O Grupo Fictor, que anunciou proposta de compra do Banco Master, quer afastar a instituição do segmento do investidor de varejo e “posicioná-la no mercado internacional”, disseram os três principais sócios da holding à coluna. A operação seria protocolada na noite desta segunda-feira junto ao Banco Central, que, assim como o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), foi avisado previamente do negócio, sustentaram Rafael Gois, Rafael Paixão e Phillippe Rubini. A transação ainda precisa de aval regulatório — há alguns meses, o BC travou a venda do Master para o BRB.
O grupo brasileiro disse ter formado um consórcio com investidores dos Emirados Árabes Unidos para comprar o Master e fazer um aporte imediato de R$ 3 bilhões. Os nomes desses investidores serão revelados, segundo os sócios do Fictor, diretamente de Dubai na próxima sexta-feira.
A transação abrange a compra de 100% do Banco Master S.A., que concentra, segundo o Fictor, cerca de R$ 30 bilhões dos CDBs emitidos pelo conglomerado de Daniel Vorcaro e ativos como precatórios, consignados e investimentos estruturados (como a participação em empresas de capital fechado).
O Master também emitiu CDBs por meio de outras empresas, como o Will Bank, que não fazem parte dessa transação. Mas os sócios da Fictor afirmaram que seu negócio sairá de “maneira concomitante” com a venda do Will Bank e do Banco Master de Investimento a outros investidores “ainda esta semana”. Segundo eles, não há qualquer coincidência de investidores nessas três transações.
A despeito da preocupação do mercado com a solvência do Master, os sócios do Grupo Fictor sustentam que o balanço é saudável e que será possível honrar o volume bilionário de CDBs emitidos a taxas elevadas.
— Estimamos em R$ 30 bilhões o tamanho dos passivos de CDBs, mas o ativo do banco, segundo nossas contas preliminares, é da ordem de R$ 45 bilhões. E ainda há ativos, como alguns precatórios, que, na nossa avaliação, estão subavaliados. Logo, consideramos a relação entre ativo e passivo controlada. Não vemos dificuldades (com CDBs) — afirmou Rafael Paixão.
De acordo com os sócios, o Master tem um patrimônio líquido de cerca de R$ 7 bilhões, que será aumentado para R$ 10 bilhões após o aporte planejado.
— Já conhecíamos o negócio porque também atuamos em consignado e, primeiro, nos interessamos por precatórios. Durante o processo, vimos que havia mais pontos de convergência do que de divergência na mesa. Há uma sinergia clara, já que um dos pontos fortes da Fictor é contar com mais de mil assessores comerciais (os antigos “pastinhas”) que geram negócios como consignados, e o Master não conta com uma rede desse tipo — observou Rafael Gois.
Embora digam que já tenham realizado due diligence no Master, os sócios do Fictor afirmam ainda estar apurando o valor final pelo qual o banco foi avaliado na transação.
— Vai depender da marcação exata dos passivos e ativos do balanço. Só teremos uma dimensão exata após entrarmos na operação — disse Paixão.
De acordo com o sócio, se a transação for aprovada, o objetivo é fazer uma “transição” no perfil do banco:
— Queremos migrar o negócio, que hoje é focado em varejo, CDB e plataforma, rumo ao segmento do cliente de wealth (gestão de fortunas) e do mercado exterior, com produtos como a emissão de bonds internacionais.
Essa é uma das razões pelas quais o Fictor vai indicar como novo presidente do banco Antonio Oliveira Neto, que trabalhou no Master entre 2017 e 2019 e também atuou em bancos internacionais como JP Morgan e HSBC.
‘Vantagem’ diante do BC
O Fictor terá como primeiro desafio convencer o BC sobre as vantagens da operação. Mas os sócios estão confiantes de que o negócio terá mais facilidade de ser aprovado do que a transação com o BRB, que acabou vetada após cinco meses de análise.
— (Nossa vantagem) é muito mais ligada à questão do perfil do grupo de compra. O BRB tinha dinheiro público, discutia-se muito quem era maior ou menor entre os dois, e havia a questão da narrativa do controlador em geral. Agora, é um consórcio novo, que tem lastro, com dinheiro privado, e que trará novos controladores, com a saída total do Daniel (Vorcaro) — defendeu Paixão.

