Meu primeiro encontro com Moacyr Luz para documentar os momentos antes da cirurgia cerebral contra o Parkinson e o impacto do procedimento na doença foi em 11 de outubro. Faltavam apenas três dias para a operação acontecer. Na hora exata combinada, 18h30, ele chegou ao local marcado, o Dois-Dois, em São Paulo, onde faria um show em seguida. Apareceu na porta da sala onde eu e o fotógrafo Edilson Dantas estávamos, ficou parado por alguns minutos e veio até mim andando com bastante dificuldade, amparado por uma pessoa. Se acomodou lentamente na poltrona, pediu água. A cuidadora lhe deu na boca, em copo de plástico. Ele olhou para mim e falou: “agora estou aqui, vamos começar”.
Luz contra o Parkinson
Ao longo 20 minutos, Moa detalhou como os sintomas da doença tinham acelerado nos últimos meses e contou da quase desistência dos palcos causada pelos tremores e rigidez no corpo. Falou da fé imensa depositada na cirurgia e brincou dizendo que o grande sonho no pós-operatório era roubar comida da geladeira e beber escondido. Naquele dia ele subiu aos palcos, mas foi embora pouco depois com o corpo exausto, levado por duas pessoas até o carro.
A cirurgia foi feita no dia 14, pelo neurocirurgião Erich Fonoff. Foram implantados dois eletrodos no cérebro de Moa, cada um com 8 pontos de contato. Os pontos têm a função de emitir impulsos elétricos para regularizar o funcionamento dos neurônios doentes. Eles serão acionados aos poucos, ao longo dos meses depois do procedimento, pelo médico, até os sintomas do Parkinson reduzirem drasticamente.
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Na primeira segunda-feira depois da operação, dia 20, o fotógrafo Alexandre Cassiano foi à casa do músico, no Rio. Ele abriu a geladeira, tirou a tampa de um pote de plástico, comeu mamão e tomou mate, tudo absolutamente sozinho. Poucas horas depois, foi ao Renascença Clube, no dia do Samba do Trabalhador. Subiu no palco, foi ovacionado pela plateia, mas não tocou. Disse que voltaria em breve.
Meu segundo encontro com Moa, de novo em São Paulo, foi na consulta de retorno com o neurocirurgião Fonoff, no dia 22, uma quarta-feira. Ele estava acompanhado por Marluci Martins, sua mulher. Era outra pessoa. Levantou sozinho para me cumprimentar. Tomou um copo inteiro de água com as próprias mãos, andou sem ajuda pela sala de espera. Entramos com eles na consulta para testemunhar o médico aumentar pela primeira vez a potência dos pontos elétricos cerebrais. Foram 3 pontos acionados, mas ainda com a frequência baixa. Os tremores nos braços e mãos reduziram nitidamente.
Na segunda-feira seguinte, dia 27, depois de duas semanas sem tocar, ele liderou magistralmente o show do Samba do Trabalhador, no Renascença. Começou tocando “Anjo da Guarda”, com a qual abre as rodas, todas as semanas no local. Há dois dias, emocionou uma multidão que o assistiu no Arena Jockey, no Rio, ao lado Jorge Aragão e Xande de Pilares, com uma performance física extraordinária, há bastante tempo não vista.
As melhores risadas e emoções dos encontros nesse período e a transformação vitoriosa de Moacyr Luz estão no vídeo desta reportagem.

