Em parecer sigiloso enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu o arquivamento de um pedido de intimação do ministro Alexandre de Moraes feito pela rede social Rumble e pela Trump Media, empresa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Segundo o blog apurou, a PGR se posicionou contra o pedido do Rumble e da Trump Media para que Moraes seja notificado aqui no Brasil de uma ação movida contra ele nos Estados Unidos, sob a alegação de que as decisões do ministro só podem ser contestadas perante a Justiça brasileira.
Em uma ofensiva de Trump contra Moraes, as plataformas acionaram em fevereiro deste ano a Justiça americana para barrar decisões do ministro que determinaram a remoção de perfis bolsonaristas, sustentando que as ordens representam censura e perseguição judicial.
Só que o processo empacou por lá porque Moraes ainda não foi oficialmente intimado. O impasse levou as empresas a recorrerem à Justiça brasileira para que o ministro do Supremo seja formalmente notificado, o que permitiria destravar o caso na Flórida.
O pedido está desde agosto no STJ, a quem cabe homologar decisões estrangeiras (como no caso Robinho) e analisar as chamadas “cartas rogatórias”, que são uma espécie de cooperação jurídica internacional em que se pede a um país para realizar um ato processual como intimar ou ouvir uma pessoa que mora no exterior.
No parecer, a PGR aponta que a ação que tramita na Justiça americana trata de “atos de Estado”, ou seja, de decisões que Alexandre de Moraes tomou na condição de integrante do Supremo. Para a PGR, os atos de gestão de um Estado (no caso, o Brasil) não podem ser submetidos à jurisdição de um outro país (os Estados Unidos).
Já que as decisões de Moraes de remoção de perfis bolsonaristas são “atos jurisdicionais brasileiros”, as decisões do Supremo só poderiam ser contestadas por aqui. Caso contrário, isso representaria uma ofensa à soberania nacional, sustenta a PGR.
Relembre o dia da cerimônia de posse do presidente Donald Trump, no Capitólio, Washington, DC
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Presidente dos EUA Donald Trump bate continência para tropas no Capitólio, Washington, D.C, durante cerimônia de posse — Foto: Greg Nash / POOL / AFP
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Donald Trump faz juramento na cerimônia de posse para presidência, no dia 20 de janeiro de 2025 — Foto: Chip Somodevilla / AFP
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Elon Musk discursa durante evento a apoiadores de Trump no dia da posse do presidente americano — Foto: Christopher Furlong/Getty Images/AFP
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O CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, gesticula enquanto fala durante o desfile inaugural dentro da Capitol One Arena, em Washington, DC, em 20 de janeiro de 2025 — Foto: ANGELA WEISS/AFP
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Donos das big techs na posse de Trump — Foto: Chip Somodevilla / POOL / AFP)
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O presidente da Argentina, Javier Milei, durante a cerimônia de posse de Donald Trump, em Washington — Foto: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
Donald Trump assumiu a presidência dos EUA no dia 20 de janeiro de 2025
A Procuradoria também alerta para os riscos à independência judicial brasileira com um eventual controle de decisões do STF pela Justiça americana.
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Na visão da PGR, isso ofenderia compromissos na área de direitos humanos assumidos pelo Brasil no Pacto de San José da Costa Rica e no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e os Princípios Básicos das Nações Unidas sobre a Independência do Poder Judiciário.
O caso está nas mãos do presidente do STJ, ministro Herman Benjamin, que vai decidir se concorda ou não com a posição da PGR.
Não há prazo para Herman tomar a decisão, mas o regimento interno do STJ prevê a recusa da carta rogatória quando o pedido “ofender a soberania nacional” – justamente um dos principais argumentos levantados pela PGR ao defender o arquivamento do pedido.
Para o advogado norte-americano Martin De Luca, que defende o Rumble, o “Brasil tem a obrigação de intimar Alexandre de Moraes”.
“Adiar a intimação para proteger o ministro Moraes só reforça o cerne da nossa ação que ele exerce poder sem nenhuma responsabilidade. O Estado de Direito exige que Moraes seja citado e que o processo siga adiante”, disse ao blog.