Virou moda tomar melatonina para ‘dormir bem’, mas psiquiatra especialista em sono traz dicas mais saudáveis
Na mesa do jantar, no grupo da família ou no feed das redes sociais, a cena se repete: alguém garante que a melatonina é a salvação para noites mal dormidas. Da tia que leu no WhatsApp ao marombeiro que quer “otimizar o sono”, a substância ganhou o status de solução mágica. Mas, por trás da febre, sobram dúvidas e riscos.
A melatonina, “hormônio do sono”, virou febre como solução para noites maldormidas, mas seu uso indiscriminado preocupa médicos. O psiquiatra José Carlos Rosa Pires de Souza alerta que a versão sintética, vendida como suplemento, não substitui o hormônio natural e tem uso restrito a distúrbios do ritmo circadiano, como o jet lag. Seu consumo generalizado pode causar efeitos colaterais como sonolência, desorientação, dor de cabeça e agravar quadros de depressão.Para melhorar a qualidade do sono, especialistas recomendam a higiene do sono: quarto escuro e silencioso, evitar telas e estimulantes antes de dormir, e praticar exercícios com antecedência. A melatonina pode ser útil em casos específicos, mas a automedicação é perigosa. Procure um médico se os problemas persistirem. A banalização do suplemento mascara a importância de hábitos saudáveis e pode trazer riscos à saúde.
Para entender o que há de verdade nesse modismo, o Campo Grande News ouviu José Carlos Rosa Pires de Souza (CRM-MS 2671), psiquiatra, PhD em saúde mental, médico do sono e professor do curso de Medicina da UEMS. Ele foi direto:
“Esse consumo generalizado não faz sentido nenhum do ponto de vista médico. Cada pessoa é diferente da outra. Algumas podem se dar bem com a melatonina, desde que haja prescrição, e outras não”.
O que é, afinal, a melatonina?
Nosso corpo produz melatonina naturalmente, a partir da glândula pineal, no cérebro. É o chamado “hormônio do sono”. O que se vende nas farmácias, no entanto, é outra coisa: um suplemento alimentar, fabricado em laboratório ou manipulado.
“Ele não é igual ao hormônio natural. Funciona mais como uma substância de sedação leve, que as pessoas usam para ajudar a dormir”, explica o médico.
Funciona para qualquer insônia?
Nem de longe. Segundo José Carlos, o uso correto da melatonina sintética é restrito:
“Ela é mais indicada para distúrbios do ritmo circadiano, como o jet lag em viagens internacionais. A prescrição ajuda a induzir o sono e regular o relógio biológico”.
Ainda assim, muita gente consome o suplemento como se fosse remédio para emagrecer ou antídoto contra o cansaço. Isso porque um sono de qualidade influencia o metabolismo, regulando hormônios ligados ao apetite. Mas tomar melatonina sem orientação é um atalho perigoso.
Os efeitos colaterais
Como qualquer substância usada sem acompanhamento, os riscos são reais. “A melatonina pode causar sonolência diurna, desorientação, dor de cabeça e, no longo prazo, até agravar um quadro de depressão já existente”, alerta o psiquiatra.
O que realmente funciona para dormir melhor
O médico destaca um caminho que é menos glamouroso que a promessa de uma cápsula. Chama-se higiene do sono.
- Quarto escuro, silencioso e sem distrações;
- Nada de cafeína, nicotina, álcool ou energéticos a partir do meio-dia;
- Evitar telas antes de deitar;
- Praticar atividade física, mas sempre de duas a três horas antes de dormir, para que a temperatura do corpo baixe naturalmente.
“Essas medidas são muito mais eficazes do que recorrer direto a um suplemento”, reforça.
Para quem, de fato, é indicada? No fim das contas, a melatonina pode ter lugar, mas em situações muito específicas. “A indicação mais clara é o jet lag, e mesmo assim, às vezes, o efeito é quase placebo”, diz o médico.
A banalização preocupa. “O uso indiscriminado da melatonina pode virar um modismo perigoso. Qualquer medicação pode ter efeitos colaterais danosos, e cada organismo reage de uma forma”, conclui.
Em resumo: se o sono anda mal, o caminho não começa pela farmácia. Melhor olhar para a rotina. Mas, em caso de necessidade de medicamento, procure um médico!
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