O Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) foi cenário de um ato de violência na última sexta-feira, quando um servidor da unidade no Maracanã, Zona Norte do Rio, matou a tiros duas funcionárias e se suicidou em seguida. Além de gerar consternação, o ataque resgatou na memória da comunidade outro episódio traumático. Em 1998, a professora Maria de Fátima Oliveira Pascarelli, de 46 anos, teve a mão direita arrancada ao abrir um pacote onde havia uma bomba enviada para ela.
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Naquela terça-feira, 23 de novembro de 1998, Pascarelli tinha ido à escola apenas para buscar objetos pessoais, já que havia se aposentado dias antes. Ela era a única pessoa na sala da coordenação de matemática por volta das 11h, quando abriu a caixa que chegara à escola embrulhada em papel de presente com um cartão impresso dizendo: “Para Fátima”. A explosão fez tremer o prédio e estilhaçou o vidro de várias janelas. Testemunhas viram a docente saindo de uma cortina de fumaça aos prantos e com a mão decepada. Ela foi levada às pressas para o Hospital Municipal Souza Aguiar.
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O espanto gerado pelo atentado foi agravado quando foi divulgado que, um mês e meio antes, uma bomba havia sido tirada da parte de baixo do carro dela por um guardador de automóveis. O artefato foi entregue à direção do Cefet, e a Pascarelli chegou a ser avisada, mas absolutamente nada foi feito. Quando o explosivo arrancou a mão da professora semanas mais tarde, a bomba removida antes não tinha sequer sido enviada para a polícia e estava guardada em um armário da unidade. De acordo com as matérias da época, as duas bombas eram de fabricação caseira, mas muito bem produzidas.
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O então ministro da Educação, Paulo Renato Souza, lamentou o ataque e disse que ia acompanhar de perto as investigações da Polícia Federal. Suspeitava-se de alunos, mas o culpado não foi encontrado. Em junho de 1999, o Jornal O GLOBO publicou uma reportagem informando que outras duas bombas haviam sido encontradas no Cefet após a explosão do ano anterior. Na época, a professora Pascarelli ainda sentia as dores da mão decepada e se perguntava quem havia sido o responsável.
“O momento em que a bomba explodiu não sai da minha cabeça. A angústia de ver minha mão se desfazer também é presente. Quem fez isso e qual o motivo? Ainda não tenho essa resposta”, disse a professora durante uma entrevista ao GLOBO, explicando que vinha tentando superar o trauma e, ao mesmo tempo, aprendendo a escrever com a mão esquerda. “É uma aprendizagem dolorosa. Sinto dor na mão direita como se ela ainda existisse. É o que os médicos chamam de dor fantasma”.
A docente moveu uma ação na Justiça contra a União. Somente em maio de 2004, a 5ª Vara Federal decidiu que Pascarelli deveria ser indenizada pelo ocorrido. Naquela época, ela já não lecionava mais e ainda era obrigada a fazer fisioterapia durante pelo menos seis meses por ano.
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