A operação policial que movimentou cerca de 2500 policiais nesta terça-feira deixou mais de 120 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio. De acordo com o governo estadual, quatro mortos eram policiais e os demais, criminosos alvejados em confronto com as forças de segurança. Na manhã desta quarta-feira, moradores resgataram mais de 70 corpos de uma área de mata na divisa entre os dois conjuntos de favela. Os mortos foram enfileirados numa praça na Vila Cruzeiro, produzindo mais uma imagem dura que o Rio nunca mais vai esquecer.
Nas últimas décadas, diferentes registros se tornaram símbolos de episódios que fazem parte da história de violência da capital fluminense, como a chacina de Vigário Geral, em 1993, e a fuga de bandidos do Complexo do Alemão, em 2010. Neste post, reunimos sete dessas imagens.
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Na madrugada de 23 de junho de 1993, oito meninos em situação de rua foram executados a tiros por um grupo de policiais nas imediações da Igreja da Candelária, no Centro do Rio. A imagem capturada pelo fotógrafo Antonio Nery mostra três vítimas na calçada perto da igreja, horas após o ataque. Dias depois, o Jornal O GLOBO publicou uma entrevista com Vagner dos Santos, sobrevivente da matança, que ainda estava com uma bala alojada na nuca: “Acho que nem vivendo cem anos vou conseguir esquecer o que houve naquela noite”. O horror daquele capítulo na história carioca foi lembrado recentemente pela série “Os quatro da Candelária”, na plataforma de streaming Netflix.
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A fotógrafa Marcia Foletto chegou à favela de Vigário Geral na manhã seguinte à chacina que marcou a história do Rio, em agosto de 1993, quando policiais encapuzados assassinaram 21 moradores da comunidade. A matança foi uma retaliação à morte de quatro PMs executados por traficantes locais. Ao chegar em Vigário Geral, a jornalista viu quando os parentes e vizinhos das vítimas começaram a colocar os corpos na entrada da favela, dentro de caixões. Foletto, então, subiu no muro da estação de trem em frente à comunidade e fotografou a cena de cima. A imagem, publicada na primeira página do Jornal O GLOBO, percorreu o mundo e ficou tatuada na memória do Rio.
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No dia 12 de junho de 2000, o bandido Sandro Barbosa sequestrou um ônibus da linha 174, na Rua Jardim Botânico. Durante horas, na frente das câmeras de TV , ele ameaçou os passageiros com um revólver. A foto acima foi registrada por Gabriel de Paiva quando o bandido pressionou a professora Geisa Firmo Gonçalves contra uma janela. Por volta das 18h50, Sandro usou a mesma refém como escudo para sair do ônibus. Um policial, então, disparou contra o sequestrador, mas o tiro acertou Geisa de raspão, no queixo. O criminoso revidou com três disparos nas costas da professora, que morreu no local. O sequestro foi morto pelos PMs em seguida, asfixiado dentro do camburão.
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Na madrugada do dia 17 de outubro de 2009, bandidos do Comando Vermelho invadiram o Morro dos Macacos para tomar o controle do tráfico local da facção Amigos dos Amigos. Houve intensa troca de tiros entre os grupos rivais, e policiais foram acionados para conter a violência e combater os bandos de traficantes. Muitos agentes ficaram encurralados, e um helicóptero Esquilo AS 350 foi usado para apoiar no resgate. A aeronave estava na terceira viagem, por volta das 10h, quando foi atingida por bandidos. O piloto conseguiu impedir a queda no meio da comunidade, levando o helicóptero até o campo de futebol do Sampaio, onde fez um pouso forçado. Três policiais morreram nas chamas.
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Em novembro de 2010, uma operação mobilizou 350 policiais para entrar no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, provocando a fuga de dezenas de criminosos da favela. Sob intensa ofensiva, os criminosos, armados com fuzis, escaparam por uma estrada no alto da comunidade se deslocando a pé, em motos e picapes. A cena, registrada de um helicóptero que sobrevoava a favela. ficou gravada na história da cidade. Pelo menos dois bandidos foram atingidos por atiradores da polícia enquanto tentavam fugir, mas foram resgatados pelos próprios comparsas. Quinze anos depois da “tomada” do Alemão por forças de segurança, o complexo voltou a ser palco de um confronto violento.
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Uma mulher grávida de oito meses estava sentada na calçada em frente a sua casa, na comunidade Terra Nostra, em Costa Barros, na Zona Norte do Rio, quando foi atingida por um tiro, em abril de 2019. A bala atravessou uma perna da mãe, perfurou seu útero e ficou alojada na nuca do bebê. A moradora, que não quis se identificar, foi levada para o Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari, onde foi realizada por uma cesárea de emergência. Depois de três dias internado na UTI neonatal, o pequeno Bernardo, nascido com 2,2 kg, foi submetido a uma cirurgia para a remoção do projétil, que por um milagre não provocara danos cerebrais. Mãe e filho se recuperaram bem do episódio de violência.
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No dia seguinte à megaoperação policial contra o Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha — que deixou mais de 120 mortos nesta terça-feira —, moradores se mobilizaram para retirar mais de 70 corpos da região de mata conhecida como Vacaria, entre os dois conjuntos de favelas. Segundo o governo estadual, todos eram criminosos mortos em confronto com as forças policiais. Os cadáveres foram posicionados, lado a lado, na chamada Praça do Inter, na Vila Cruzeiro. Entre as 121 pessoas que perderam as vidas durante a operação, nesta terça-feira, quatro eram policiais. Ao todo, 113 suspeitos foram presos, sendo 33 de outros estados. De acordo com as autoridades, 91 fuzis foram apreendidos. Esta foi a operação policial mais letal da história fluminense.

