O clã passará a deter cerca de 4% do capital social da companhia, informou o Carrefour na quarta-feira, com Rodolphe Saadé juntando-se ao conselho de administração. Embora os termos financeiros não tenham sido divulgados, a participação que passa para as mãos da família francesa seria avaliada em aproximadamente € 390 milhões (US$ 452 milhões).
A transação ocorreu após a saída da Peninsula, o veículo de investimento do falecido empresário brasileiro Abilio Diniz, que revolucionou o varejo no Brasil ao combinar supermercados e lojas de departamento que ofereciam uma ampla gama de produtos. Ele foi o fundador do Grupo Pão de Açúcar.
As ações do Carrefour abriram em alta de 1,6% nas negociações iniciais em Paris nesta quinta-feira. O papel havia caído 10% nos 12 meses encerrados na véspera.
A fortuna da família Saadé — estimada em cerca de US$ 34 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index — vem de seu negócio de transporte marítimo e logística, a CMA CGM. No entanto, o clã bilionário expandiu-se desde então para outros setores, como aviação e mídia.
Véronique Albertini-Saadé, esposa de Rodolphe, lidera a divisão de comunicações da família, que inclui o controle do influente canal de notícias francês BFM TV e da popular estação de rádio RMC.
Com essa movimentação, os Saadé tornam-se o segundo maior acionista do Carrefour, atrás apenas da família Moulin Houzé, proprietária da rede de lojas de departamento Galeries Lafayette.
À primeira vista, não há sinergias claras entre os interesses da família Saadé e o Carrefour, segundo Geoffroy Michalet, analista da Oddo BHF, que observou que a família é mais conhecida por “sua entrada na Air France-KLM na primavera de 2022, bem como em M6 e Eutelsat”.
A saída da Peninsula também encerra o envolvimento da família Diniz de mais de uma década no Carrefour, que vem enfrentando dificuldades em um mercado alimentar altamente competitivo na França.
“Após uma década de forte parceria, a decisão da Peninsula de desinvestir sua participação no Carrefour faz parte da nova estratégia de alocação de ativos do fundo”, disse o presidente da Peninsula, Eduardo Rossi, em comunicado.
A Peninsula detinha uma participação de 9,2% no Carrefour, representando cerca de 15,7% dos direitos de voto no fim de 2024, segundo o relatório anual da rede varejista. A saída da Peninsula significa que as cadeiras no conselho ocupadas por Rossi e Flavia Buarque de Almeida serão desocupadas.
Brasil e França respondem pela maior parte do lucro do Carrefour, mas ambos os mercados enfrentam dificuldades. Em outubro, a empresa registrou vendas fracas no terceiro trimestre, impactadas por cortes de preços na França e pelas altas taxas de juros que reduziram a demanda dos consumidores no Brasil.
“Embora entendamos que o Carrefour busca simplificar sua estrutura acionária vendendo operações em alguns países e possa relançar um programa de recompra de ações, a situação na França continua desafiadora e as tendências mais recentes no Brasil não são animadoras”, afirmou Michalet, da Oddo.

