A Operação Contenção, ocorrida no Rio de Janeiro, marcou a história da cidade como a megaoperação mais letal da história do Brasil, envolvendo a participação de 2.500 policiais em uma ofensiva contra o crime organizado nos Complexos do Alemão e da Penha, deixando 121 mortos, incluindo 4 agentes. Em entrevista ao Podcast do Correio, realizado pelos jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Mariana Niederauer, a professora de direito da UnB, Beatriz Vargas Ramos de Rezende ressaltou que, apesar da semelhança com outras operações caracterizadas pela letalidade, a ação, mesmo sendo algo planejado, falhou ao não cumprir seus objetivos.
“Os alvos desses mandados desapareceram, ninguém sabe dizer onde estão. E mais, além de deixar esse saldo de extermínio e de letalidade, causaram um caos. Foram verdadeiras horas de terror na cidade do Rio de Janeiro, envolvendo 2.500 policiais. E para quê? Se a finalidade era arrecadar armamento pesado, como fuzis, foi pífio, se o objetivo era realizar o cumprimento daqueles mandados de prisão, me parece que, igualmente, não são dignos de louvor, esses resultados”, ponderou.
Para a professora, existe um contrassenso nas declarações de sucesso feitas pelo governador da capital fluminense e o apoio da população. “Eu acho que o governador Cláudio Castro não poderia assumir que a operação teve as falhas que teve. Ele não poderia contar uma história de fracasso, porque isso seria politicamente negativo para ele.”
Na opinião da convidada, a operação teve finalidade eleitoral propagandista para Castro, que a intenção do político é explorar o clima de tensão e medo em um palco específico das ações, de maneira eleitoreira.
“E a população, diante dos atores criminosos de grande potencial no Rio de Janeiro, aliado a essa cena de terror, coloca a população naturalmente a favor das forças policiais, como se estivesse escolhendo um lado na guerra. Quer dizer, quem vai escolher o lado do bandido?”, questionou.
Rezende acredita que todas as ações de segurança pública que envolvem uma questão complexa como essa — combate ao crime organizado — requer muito mais do que uma iniciativa isolada de um governo estadual. “O próprio governador Cláudio Castro colocou isso. No início, ele disse que tinha solicitado blindados e que isso foi negado. Depois, ele disse que a polícia e os recursos estaduais sozinhos dariam conta de enfrentar a situação. É um discurso inconstante, algo que é completamente anti profissional.”, falou.
Para a entrevistada, a polícia precisa ser uma instituição valorizada profissionalmente. A polícia precisa ter uma atenção muito maior na valorização das suas atribuições, da sua capacitação e na divisão de tarefas.
“Foram quatro (policiais que morreram), e dois, nesse caso, um mais jovem, e outro que eu tenho ouvido, também pelos comentários da imprensa, que tinha acabado de entrar na força policial. Então, acho que foi uma jogada de marketing, não foi uma operação séria do ponto de vista de levar em consideração não só os protocolos de atuação que a própria Polícia carioca construiu e se obrigou a cumprir desde 2018”, relata.
*Estagiário sob supervisão de Edla Lula

