A maior carreta da história da Via Dutra deu início à descida da Serra das Araras, no Sul Fluminense, na madrugada desta segunda-feira (15). O conjunto transportador de 135 metros de extensão, com um transformador de 511 toneladas, partiu de Piraí, no km 239, à 0h30 em direção a Paracambi, no km 221, aonde tem previsão de chegar por volta das 5h. Lá, fará nova parada antes de continuar para o próximo destino, o Porto de Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio.
O deslocamento está sendo feito na contramão da pista de subida, sentido São Paulo, o que exigiu o fechamento da via a partir das 23h de domingo (14). A previsão é que o bloqueio seja mantido até as 5h desta segunda-feira (15). Ônibus de turismo em direção a São Paulo estão sendo desviados para a BR 393.
A preparação para a descida começou às 6h de domingo, e incluiu a retirada de mais de 172 blocos de concreto utilizados no cercamento de uma área de tráfego exclusiva para as obras de expansão da pista na Serra das Araras. O objetivo da remoção foi deixar a via mais livre para a passagem da carga.
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Para movimentar carga, três caminhões vão na frente, puxando, e dois atrás, segurando.
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— Ao longo do domingo, fizemos uma revisão geral. Trocamos algumas lâmpadas que estavam queimadas. Fizemos o reaperto dos parafusos de roda. Verificamos vazamentos; só tinha um, que foi sanado — contou Ângelo Antônio Botter, diretor de operações da transportadora IRGA.
A equipe de reportagem do GLOBO chegou ao km 239 por volta das 18h30. Já era noite, e a escuridão dominava o trecho, iluminado apenas pelos faróis dos veículos que passavam pela via. No acostamento direito, sentido Rio, lá estava a gigante sobre rodas, com a carga presa ao caminhão por correntes robustas. Os operadores do comboio ainda não estavam a postos. De prontidão no local apenas o guarda Edvaldo Macedo da Silva, de 58 anos, que garante a segurança da carga desde quando o veículo chegou a Piraí, no último dia 2. Ele veio de São Paulo para render um colega e seguirá com o comboio até o Porto de Itaguaí.
— Eu faço a segurança da carga parada. Quando o caminhão encontra um ponto de parada, a equipe vai descansar, e eu entro em ação, a fim de fazer a guarda 24 horas da carga, para ninguém mexer e não haver furto de nenhum item do equipamento nem da carreta — explica Edvaldo, que reveza o trabalho com um colega. — Já acompanhei o transporte de outras cargas, mas nunca desse porte. Estou torcendo para que dê tudo certo.
Por volta das 20h30, os primeiros integrantes da equipe começaram a chegar. Um deles foi diretor de operações Ângelo Antônio Botter. Para ele, as curvas representam um dos maiores desafios da operação.
— Dependendo do ângulo da curva e da inclinação da pista, você tem que parar a carreta, porque não pode descer com ela inclinada. Tem que fazer uma compensação. Para isso, o comboio é capaz de erguer só o lado direito ou só o lado esquerdo, para equilibrar. Então, por exemplo, se a pista tem um caimento de seis graus, você compensa em seis graus. O transformador tem que estar sempre nivelado — esclareceu.
A cargo da transportadora IRGA, o deslocamento é acompanhado pela concessionária CCR RioSP, responsável pela Dutra, e pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), que faz a escolta da operação com quatro agentes e duas viaturas. Além da segurança, um dos papéis da corporação nessa força-tarefa é fazer o controle de trânsito.
— As viaturas da Polícia Rodoviária Federal vão no final do comboio, fazendo o controle para que veículos não envolvidos na operação não tentem ultrapassar a carga. Se algum veículo tentar ultrapassar, pode acontecer um acidente. A carga ocupa as duas faixas, mas alguns veículos poderiam tentar a ultrapassagem ou pelo acostamento ou por uma possível brecha à esquerda. E, como a carga pode se movimentar de forma repentina, ora para a esquerda, ora para a direita, isso poderia ocasionar algum acidente. Então, a PRF trabalha para garantir a segurança das equipes, da carga e dos motoristas — detalhou Carlos André Nogueira, supervisor operacional da 7ª delegacia da PRF (Resende), responsável pela área. — Além disso, antes de iniciar o deslocamento, é feito todo o contato com as equipes, já combinando com antecedência qual vai ser o local de parada, onde o veículo vai ter que parar. Quando um trecho muito longo, já definimos um local, um recuo em que a carga caiba com segurança, para que desafogue o trânsito e, depois, volte a circular.
O transformador saiu de Guarulhos, em São Paulo, estado em que fica a sede da fabricante, a Hitachi Energy, no dia 24 de julho, e tem como destino final a Arábia Saudita, onde será utilizado em uma subestação de energia. Antes de partir para o país do Oriente Médio, porém, a carga enfrenta os desafiadores 380 quilômetros entre Guarulhos e o Porto de Itaguaí, ao qual deve chegar até o fim do mês. A viagem durou cerca de um mês até o município fluminense de Piraí, onde a carreta precisou permanecer estacionada para aguardar condições climáticas e técnicas mais favoráveis para a continuidade da operação.
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Seis motoristas, incluindo um reserva, todos com autorização especial do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), estão envolvidos na força-tarefa para conduzir o conjunto transportador, de 135 metros de comprimento, seis metros de largura, 59 eixos e 398 pneus. O comboio, de aproximadamente 2.900 cavalos, conta com uma viga articulada, uma junção flexível que transforma seus 44 módulos em um grande conjunto. A ampla estrutura faz jus à dimensão da carga, que, além de mais de 500 toneladas, ostenta 24 metros de comprimento, 12 de altura e 9,5 de largura.
Um dos profissionais na missão de conduzir a carreta é Severino Manuel Custódio, de 45 anos. Natural de Maceió, o motorista se dedica ao ofício há cerca de dez anos. Longe de sua cidade natal há mais de um mês, diz que sente falta dos cinco filhos, entre 15 e 28 anos, da mãe e da comida nordestina.

Maior carreta já vista na Via Dutra
— O coração fica apertado por causa da distância. E essa rotina na estrada deixa meus filhos preocupados — contou. — O Nordeste é maravilhoso. O cuscuz e a mandioca de lá não têm comparação. Estou com saudade.
A carga especial é um transformador HVDC, utilizado em sistemas de transmissão em corrente contínua de alta tensão. Projetado para operar em conjunto com estações conversoras que realizam a conversão entre AC e DC, ele é responsável por adequar as tensões para os conversores, ajudando a condicionar a energia elétrica para longas distâncias. A operação realizada desde julho se repetirá outras vezes, já que mais 13 equipamentos semelhantes serão enviados à Arábia Saudita. Os 14 transformadores combinados são capazes de abastecer uma cidade do tamanho da capital fluminense.