Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump se sentaram frente a frente numa reunião bilateral pela primeira vez neste domingo para discutir o tarifaço de 50% imposto pelo americano aos produtos brasileiros exportados para os EUA. O presidente do Brasil ainda se posicionou como um intermediador da crise com a Venezuela.
O foco da conversa foi a questão comercial, mas outros temas delicados da geopolítica atual passaram pela mesa dos dois líderes no encontro que ocorreu às margens da reunião de cúpula da Asean, um grupo que reúne as principais economias do Sudeste Asiático, em Kuala Lumpur, na Malásia.
Um desses assuntos espinhosos é a ofensiva americana sobre o regime de Nicolás Maduro na Venezuela, que envolve o deslocamento de embarcações de guerra americanas para a costa do país vizinho do Brasil, que rejeita a mobilização.
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Os EUA assumem que atuam em favor da queda de Maduro, mas o governo brasileiro mantém a postura contra intervenções estrangeiras nos países, principalmente em sua vizinhança.
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No caso da Venezuela, a pressão americana reacendeu atritos regionais e colocou à prova a capacidade de articulação política de Lula, que tenta equilibrar a defesa da soberania dos vizinhos com a manutenção de um diálogo pragmático com Washington.
Conforme o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, Lula se colocou como intermediador do conflito, enfatizando que o Brasil pode atuar como protetor da paz na América Latina, promovendo negociações e soluções diplomáticas em vez de confrontos diretos, diante da crescente tensão sobre a situação venezuelana.
Para o diplomata Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos EUA, o ideal seria que o brasileiro mantivesse cautela diante das tensões americanas com Maduro:
— O mais prudente seria esperar para ver se Trump toca no assunto. O Brasil, no melhor dos casos, ouviria e não falaria nada de imediato. Não faz sentido oferecer mediação.
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Lucas Martins, especialista em História Americana e Estudos Globais da Temple University, na Filadélfia, avalia que o governo Trump vê a América Latina sob uma ótica da Guerra Fria, pressionando países a escolherem entre EUA e China. A ameaça de invasão da Venezuela, destaca, é usada para pressionar o Brasil:
— Os EUA podem condicionar concessões de tarifas ao Brasil a um alinhamento mais claro com os interesses americanos em detrimento de uma agenda chinesa. A postura do Brasil em relação à Venezuela e ao uso do dólar nas transações é crucial para as negociações com o governo dos EUA.

