Em sua curta passagem por Campo Grande, o estilista mineiro Victor Dzenk, 54 anos, me recebeu para um bate papo bem descolado a respeito da carreira e de novidades que vêm por aí. A conversa foi no lounge do Casablanca Adega e Bistrô, que estava na segunda edição do Mato Grosso do Sul Fashion Week. Confere aí:
Alsonews: Como começou o seu gosto pela moda? Há quanto tempo você atua?
Victor: Eu comecei muito novo quando minha mãe costurava e eu ficava na beirada da máquina olhando-a fazendo as coisas. Ela acabava fazendo para mim do jeito que eu queria e sempre contrariando o meu pai, que era militar. A gente vem de uma família militar, eu estudava em colégio militar. Mas já com 15 anos eu comecei a trabalhar na confecção do meu tio e também em outras confecções. Aos 19, fui morar e estudar em Paris. Quando voltei, já estabelecido com trabalho por aqui pois mantive conexões mesmo morando fora. Aí foi a hora de montar a minha marca. Comecei com uma marca de casual, onde eu fazia muita camiseta. A marca era a Perfecto. Quando Paulo Borges veio a Belo horizonte fazer o BH Fashion Week, ele me convidou, mas disse: venha para fazer com o seu nome, não com o nome fantasia. Então, em 1998 a marca Victordzenk nasceu. Depois fomos convidados a fazer o Fashion Rio, onde fiz mais de 30 de desfiles e também fiz o SPFW
Alsonews: Hoje você tem quantas coleções lançadas?
Victor: Essa é uma boa pergunta… Quantas eu já fiz até hoje? A gente faz em média 3 a 4 coleções por ano. Ano que vem, fazemos 30 anos de CNPJ. 30 vezes 3, 90. Por aí.
Alsonews: De onde vem as suas inspirações para cada coleção?
Victor: Cada coleção eu me inspiro em um tema. Normalmente busco temas regionais, temas que são genuínos, que falam da minha raiz, do meu país. Eu já falei do Nordeste, já falei do barroco mineiro, já falei da Amazônia. A próxima coleção de inverno eu vou falar da Gruta da Lapinha, que é a região que eu tenho o meu sítio, onde eu resido. Uma coisa que é o meu fio condutor, independente do tema que eu vá falar, é a mulher. Eu falo dessa mulher brasileira, que é uma mulher sensual, que está no mercado de trabalho, que é uma mulher dinâmica, pode ser dona de casa, mas é uma mulher que tem uma autoestima elevada, que gosta de chegar em um evento e ser notada, sabe? É a mulher que não passa despercebida não.
Alsonews: Você estreou no SPFW em 2014. A inspiração para esse desfile foi o cavalo mangalarga marchador. De onde veio essa ideia? O que o público presente no dia, conferiu na passarela? Sabemos que esse trabalho foi sucesso de críticas e elogios. A que fato você leva isso?
Victor: Então, quando a gente falou do mangalarga, é mais uma história genuína, pois nós criamos no nosso sítio. O mineiro tem essa ligação com o agronegócio muito forte. Então, quando a presidência do Instituto Mangalarga me convidou para fazer uma coleção inspirada na raça do cavalo, eu fiquei muito feliz em poder trabalhar com isso, pois eu tinha muito desejo em trabalhar com esse tema. E foi uma delícia fazer no inverno. Aí colocamos as texturas do pelo do cavalo, as franjas de seda lembrando a crina do cavalo. A seda é a matéria-prima essencial, em quimonos, saias, ponchos e calças, e aparece ao lado de peças de Neoprene, com a silhueta predominantemente alongada. A cartela de cores traz vários tons de marrom, como se fosse a nuvem de poeira que sobe da trotada dos cavalos em um fim de tarde no haras.
Alsonews: Como foi ter sido convidado a participar da segunda edição do MSFW? Como você enxerga a região pantaneira no cenário da moda?
Victor: Então, posso dizer que, quando veio o convite, automaticamente me veio um desejo de estar aqui, primeiramente a trabalho, mas também como turista, pois sou pesquisador. Onde vou, eu olho o comportamento das pessoas, eu to olhando a cultura local, eu to olhando a possibilidade de me inspirar em algum tema. Aqui é muito rico. Aqui tem o Pantanal, o Bonito, tem a própria beleza do agronegócio. Quem sabe essa viaja não surja uma coleção?
Alsonews: Já que esteve em Campo Grande, você não pensa em criar alguma coleção com a referência do Pantanal?
Victor: Eu fiquei admirado com as aves aqui. Eu sou apaixonado por aves. Eu trabalho com muita estamparia inspirada em plumagens. E o Pantanal é uma coisa que faz parte da minha história. Meu pai pescava aqui, e eu vim várias vezes com ele para cá. Então, quem sabe.
Confira as fotos do desfile de sexta-feira: