Morre José Mendonça, jornalista e fundador do curso de Comunicação na UFMG

por Assessoria de Imprensa


O professor, jornalista e líder sindical José Mendonça morreu aos 107 anos, nesta terça-feira (21/10). Ele é um dos nomes mais importantes da história da imprensa e do ensino da área de jornalismo em Minas Gerais, tendo lecionado na UFMG.

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O velório é nesta quarta-feira, no Cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte (MG), na Capela 5, de 13h30 às 16h30. O sepultamento ocorrerá em seguida. José foi casado com Maria Teresa, falecida em abril de 2020, e pai de Teresa Cristina, Francisco José, Maria de Fátima, Pedro Luís e Luís Eugênio. A família ainda tem 13 netos e 3 bisnetas.

“Papai foi um homem simples e muito trabalhador. Viveu para a família. Amava seu ofício e nos deixou um legado de retidão e honestidade. Ele e mamãe foram casados por 63 anos, com muito amor e carinho mútuo. Nos ensinou a alegria de viver – adorava uma festa – o prazer de viajar e a paixão pelo conhecimento. O amamos muito e para sempre! Teve um final de vida digno e tranquilo. Faleceu de morte natural e em casa”, afirma Teresa Mendonça, filha de José.

Nascido em 22 de dezembro de 1917, José Mendonça dedicou sua vida ao jornalismo e à formação de profissionais na área da comunicação. 

Foi um dos fundadores do primeiro curso de Comunicação Social de Minas Gerais, o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), inaugurado em 1961 como Curso de Jornalismo. A criação teve também a participação dos colegas Adival Coelho e Anis Leão, consolidando o estado como um dos polos pioneiros do ensino superior em comunicação no país.

Referência acadêmica, Mendonça lecionou na UFMG de 1962 a 1990, marcando gerações de jornalistas mineiros. Entre 1971 e 1974, assumiu a direção do Curso de Comunicação Social, contribuindo para o fortalecimento institucional e acadêmico da área.

Além da trajetória universitária, José Mendonça teve uma carreira sólida na imprensa. Foi diretor de Redação do jornal O Diário por décadas e chefe da sucursal do jornal O Globo em Belo Horizonte, posições que o consolidaram como uma liderança respeitada no jornalismo mineiro.

Também foi um dos fundadores do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais e o segundo presidente da instituição, entre 1951 e 1953.

Carreira

Natural de Alfenas (MG), José Mendonça era formado em Direito. Começou a carreira no jornalismo em 1938, no O Diário, onde construiu trajetória marcante. O veículo pertencia à Mitra Diocesana de Belo Horizonte e foi considerado um dos jornais católicos mais importantes do país. Mendonça exerceu o cargo de diretor de Redação por muitos anos, tornando-se uma das vozes mais influentes da imprensa mineira do século XX.

Foi correspondente dos jornais O Globo e Diário de Notícias — o primeiro, vespertino e o segundo, matutino —, cobrindo política e assuntos nacionais a partir de Minas Gerais. Também trabalhou na Editora Agir, colaborando na produção de livros, e foi assessor de imprensa da Secretaria de Educação durante o governo de Juscelino Kubitschek.

Durante muitos anos, conciliou uma rotina intensa que ele mesmo descrevia como uma “tríplice atividade”: era diretor de Redação de O Diário, chefe da sucursal de O Globo em Belo Horizonte e professor da UFMG. “Trabalhava de manhã, de tarde e de noite”, recordava-se com humor em entrevistas.

Curso de comunicação social

Em 1961, José Mendonça participou da fundação do primeiro curso de Comunicação Social de Minas Gerais, criado na UFMG. A iniciativa surgiu em parceria com os colegas jornalistas e professores Adival Coelho e Anis Leão, enfrentando resistência inicial dentro da própria universidade.

O curso foi reconhecido oficialmente pelo Ministério da Educação (MEC) antes de 1972 — um marco histórico, já que poucos cursos de Jornalismo no país tinham tal reconhecimento à época.

Com a Reforma Universitária de 1968, foi criado o Departamento de Comunicação da UFMG, e José Mendonça se tornou o primeiro diretor, de 1969 a 1974. Ele também dirigiu o Curso de Comunicação Social da Fafich entre 1971 e 1974. Lecionou na universidade até 1990, formando centenas de jornalistas que mais tarde se destacariam nas redações e salas de aula do país.

José Mendonça também teve papel ativo na organização dos jornalistas mineiros. Foi o segundo presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, de 1951 a 1953. Na instituição, ajudou a consolidar a categoria no estado e defendeu a valorização da profissão com ética e responsabilidade.

“Mendonça tem exemplos de vida a dar em todas as suas atividades: no jornalismo, na docência, no sindicalismo, sempre marcados pela firmeza e pela ética. Cito apenas um. Eleito segundo presidente do Sindicato dos Jornalistas, foi pioneiro ao recusar-se a entregar ao Ministério do Trabalho, para a posse, um ‘atestado de ideologia’ passado pela Delegacia de Ordem Política e Social. A diretoria tomou posse e manteve sua posição, mesmo diante de cobranças do Ministério, que chegou até a propor que eles assumissem como ‘interventores’, como forma de driblar a legislação, proposta recusada. A iniciativa ficou conhecida como ‘a rebelião dos jornalistas mineiros’, foi seguida por outros sindicatos brasileiros, até que a exigência foi revogada pelo ministério”, lembrou o jornalista Manoel Marcos Guimarães, um dos autores do livro José Mendonça – A vida revelada.

Em 2017, ao completar 100 anos, foi homenageado por colegas e ex-alunos, que celebraram seu legado como formador de gerações e símbolo de retidão e amor ao jornalismo.


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