O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa neste domingo da 4ª Cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia, em Santa Marta, na Colômbia, em meio à tensão entre os Estados Unidos e a Venezuela. Em rápida passagem, Lula quer tratar da forte presença militar dos americanos nas águas do Caribe, assunto que os países da região desejam mencionar na declaração final do encontro, ainda que sem citações nominais aos americanos. A UE, por sua vez, tenta emplacar no texto ma condenação explícita aos ataques da Rússia contra a Ucrânia.
A presença de Lula deve contrabalançar ausências de última hora na reunião de alto-nível, que deve durar até segunda-feira. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, cancelou sua participação de última hora, assim como o presidente uruguaio, Yamandú Orsi, entre outros da região.
O presidente brasileiro decidiu ir ao encontro na última semana após afirmar que a “a cúpula não tem sentido se não tratar dos barcos militares americanos em águas do Caribe”. Em um gesto a favor da soberania da região, Lula deixou a COP30 — a conferência mundial sobre o clima, que acontece em Belém (PA), por algumas horas para participa da cúpula. O petista não deve passar nem quatro horas no evento.
A justificativa dos EUA para os ataques a embarcações venezuelanas no Caribe é que as ações fazem parte de uma ofensiva de combate ao narcotráfico. O Palácio do Planalto, no entanto, mantém posição contrária a essa associação, defendendo que o enfrentamento ao tráfico de drogas não deve ser confundido com o combate ao terrorismo, uma vez que os faccionados não têm fins ideológicos, mas econômicos.
O assunto é de interesse particular do governo brasileiro porque os EUA querem que o país classifique o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) como organizações terroristas, no mesmo sentido adotado por governos aliados de Washington, como Argentina e Paraguai.
A expectativa é que Lula se contraponha a essa linha durante a cúpula, reafirmando que o país não aceita enquadrar o crime organizado sob o conceito de terrorismo e defendendo uma abordagem própria, centrada na soberania nacional e na cooperação regional autônoma.
O tema da segurança publicação está no centro da discussão no país após a megaoperação contra o CV nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que deixou mais de 120 mortes. Como reação, o governo federal enviou um projeto ao Congresso para endurecer o combate às organizações criminosas, mas o parecer do deputado Guilherme Derrite (PL-SP), secretário licenciado de Segurança Pública de São Paulo, propôs equiparar as punições das facções ao tratamento penal dado aos terroristas.
Especialistas não esperam grandes acordos nesta cúpula, que será concluída na segunda-feira com uma declaração conjunta, mas enfatizam que ela poderá impulsionar o muito debatido acordo comercial entre a UE e o Mercosul.
A tentativa da União Europeia de inserir referências à guerra na Ucrânia não é nova. O bloco já buscou emplacar o tema em outros fóruns birregionais, mas enfrentou resistência de países latino-americanos que preferem evitar condenações diretas a Moscou.
O governo Lula defende uma abordagem mais equilibrada, baseada na ideia de que todos os conflitos devem ser resolvidos por meio do diálogo e da negociação. Essa postura evita o uso de linguagem condenatória, preferindo termos que reafirmem o compromisso com a paz e o direito internacional — sem apontar culpados e, por consequência, sem irritar a Rússia, integrante dos Brics e parceira próxima do Brasil.

