Futuro do futebol está na cultura organizacional – 13/12/2025 – Esporte

por Assessoria de Imprensa


Tenho me envolvido com o futebol há anos. Ao longo dessa trajetória, escutei inúmeras vezes que nada é mais importante do que o resultado. Essa ideia se repete no ambiente do futebol, e, em diversos momentos, o propósito de um clube se resume a um imperativo: é preciso ganhar a próxima partida.

Com o tempo, compreendi de maneira melhor o contexto por trás dessa visão. Para quem trabalha nessa indústria, um dos maiores desafios é entender o que se passa além do placar. O futebol é um convite ao imponderável, e, mesmo assim, buscamos respostas objetivas. A pressão pelo resultado costuma dialogar mais com o campo emocional do que com o técnico. O jogo desperta insegurança, levando a decisões impulsivas e desconectadas da realidade, revelando a dificuldade de líderes em lidar com a vulnerabilidade do meio.

No Brasil, alguns clubes estruturaram áreas corporativas para melhor controle da rotina: pagam contas em dia, planejam investimentos e organizam setores de suporte. Isso é importante e permite investir com responsabilidade no futebol. No entanto, é preciso reconhecer que esses são fenômenos mais fáceis de mensurar. O desafio está na gestão do imponderável.

O futebol é um jogo que exige respostas simples, mas está imerso em um contexto complexo. Diariamente, clubes precisam tomar decisões sobre pessoas, decidindo se determinados profissionais servem ou não à instituição. O dilema da escolha do treinador, o conflito da escalação, a dúvida da contratação ou dispensa de jogadores fazem parte de um cenário inevitável.

Em uma indústria caracterizada pelas emoções, o critério de avaliação se tornou um ativo. Criar uma forma institucional de definir o que é bom ou ruim ainda é pouco explorado. Podemos chamar esse processo de elaboração de cultura. Não é simples entender por que certos profissionais têm sucesso em alguns clubes e fracassam em outros. A tendência do meio é simplificar a análise, pouco se investiga sobre a influência do ambiente no desempenho coletivo e individual.

O impacto da cultura organizacional em outras indústrias é comprovado, o investimento na maneira de trabalhar é um diferencial de grandes corporações. No futebol, as práticas internacionais também caminham nessa direção. Hoje, áreas como performance, análise e scouting são influenciadas por dados e inteligência artificial. Nesse ambiente saturado de informações, o verdadeiro desafio está na pergunta que se faz, pois ela revela o propósito da instituição.

O resultado de uma partida é um termômetro para avaliar a evolução de uma equipe, mas está longe de ser a resposta definitiva. É crucial que clubes compreendam que a elaboração de uma cultura de trabalho representa, de fato, o controle do processo decisório. A busca por heróis —dirigentes, jogadores ou treinadores— é sedutora, mas é um alívio momentâneo para o sentimento de impotência gerado pelo jogo.

A verdadeira redenção não está em um indivíduo. Aquilo que realmente sustenta, ou desmorona, uma instituição encontra-se em uma camada menos óbvia, construída silenciosamente no dia a dia. O futuro de um clube está na construção de crenças, princípios, escolhas e renúncias que o represente, e que permita enfrentar o imponderável com identidade.



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