase, dita por Trump no início do encontro de hoje, foi uma das várias demonstrações de respeito do presidente americano que parece ecoar a proposta de 2013 de Xi, de uma relação igualdade entre as duas potências. De Obama para cá, a China dobrou o tamanho de sua economia, tornou-se líder absoluta em setores críticos da cadeia de produção global e acumulou algumas cartas poderosas na manga para negociar com os EUA.
Entre elas, um dos trunfos mais eficientes para botar pressão sobre os americanos é o domínio chinês sobre o processamento e refino de elementos de terras raras e minerais críticos usados em produtos tecnológicos variados, de telefones celulares a sistemas de defesa militares. Pelo acordo anunciado nesta quinta, a China teria concordado em suspender por um ano as medidas de controle a exportações de terras raras anunciadas no mês passado, mas restrições anteriores baixadas por Pequim estão mantidas.
Em troca, Pequim obteve concessões importantes de Washington — redução de tarifas, suspensão de taxas portuárias a navios chineses e o congelamento de restrições que impediam o acesso de empresas chinesas a tecnologias americanas. Ao que parece, a China obteve isso sem grandes custos: além da flexibilização do controle de exportação a terras raras, concordou em retomar a importação de soja americana (pior para os produtores brasileiros). Ou seja, em ambos os casos apenas revogou medidas que havia tomado, “tirou o bode da sala”, como na velha piada, e voltou à situação anterior ao tarifaço.
Ficaram de fora alguns temas que Washington vinha considerando como prioritários, como a transferência do controle operacional do TikTok nos EUA para gestores americanos. Trump não tocou no assunto após o encontro com Xi e o ministério do Comércio da China apenas comunicou que irá trabalhar com os EUA para “resolver apropriadamente” a questão, mas sem fornecer mais informações ou um prazo. Outros detalhes do encontro desta quinta também podem ser considerados simbólicos de um movimento no equilíbrio de poder.
Em 2013, Xi foi aos EUA apenas três meses após ser empossado como presidente. Obama só foi à China mais de um ano depois. Agora, a ordem se inverteu. A bordo do Air Force One, após deixar a Coreia do Sul, Trump contou a repórteres que irá visitar a China em abril do ano que vem, e que Xi irá aos EUA “algum tempo depois”.

