Jara, esquerdista, e Kast, ultraconservador, se enfrentarão no segundo turno das eleições presidenciais do Chile

por Assessoria de Imprensa


Confirmando as projeções, os candidatos Jeannette Jara, de esquerda, José Antonio Kast, ultraconservador, se enfrentarão no segundo turno das eleições presidenciais do Chile em 14 de dezembro, após um primeiro turno marcado por temores relacionados à criminalidade, que a maioria da população associa à imigração irregular. Os nomes dos dois foram confirmados na marca das cerca de 50% das urnas apuradas pelo Serviço Eleitoral (Servel), com a candidata governista obtendo 26,69% dos votos na votação deste domingo, e seu adversário, 24,15%. A grande surpresa ficou no terceiro lugar. Com 19,32%, o direitista Franco Parisi (Partido Popular) surpreendeu ao ultrapassar o candidato de extrema direita Johannes Kaiser (Partido Nacional Libertário) e Evelyn Matthei (Chile Vamos), da direta tradicional, ambos à sua frente em todas as pesquisas. A contagem ainda está em andamento.

Apontado como favorito para vencer no segundo turno, Kast prometeu “reconstruir” o Chile após quatro anos de governo de centro-esquerda.

Jara, por sua vez, usou seu discurso para abordar o temor dos chilenos quanto à violência crescente no país, além de apontar as falhas de Kast quando era membro do Legislativo.

— Não deixem que o medo endureça seus corações — disse a ex-ministra em seu primeiro discurso após os resultados. — Lamento que, nos 16 anos em que foi deputado, ninguém se lembre de uma única lei que ele tenha aprovado para o bem do país.

Pouco após as preliminares serem conhecidas, o presidente Gabriel Boric usou as redes sociais para parabenizar os candidatos. “Confio que o diálogo, o respeito e o amor pelo Chile prevalecerão sobre quaisquer diferenças”, declarou.

Logo em seguida, tanto Kaiser quanto Matthei reconheceram a derrota no pleito e confirmaram o apoio a Kast, como já era esperado.

— Reconhecemos a vitória de José Antonio. Cumprimos nossa palavra — afirmou Kaiser, elogiando o desempenho de seu partido, que, segundo resultados preliminares, também deve ampliar sua representação no Congresso. — Desta vez vamos apoiá-lo, porque estamos apoiando o Chile

A candidata do Chile Vamos, por sua vez, também parabenizou Kast e disse que “o que mais deve nos preocupar é que o Chile possa seguir em frente”.

A votação, que começou às 8h, horário local (o mesmo de Brasília), terminou às 18h, com os primeiros resultados saindo por volta das 20h.

Apesar de ser um dos países mais seguros do continente, o aumento da criminalidade nos últimos anos impulsionou a extrema direita, que promete deportações em massa de imigrantes irregulares e uma linha dura contra o crime.

— É necessária união para enfrentar os problemas que nos afligem hoje, que são problemas na área da segurança — disse Kast à imprensa após a votação em Paine, nos arredores de Santiago. — A maioria das pessoas dirá que está com medo.

O presidente chileno Gabriel Boric com sua filha Violeta votando nas eleições gerais em Punta Arenas, província de Magalhães, Chile, em 16 de novembro de 2025 — Foto: MARCELO SEGURA / AFP
O presidente chileno Gabriel Boric com sua filha Violeta votando nas eleições gerais em Punta Arenas, província de Magalhães, Chile, em 16 de novembro de 2025 — Foto: MARCELO SEGURA / AFP

Jara, uma comunista moderada que representa uma coligação de centro-esquerda, e Kast, chefe do Partido Republicano, lideravam as intenções de voto entre os oito candidatos para suceder o esquerdista Gabriel Boric.

— A questão da criminalidade precisa ser abordada. Tudo está horrível. (…) É necessária uma mudança — disse Joaquín Castillo, um estudante universitário de 23 anos, à AFP após votar em Santiago.

A violência sem precedentes no Chile dissipou as esperanças de mudança que, quatro anos atrás, catapultaram Boric ao poder e sua promessa não cumprida de alterar a Constituição herdada do ditador Augusto Pinochet (1973-1990), após a revolta social de 2019.

De acordo com o governo, os homicídios aumentaram 140% na última década, passando de uma taxa de 2,5 para 6 por 100 mil habitantes. Entretanto, no ano passado, o Ministério Público registrou 868 sequestros, 76% a mais do que em 2021.

Embora esses sejam padrões baixos até mesmo para os padrões globais, o problema é “a chegada do crime organizado e de crimes antes desconhecidos em nosso país, como assassinatos por encomenda”, afirma Gonzalo Müller, diretor do Centro de Políticas Públicas.

Segurança em primeiro lugar

Os mais de 15,6 milhões de eleitores também foram convocados para renovar a Câmara dos Deputados e metade do Senado., na primeira eleição obrigatória após o Chile retomar esse sistema há três anos.

A candidata à presidência do Chile, Jeannette Jara, da coligação Unidad por Chile, vota durante as eleições gerais em Santiago, em 16 de novembro de 2025 — Foto: RODRIGO ARANGUA / AFP
A candidata à presidência do Chile, Jeannette Jara, da coligação Unidad por Chile, vota durante as eleições gerais em Santiago, em 16 de novembro de 2025 — Foto: RODRIGO ARANGUA / AFP

A campanha foi dominada do início ao fim por propostas de segurança. Isso chegou a forçar Jara a deixar de lado suas ideias para programas sociais.

A ex-ministra do Trabalho de Boric, de 51 anos, antecipou que ela “não terá receio algum quanto à segurança”, mas que também garantirá que os chilenos tenham “a segurança de conseguir sustentar-se”. Um de seus planos contra o crime organizado é acabar com o sigilo bancário para atacar suas finanças.

Porém, olhando para o segundo turno, “todos os estudos indicam que (ela) perderia para qualquer um dos candidatos da oposição”, afirma Rodrigo Arellano, analista da Universidad del Desarrollo.

O candidato à presidência do Chile, José Antonio Kast, do Partido Republicano, gesticula antes de votar durante as eleições gerais em Paine, ao sul de Santiago, em 16 de novembro de 2025 — Foto: MARVIN RECINOS / AFP
O candidato à presidência do Chile, José Antonio Kast, do Partido Republicano, gesticula antes de votar durante as eleições gerais em Paine, ao sul de Santiago, em 16 de novembro de 2025 — Foto: MARVIN RECINOS / AFP

Kast, de 59 anos, dirigiu sua terceira campanha presidencial contra os 337 mil imigrantes indocumentados, em sua maioria venezuelanos. Com um discurso mais “moderado” dessa vez, ele manteve o núcleo duro de sua plataforma — repressão ao crime, deportações imediatas, fortalecimento das forças de segurança —, mas suavizou o tom ultraconservador em temas morais, tentando expandir sua base para o centro.

O político promete deportações em massa e um “escudo de fronteira” para impedir a entrada de imigrantes sem documentos, que inclui cercas de metal e valas. Além disso, enviará militares aos focos de insegurança nas cidades.

Sua mensagem repercutiu em meio à comoção causada pelo Tren de Aragua, a temida gangue venezuelana envolvida em sequestros, ex torsão e outros crimes, que estendeu suas operações por toda a América do Sul. A população imigrante duplicou em sete anos e atingiu 8,8% do total em 2024 neste país de 20 milhões de habitantes, de acordo com as estatísticas oficiais.

Surpresa no terceiro lugar

As pesquisas apontavam que Kaiser ficaria com o terceiro lugar, após o deputado de extrema direita ter ganhado força nas intenções de voto nas últimas semanas. Foi Parisi, porém, quem surpreendeu.

Ele já havia sido candidato nas eleições presidenciais de 2013 e 2021, quando chegou em quarto e terceiro lugares, respectivamente.

Sobre seu apoiono segundo turno, Parisi disse que não o ofereceria como um cheque em branco.

— É preciso conquistar os votos… o PDG não precisa de favores — declarou.



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