Grupo de especialistas da ONU cobra investigação sobre operação no Rio

por Assessoria de Imprensa


Um grupo de especialistas das Nações Unidas (ONU) pediu às autoridades brasileiras uma investigação “imediata, independente e minuciosa” sobre a operação contra o Comando Vermelho realizada na última terça-feira (28/10) nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro.

O comunicado, assinado pelo Mecanismo Internacional de Especialistas Independentes para o Avanço da Igualdade e Justiça Racional na Aplicação da Lei, afirma que a ação policial pode constituir “homicídios ilegais” e deve ser investigada.

A operação de terça é a mais letal já registrada desde 1990 na região metropolitana do Rio de Janeiro, segundo levantamento do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF).

Movimentos de direitos humanos classificam a operação como chacina e questionam sua eficácia como política de segurança.

Para o grupo de especialistas da ONU, é fundamental uma investigação para “assegurar a responsabilização, interromper as violações de direitos humanos em curso e garantir a proteção de testemunhas, familiares e defensores dos direitos humanos”.

O grupo afirmou ter recebido informação de que algus corpos foram encontrados com mãos amarradas e ferimentos de bala na nuca.

Moradores também teriam relatado que suas casas foram invadidas sem apresentação de mandados, além da realização de prisões arbitrárias e uso de helicópteros e drones para disparar projéteis.

“A escala da violência, a natureza dos assassinatos relatados e as consequências para as comunidades pobres afrodescendentes que vivem em áreas periféricas urbanas expõem um padrão profundamente arraigado de policiamento racializado e impunidade.”

Mulher chora ao lado de corpo no Rio de Janeiro

PABLO PORCIUNCULA/AFP via Getty Images

Mais de 50 corpos foram retirados da mata e levados para uma praça por moradores da região

Os especialistas também expressaram preocupação com as ameaças de criminalização dos familiares das vítimas, moradores e defensores dos direitos humanos que ajudaram a recuperar os corpos na mata após a operação.

Durante a madrugada de quarta-feira (29/10), moradores da região carregaram pelo menos 50 corpos da mata para a Praça São Lucas, que fica em uma das principais avenidas, para que eles pudessem ser identificados.

O delegado Felipe Curi, secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, acusou moradores de terem tirado a roupa de alguns dos corpos que foram levados à praça. Ele afirmou que iria instaurar um inquérito para investigar fraude processual.

No comunicado, o grupo destacou que a “responsabilidade de preservar o local para posterior exame forense é das autoridades” e que elas devem impedir “qualquer forma de intimidação, assédio ou criminalização”.

Medidas solicitadas

Para o grupo de especialistas, o resultado da operação de terça mostra a necessidade do Brasil reformar suas políticas de segurança, “que continuam a perpetuar um modelo de violência policial brutal e racializada”.

“As autoridades brasileiras devem romper com o legado de impunidade que caracterizou eventos semelhantes no passado,” afirmaram.

Entre as medidas solicitadas às autoridades brasileiras estão:

• Suspensão de todas as operações em curso que resultem no uso excessivo da força e garantia de que não ocorram mais perdas desnecessárias de vidas civis;

• Proteção de testemunhas, familiares, membros da comunidade e defensores dosdireitos humanos contra represálias e processos judiciais arbitrários;

• Preservação de todas as provas e salvaguarda da cadeia de custódia em todos os casos de homicídios e outras possíveis violações, com vista a responsabilizar os culpados;

• Garantia de exames e investigações forenses independentes, em conformidade com as normas internacionais de direitos humanos;

• Cumprimento das normas internacionais sobre o uso da força e garantir a responsabilização por todas as irregularidades cometidas pela polícia.


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