A tendência dos “estúdios” está chegando à quadra da praia mais cara do Brasil — para consternação de alguns vizinhos (e humor de muitos internautas). Nas últimas semanas, em perfis como o Suburbano da Depressão, viralizaram protestos com cartazes do tipo “Querem destruir o Leblon”, cujo alvo era um empreendimento na Rua Almirante Guilhem que terá apartamentos compactos a 150 metros do mar. Para quem assiste de fora, soou como um drama exagerado em cenário de novela das nove… Mas os moradores queixosos temem a “Airbnbização” de um bairro familiar, onde as unidades costumam ser amplas, custar milhões e até hotéis são escassos para o padrão da Zona Sul do Rio.
O dono da construtora por trás do projeto, porém, defende os lançamentos com plantas reduzidas e afirma que a Mozak está apenas reagindo à demanda do mercado, que mudou diante de famílias menores e novos padrões de uso dos imóveis.
— Não estamos fazendo Airbnb! — argumenta Isaac Elehep. — O Rio está sendo redescoberto por um público multimilionário, que não quer ficar em hotel. Esse cliente quer ter seu próprio apartamento na cidade, investe em mobiliário de altíssimo padrão e não quer ninguém dormindo na cama dele. Pode ser que uma ou outra unidade seja alugada, mas o fenômeno da locação de estúdios para curta temporada não será uma tendência no Leblon.
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Não que a Mozak não tente atrair compradores que desejam “monetizar” os apartamentos. O vídeo oficial de apresentação do Guilhem Mozak, no site da construtora, afirma que as unidades são “ideais para uso pessoal e também para locação”. A peça também cita “altas taxas de retorno da locação short stay (curta duração)” e a perspectiva de “rentabilidade líquida mensal acima de 1%”. Um dos depoimentos é de um sócio da Lobie, startup especializada em aluguel de curta duração.
Mas Elehep sustenta que o aluguel não é o foco e que o plano da construtora é flexibilizar a oferta para “satisfazer o desejo do cliente”. Segundo ele, a Mozak está adotando um sistema modular, com plantas que começam em 50 metros quadrados (maiores que a média dos “estúdios”) e podem ser ampliadas de acordo com o pedido do freguês.
— A pequena família não pode morar no Leblon? E o jovem solteiro? Essa tipologia não precisa ser Airbnb. Se o apartamento custar de 10 a 15 mil o metro quadrado, o dono vai colocar para alugar. Se for mais caro que isso, que é definitivamente o caso do Leblon, é mais provável que ele deixe o imóvel fechado quando não estiver usando — afirma o dono da Mozak, que diz não temer um esvaziamento do bairro por causa disso.
‘Leblon voltará a ser bairro mais caro da AL’
Segundo Elehep, a flexibilização está se impondo até em projetos que custam dezenas de milhões. No Estância Pernambuco, o condomínio de casas que será erguido no lugar da mansão mais cara do Brasil, a Mozak reduziu o tamanho dos lotes a pedido dos clientes. O Valor Geral de Vendas (VGV) total do empreendimento no Jardim Pernambuco, enclave que também fica no Leblon, é de R$ 300 milhões.
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— Originalmente, faríamos oito lotes com áreas entre 2 mil e 3 mil metros quadrados. Mas os clientes pediram espaços menores e resolvemos fazer dez lotes. Ainda são terrenos enormes, com mais de 1,5 mil metros quadrados, mas isso mostra que, mesmo em um público disposto a pagar R$ 30 milhões por um imóvel, há uma tendência de busca por espaços menores — observa, acrescentando que sete dos dez lotes já foram vendidos.
De todo modo, críticos e entusiastas só ficarão sabendo se o Leblon tem vocação para Airbnb quando o projeto da Mozak ficar pronto. Por ora, o que se sabe é que há demanda forte vinda de fora do Rio. Mais de 45% das vendas da Mozak hoje são feitas para estrangeiros ou brasileiros de outros estados, contra 20% no pré-pandemia.
Para Elehep, isso é reflexo da recuperação do Rio:
— Estamos no meio do boom imobiliário do Leblon. Ele vai voltar a ser o bairro mais caro da América Latina, posto que acabou sendo ocupado por algumas áreas de São Paulo. Em 2023, as vendas ficavam em R$ 25 mil o metro quadrado. Este ano, já estão em R$ 55 mil. No empreendimento da Almirante Guilhem, vão ficar entre R$ 70 mil e R$ 80 mil.