Ontem foi um dia que não terminou, em Belém. A presidência da COP 30 havia prometido divulgar nesta quarta-feira um documento que encerraria parte das negociações — o chamado Pacote de Belém —, mas o texto não saiu. Fontes com as quais conversei nesta manhã relataram que as conversas atravessaram a madrugada; uma delas foi dormir às 3h25. O documento ainda não foi divulgado porque não houve acordo. Há expectativa de que saia ao longo do dia. Havia previsão de publicação às 10h, mas ninguém mais aposta nesse horário.
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O impasse que travou o avanço das negociações é o mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis. A pretensão é que a COP30 deixe um sinal forte: um mandato para que um grupo de países elabore essa trilha. Segundo uma fonte ouvida nas primeiras horas da manhã, cerca de 80 países apoiam o mapa do caminho, enquanto outros de 100 são contra ou se abstiveram — o que, na prática, fortalece o bloco que resiste à iniciativa.
O presidente Lula desembarcou em Belém nesta quarta-feira para reforçar que esse mapa do caminho precisa ser feito — e já. Ele afirmou defender a proposta com tranquilidade porque o Brasil é, ao mesmo tempo, um grande produtor de petróleo e um país com matriz energética limpa. O recado implícito foi: “sou do petróleo, mas também sou da energia limpa e, por isso, posso dizer que é preciso uma saída, os cientistas apontam nessa direção”.
Os cientistas, aliás, reafirmaram a importância de se ter um mapa do caminho e destacaram que ele precisa ser claro: deve indicar de onde se parte, para onde se vai, quais medidas serão necessárias e em quanto tempo para se chegar ao destino. E lembraram que a COP30 enfrenta uma encruzilhada: defender as pessoas e a vida ou defender a indústria dos combustíveis fósseis. Neste momento, estamos no impasse — o petróleo divide a conferência do clima.
Mesmo assim, se houver ao menos um pontapé inicial nessa direção, já será histórico. E por quê? Porque não é razoável imaginar que construir esse mapa será trivial. Será complexo. Em entrevista ao Jornal das Dez, da GloboNews, a ministra Marina Silva explicou que a proposta é adotar um formato semelhante ao das NDCs, em que cada país definirá o ritmo possível para abandonar os combustíveis fósseis. O essencial é não perder de vista que é preciso sair dessas fontes de energia.
Os cientistas têm reiterado que petróleo e carvão são os principais motores das mudanças climáticas. Se não houver uma transição gradual, não haverá solução. O mundo segue consumindo petróleo como se as florestas fossem sempre capazes de compensar as emissões. Mas os pesquisadores alertam: as mudanças já em curso podem desestabilizar as florestas, reduzindo sua capacidade de absorver carbono. E lembram que estamos perto do ponto de não retorno, quando os danos se tornam irreversíveis.
O recado foi muito forte ontem. Agora, resta esperar para ver o que sairá deste debate.

