Sempre quando a OCDE divulga seu relatório anual Education at a Glance, um dado ganha destaque na cobertura da imprensa: o diferencial de renda de quem alcança o ensino superior. A edição de 2025, lançada na semana passada, mostra que brasileiros com diploma universitário recebem, em média, 148% a mais do que aqueles com apenas o nível médio. Na média da OCDE, essa variação é de 54%. O diferencial brasileiro — superado apenas por Colômbia e África do Sul — é explicado principalmente pelo acesso ainda restrito ao ensino superior num país extremamente desigual.
Esse dado, porém, não permite concluir que um brasileiro, ao se graduar, receberá 148% a mais caso possuísse somente o diploma de ensino médio. Além de ser uma média, a estatística da OCDE — retirada de pesquisas do IBGE — apenas compara o nível de renda entre dois grupos de escolaridades distintos. Só que esses grupos, antes mesmo do ensino superior, já são muito diferentes do ponto de vista socioeconômico, e esse é um fator de reconhecido impacto na renda adulta e acesso a oportunidades de trabalho. Ou seja, a diferença salarial observada, em boa medida, poderia ser explicada por outros fatores, e não apenas pela obtenção do diploma.
Um estudo dos pesquisadores Fernanda Estevan (FGV), Renato Vieira (USP), Pedro Teixeira (USP), Mateus Rodrigues (FGV) e Carlos Azzoni (USP) contribui para o debate ao acompanhar a trajetória de 171 mil estudantes utilizando o Enem, o Censo da Educação Superior e a Rais (base de dados com informações sobre salários no mercado formal). A pesquisa, citada pelo economista Naercio Menezes Filho em sua coluna no jornal Valor Econômico, compara indivíduos com características similares (do ponto de vista socioeconômico e do desempenho no Enem) e estima que o prêmio salarial do diploma universitário é de 31% para quem fez universidade pública, e de 16% no caso de instituições privadas com fins lucrativos, ou 17% em filantrópicas.
O valor adicionado por um diploma de ensino superior no mercado formal, porém, varia muito de acordo com o perfil individual e do curso concluído. O ganho é maior para mulheres em relação aos homens, e para brancos na comparação com negros. Concluintes de cursos privados de Tecnologias da Informação e Comunicação observam um retorno médio do diploma de 29%, enquanto aqueles, igualmente em instituições particulares, nas áreas de Artes e Humanidades não registram nenhum ganho significativo na comparação com seus pares que apenas completaram o ensino médio.
Se os diferenciais reais do diploma universitário são bem menores do que suporíamos a partir dos dados da OCDE ou do IBGE, do ponto de vista financeiro, vale a pena o investimento no diploma? Em geral, sim. O artigo estima que o ganho de renda para egressos de faculdades com fins lucrativos seria 61% maior do que os custos das mensalidades. Mas, como já constatado, essa resposta vai variar de acordo com o perfil do curso e da instituição.
Ainda que o estudo utilize uma metodologia mais precisa para estimar o valor adicionado pelo diploma, há algumas limitações a serem consideradas. Uma delas é que a comparação se restringe aos trabalhadores com carteira assinada, sete anos depois de seu ingresso no curso superior. Pode ser que, no setor informal, o retorno do diploma seja diferente. Tampouco é possível, pela metodologia, calcular a taxa de desocupação. E seria também importante continuar acompanhando a trajetória ao longo da vida, bem como considerar outras vantagens que um diploma pode trazer na sociedade.
Apesar dessas ponderações, a estimativa de retorno no mercado formal é um dado tão relevante que, em debate na XIII Reunião da Associação Brasileira de Avaliação Educacional, Naercio Menezes Filho questionou se essas informações não deveriam constar do sistema oficial de avaliação do ensino superior brasileiro.