Integrantes do governo avaliam que eventuais novas sanções dos EUA podem ser individuais e não coletivas

por Leandro Ramos


Um dia após o julgamento que teve como resultado a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão, auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acreditam que os Estados Unidos devem adotar novas sanções individuais a autoridades brasileiras, como ocorre, atualmente, com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

A avaliação é que punições coletivas, como o tarifaço, podem contribuir negativamente para a campanha da extrema direita no Brasil em 2026, ano de eleição.

Segundo interlocutores do governo Lula, a partir do momento em que as chances de arquivamento do processo contra Bolsonaro praticamente não existem mais, o presidente americano, Donald Trump, não deve agir sozinho: terá de recalibrar suas próximas ações com a extrema direita.

Um exemplo é a aplicação de uma sobretaxa de 50% aos produtos indianos, porque a Índia compra petróleo da Rússia. O Brasil compra fertilizantes dos russos, mas se for punido por isso, haverá problemas com o agronegócio, base eleitoral da oposição.

Outra avaliação é que Trump fez uma declaração branda sobre a condenação de Bolsonaro, ao dizer que considerou “terrível” o resultado do julgamento e que gosta muito do ex-presidente. Os ataques partiram de autoridades do Departamento de Estado, como o chefe da diplomacia americana, Marco Rubio. Nas redes sociais, Rubio indicou que novas sanções contra o Brasil virão.

Nas palavras de um integrante do governo Lula, a imagem do Brasil perante o mundo foi bastante positiva após o julgamento de Bolsonaro e outros militares acusados de tentativa de golpe de Estado. Ficou claro que o país não cedeu à “chantagem tarifária” da Casa Branca, expressão usada por Lula em reunião com líderes do Brics, na última segunda-feira.

Porém, esse ainda é o primeiro tempo do jogo. Ainda há questões em aberto, como a investigação dos EUA de práticas desleais no comércio com o Brasil, com base na Seção 301, da Lei de Comércio americana.

Assim, além da tarifa de 50% sobre parte das exportações brasileiras, outras sanções podem ser adotadas com motivos relacionados à corrupção, ao desmatamento, à demora no registro de patentes e ao Pix como meio de pagamento, que estaria competindo com empresas americanas de cartão de crédito, por exemplo. Mas o uso da reciprocidade pelo Brasil está descartado no momento.

Diplomatas ouvidos pelo GLOBO contam, ainda, com o acirramento da polarização política nos EUA, com a baixa aprovação do presidente Trump e o viés de alta na popularidade de Lula, para tentar escapar do tarifaço americano. Interlocutores envolvidos no assunto afirmam que este momento deve ser aproveitado com o reforço dos contatos com congressistas da oposição a Trump.

Com as portas da Casa Branca fechadas, os diplomatas e negociadores brasileiros buscam não apenas parlamentares do Partido Democrata. Têm mantido contatos com os congressistas do chamado “caucus Brazil” — grupo informal de deputados e senadores, democratas e republicanos (legenda de Trump), com interesse em temas relacionados ao Brasil.



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