Haddad tem razão, mas o Banco Central também tem seu ponto

por Assessoria de Imprensa


O Copom anuncia hoje a taxa de juros da economia, e é dada como certa a manutenção da Selic em 15%. Perguntado ontem sobre a decisão do comitê, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que votaria por baixar os juros. Haddad tem razão ao afirmar que hoje haveria espaço para uma redução. E por quê? A inflação tem surpreendido e caído, e as projeções também recuaram bastante — já são seis semanas consecutivas de queda no Boletim Focus, aproximando a expectativa do teto da meta. Quando a inflação cai e a Selic se mantém, o juro nominal é o mesmo, mas o juro real se eleva. Além disso, a queda dos juros americanos amplia o diferencial, o que abre uma janela de oportunidade para começarmos a reduzir os juros, considerando o patamar ainda muito alto.

Mas o Banco Central também tem suas razões para manter a Selic em 15%. A autoridade monetária quer ter mais segurança de que a inflação caminhará para o centro da meta. Esse é o mandato do BC: levar a inflação a 3%, e não apenas ao teto do intervalo de flutuação, de 4,5%. A projeção do Boletim Focus para 2027 é 3,80%, mas vale lembrar que eles mudam semanalmente as suas posições.

Assim, quando o ministro expressa o entendimento de que seria hora de reduzir os juros, ele apresenta uma análise bastante razoável da economia. Mas quando o Banco Central diz “não, vou esperar mais um pouco” — e as projeções indicam o início da queda apenas no começo do ano que vem —, age com cautela. É o seu papel. Essa é uma discussão em que não se pode dizer que um lado está totalmente certo e o outro completamente errado: todos têm um pouco de razão.

O que fica evidente nesse episódio é a independência total de Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central. Galípolo trabalhou com Haddad, foi indicado pelo ministro e nomeado por Lula, mas está, junto com sua diretoria, conduzindo a política monetária que considera mais adequada — e não a que politicamente desejaria o governo. Essa autonomia reforça a confiança de que o BC vai buscar cumprir seu mandato.

A expectativa do mercado é que não haja nenhuma mudança na decisão desta quarta-feira, nem alteração brusca no comunicado. A maior parte das instituições acredita que os juros começarão a ser cortados no ano que vem — alguns apostam em janeiro, outros em março. Mas o fato é que o momento da queda da Selic está próximo. E não porque o governo quer, nem porque o ministro votaria assim, mas porque as condições da economia estão dadas. A economia está sólida, o desemprego está estável e, mesmo assim, a inflação caiu. Esse é o papel do Banco Central.



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