Projeto faz de mulheres semeadoras da ciência

por Assessoria de Imprensa


Uma iniciativa está promovendo a capacitação e inserção de mulheres pesquisadoras no Brasil. O projeto Mulheres na Ciência e Inovação (MCI) tem o objetivo de fomentar pesquisadoras nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). Como é focado na formação das pesquisadoras, o programa oferece palestras e oficinas que abordam temas referentes ao empreendedorismo, inovação, liderança, autoconfiança, captação de recursos e questões presentes no contexto da mulher na ciência.

A coordenadora da Escola de Ciências do Amanhã, Joana Guedes, explicou ao Correio que iniciativas como essas têm grande relevância no fortalecimento da presença feminina na ciência. “Ao criar um ambiente de aprendizado, trocas e fortalecimento de redes, o MCI apoia as participantes no impulsionamento de seus projetos, fortalecendo o papel da mulher na ciência e no empreendedorismo”, observa.

Uma das etapas da capacitação foi realizada de forma presencial no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, em maio. Joana disse que, além do conteúdo teórico, houve o desenvolvimento de habilidades essenciais para o empreendedorismo, como: networking estratégico, para construir conexões valiosas no meio acadêmico e empresarial; desenvolvimento de produtos com foco na criação de um produto mínimo viável (MVP) e identificação de oportunidades de mercado; e comunicação e posicionamento, para que as pesquisadoras saibam como apresentar seus projetos para investidores e parceiros.

O curso também abordou gestão financeira e captação de recursos e modelagem de negócios e pitch (que é a apresentação, breve e direta, de um negócio, produto ou ideia, para despertar o interesse de um público-alvo). “Ao fortalecer essas competências, o MCI não apenas impulsiona carreiras individuais de mulheres pesquisadoras, mas, também, contribui para um ecossistema de inovação mais diverso, justo e inclusivo”, destaca Joana.

Ela frisa que o programa busca fortalecer a rede de apoio e cooperação entre as pesquisadoras participantes do projeto, o que facilitará a entrada e permanência dessas mulheres em um mercado “ainda predominantemente masculino”. Como resultado, o programa conta com o patrocínio da Shell e é realizado, desde 2019, pelo British Council. Ao todo, foram realizadas seis edições com a participação de mais de 500 pesquisadoras de todo o Brasil.

“Muitos projetos nasceram e se fortaleceram a partir dessa iniciativa. O programa vem sendo avaliado de forma muito positiva pelas participantes, muitas das quais enxergam sua trajetória como um antes e depois de passar pela formação. Em 2025, foi realizada a etapa Fazendo Acontecer, uma versão mais aprofundada e presencial no Museu do Amanhã. Essa fase foi voltada para mulheres que já haviam participado de alguma das edições on-line, e teve mais atividades práticas e um olhar individual sobre cada projeto e seus desafios”, ressalta Joana.

Uma das alunas formadas pelo Museu do Amanhã é Lourdes Brazil, moradora de São Gonçalo (RJ). A pesquisadora e economista descobriu, mais de 30 anos atrás, uma área de Mata Atlântica naquele município do Grande Rio e resolveu iniciar um trabalho de educação ambiental para as crianças da região.

“No final de 1989, descobri uma área, um fragmento de Mata Atlântica muito degradado, aqui, em São Gonçalo, mas que era muito bonito porque tinha um resquício de vegetação, um riacho e alguns animais. A gente começou levando alunos e fazendo um trabalho bem simples de educação ambiental, que era, basicamente, de sensibilização, de colocar as crianças em contato com a natureza”, relata.

Contudo, foi a partir de 2002 que o projeto ganhou cara nova. Lourdes e seus colegas começaram um trabalho de recuperação da cobertura vegetal do fragmento de Mata Atlântica e, hoje, são mais de mil mudas de pau-brasil plantadas no local. O grupo também plantou outras espécies comuns do bioma e, com trabalhos desenvolvidos ali, em 2010 conseguiram uma parceria com o Sesc (Serviço Social do Comércio), que ajudou na guinada para a criação de um centro de educação ambiental com personalidade jurídica — o Centro Gênesis.

“Hoje as árvores já estão adultas, dão mudas e é possível encontrar algumas mudinhas perdidas pelo chão”, exulta.

Ilha de ar fresco

O projeto deu tão certo que o fragmento de Mata Atlântica tornou-se um bosque denso. Os moradores começaram a perceber que a região estava mais fresca e o ar parecia mais puro. O Centro Gênesis convidou um biólogo e um geógrafo que constataram que o espaço recuperado havia se tornado uma ilha de frescor na região. “Um dos primeiros resultados foi a constatação de que, ali, tinha se formado uma ilha de frescor — áreas frescas em lugares de muito calor. São Gonçalo é um dos municípios com temperaturas mais altas do estado do Rio de Janeiro e quando as pessoas chegavam, viam que era mais fresco e agradável. Começou-se a pesquisar alguns bioindicadores e vimos que o centro tinha se transformado num laboratório vivo, onde era possível fazer uma série de atividades”, explica Lourdes.

A área é aberta para visitação e, além do trabalho de educação ambiental que o projeto faz com os moradores, criaram o Ecomuseu da Mata Atlântica, com espaço para o público visitar e passar o dia em contato com a natureza. Junto a 90 jovens, o projeto realizou uma pesquisa que teve capítulos publicados no Brasil e no México. Segundo Lourdes, esse resultado mudou a percepção dos participantes sobre o bairro onde moram.

Já a mestre em ciências e tecnologias ambientais e doutoranda em ciência Aline Santos Martins aplica a robótica como ferramenta educacional para crianças da educação infantil, como forma de ensinar ciência. Ela desenvolveu oficinas e materiais didáticos com robótica para que as crianças entendam os conceitos abstratos do ensino da ciência de forma mais prática e acessível. Hoje, ensina outros professores sobre como replicar as atividades para as suas turmas.

Para Aline, participar do programa no Museu do Amanhã foi essencial no desenvolvimento de suas atividades. O programa permitiu que a pesquisadora conhecesse outras cientistas, pudesse melhorar projetos e colaborar com outras mulheres, como forma de fomentar ainda mais o espaço feminino na ciência.

“Conheci mulheres do Brasil todo fazendo pesquisa, trabalhando com engenharia civil, informática, trocando conhecimento e aprendendo. O museu foi uma forma de a gente conseguir enxergar outras mulheres fazendo pesquisas importantes”, ressalta.

 


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