Por trás da proposta feita pelo presidente Lula a seu par americano, Donald Trump, domingo passado na Malásia de atuar como mediador numa eventual negociação com a ditadura venezuelana está o temor de um ataque americano ao país. O cenário é um dos traçados por funcionários do governo brasileiro que estão monitorando a situação no Caribe, para onde os EUA enviaram uma considerável força militar. A possibilidade de um ataque ao território venezuelano é cogitada por analistas em Caracas, e essa possibilidade determinará a agenda do presidente brasileiro durante a COP30, em Belém, confirmaram fontes oficiais.
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Nos dias 9 e 10 de novembro, será realizada na cidade colombiana de Santa Marta uma cúpula de chefes de Estado e governo da União Europeia (UE) e da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac). O encontro, que ganhou relevância em momentos de extrema tensão na região, coincide com o início da COP30 — após a cúpula de chefes de Estado e de governo, nos dias 6 e 7 de novembro. O plano A de Lula, confirmaram fontes, é estar em Belém e prestigiar o primeiro dia da primeira Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas realizada na Amazônia, sob a presidência do Brasil.
Porém, fontes oficiais confirmaram que, em caso de um ataque americano à Venezuela, as circunstâncias poderiam obrigar Lula a ir até Santa Marta, para discutir uma crise que, nesse caso, se tornaria dramática. Lá estará o anfitrião da cúpula, o presidente colombiano, Gustavo Petro, que vem sendo alvo de ataques verbais e até sanções do governo americano.
Explosões de novas embarcações no Caribe, como vem acontecendo nos últimos dois meses, não mudariam o cenário. O Brasil condenou este tipo de ataques, mas uma continuidade dessa estratégia não faria Lula ausentar-se do primeiro dia de COP30.
A decisão de falar com Trump sobre a Venezuela e insistir em que a América Latina deve continuar sendo uma região de paz reflete o grau de apreensão do governo brasileiro. Não se avançou desde domingo passado, e Brasília tem feito sondagens para ver como a proposta de Lula foi recebida em Washington e em Caracas. Apesar da esperada irritação da líder opositora María Corina Machado com o Brasil, o oferecimento de Lula se refere a uma eventual mediação entre Venezuela e EUA, e não inclui nenhum dos setores da oposição a Maduro.
A mulher forte da política venezuelana nunca teve boa relação com o Palácio do Planalto, e seus contatos com o Itamaraty, confirmaram fontes brasileiras, se interromperam “há algum tempo”. Tampouco há comunicação entre o Planalto e o Palácio de Miraflores. Ambas as situações tornariam desafiadora uma eventual mediação brasileira.
Por enquanto, não há respostas. Na capital venezuelana, os representantes do governo brasileiro têm acesso a autoridades da ditadura, mas a confiança de outros tempos se quebrou no ano passado, quando Lula decidiu não reconhecer o resultado da eleição presidencial divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Com o porta-aviões USS Gerald R. Ford, contratorpedeiros, um submarino, aeronaves de combate como caças F-35B e aviões de patrulha P-8, além de milhares de soldados e fuzileiros navais deslocados pelos EUA para o Caribe, o Brasil, em sintonia com o que opinam analistas em Caracas, teme um ataque. A decisão está nas mãos de Trump, e Lula fez a única coisa que podia fazer.

 
														