Em uma das primeiras incursões num palco de stand-up comedy, Fernando Pedrosa ouviu, do dono da noite, que esse tipo de apresentação “não é para todo mundo”. A performance, reconhece o paulista de 38 anos, foi atabalhoada, mas ele ainda tinha algo a dizer. Tratou, então, de correr atrás da sua turma. “Comecei a colar em muitas apresentações, entender qual era a minha galera”, recorda-se. “O stand-up tinha virado um lugar ocupado por pessoas reacionárias, que propagavam o discurso de ódio, dizendo ser liberdade de expressão.”
Pedrosa não apenas encontrou gente disposta a seguir por vias alternativas como definiu a própria rota, numa estrada que já atravessa uma década de carreira. No ano passado, lançou o espetáculo “Xaveca a plateia e bebe vinho”, que ganha novos admiradores por onde passa. “É um lugar de acolhimento para o público LGBTQIAP+, onde rimos juntos e celebramos o que é nosso. Não é uma interação perigosa, ninguém é humilhado.”
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Pense em textos com gírias do universo gay, brincadeiras sobre flertes e piadas de duplo sentido, tudo feito entre goladas de vinho branco, levando a plateia às gargalhadas. Combinação que faz sucesso também nas redes, onde Pedrosa ganhou, semanas atrás, um impulso extra. Foi quando sua reação ao anúncio da cantora Claudia Leitte como atração do “Sem censura”, programa da TV Brasil do qual ele participava, viralizou. A expressão facial revelava o incômodo diante do nome de alguém que já disse preferir que o “filho seja macho”. “Lidei com opressões dentro da família”, diz Pedrosa. “Quando uma famosa fala coisas do tipo, impacta um jovem gay que está se descobrindo.”
Na bancada da atração, também estava a drag queen Lorelay Fox, que deixou a situação ainda mais emblemática, ao trocar um olhar de cumplicidade com Pedrosa. Embora não tivesse intimidade, ela já acompanhava o trabalho do paulista, e a sintonia foi inevitável. “Ele faz um humor que não é da lacração, mas fala do nosso cotidiano. É muito fresh”, elogia ela, celebrando a projeção do comediante, cujo número de seguidores no Instagram esbarra em 700 mil. “Havia pessoas fazendo isso antes, como (a drag) Silvetty Montilla. Porém, não saíamos muito da nossa bolha.” Mas há virais que vêm para o bem.

