Ex-governador compara MT e MS em obras e gestão fiscal

por Assessoria de Imprensa


Júlio Campos avalia que Mato Grosso melhorou ao reduzir renúncias fiscais e acertou ao assumir obras da BR-163

Ex-governador compara avanços de MT sobre MS em obras e gestão fiscal
Ex-governador de MT e atual deputado estadual, Júlio Campos, durante entrevista ao Campo Grande News (Foto: Paulo Francis)

O ex-governador de Mato Grosso, Júlio Campos (União), primeiro chefe do Executivo eleito pelo voto direto após a redemocratização e uma das figuras mais longevas da política do Centro-Oeste, concedeu entrevista ao Campo Grande News, na qual traçou um comparativo entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, analisando o que, em sua visão, explica a diferença de ritmo entre os dois estados que nasceram de uma mesma origem.

O ex-governador de Mato Grosso, Júlio Campos, traçou um comparativo entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, destacando as diferenças no desenvolvimento econômico e na gestão fiscal. Segundo ele, enquanto MT se tornou uma potência econômica impulsionada pelo agronegócio e infraestrutura, MS enfrenta gargalos que impedem seu crescimento. Entre os contrastes apontados por Campos estão a gestão da BR-163, a política fiscal e os investimentos em infraestrutura. MT possui mais de R$ 10 bilhões em caixa e nota AA no Tesouro Nacional, enquanto MS mantém uma política de renúncia fiscal considerada “extremamente agressiva” pela FGV, que deve crescer 114% até 2026.

Com uma carreira que inclui mandatos como prefeito de Várzea Grande, deputado federal, senador, conselheiro do Tribunal de Contas e atualmente deputado estadual, Júlio Campos acompanhou de perto a divisão do antigo Mato Grosso e as transformações que se seguiram. Hoje, ele enxerga um contraste nítido: enquanto Mato Grosso despontou como uma das maiores potências econômicas do País, impulsionado pelo agronegócio, infraestrutura e contas públicas sólidas, Mato Grosso do Sul ainda enfrenta gargalos que, segundo ele, travam o seu desenvolvimento.

Um dos principais exemplos citados pelo político mato-grossense na comparação entre os dois estados foi a BR-163, rodovia considerada eixo vital de ligação econômica do Centro-Oeste ao Norte do País. Ele recordou que, ainda na década de 1980, durante seu governo, inaugurou os primeiros 500 quilômetros asfaltados entre Cuiabá e Sinop, obra financiada pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Desde então, segundo ele, o caminho da rodovia seguiu trajetórias distintas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

“No Mato Grosso, o governo conseguiu negociar com a União e assumir a concessão da BR-163. Em vez de esperar uma nova licitação, que poderia levar anos, o Estado assumiu as dívidas do consórcio e passou a investir diretamente. Hoje, estão sendo aplicados R$ 7,5 bilhões na duplicação de Cuiabá a Sinop, sendo R$ 1 bilhão de recursos próprios do governo”, explicou.

Enquanto isso, em Mato Grosso do Sul, o processo de relicitação recente terminou com a concessão voltando para a mesma empresa, que não cumpriu o contrato original. “Lá, nós destravamos o investimento porque o governo teve capital, articulação e vontade política. Aqui, infelizmente, o processo emperrou”, avaliou.

Júlio Campos também destacou que o avanço econômico de Mato Grosso é consequência direta de uma política fiscal mais equilibrada e da redução dos incentivos a grandes grupos empresariais. “Quando o governador Mauro Mendes assumiu, o Estado vivia um caos. Havia incentivos fiscais para quase tudo, e 40% da receita estava comprometida. Ele fez uma reforma profunda, cortou benefícios e obrigou as grandes empresas a pagar ICMS e contribuir com o Fethab, fundo que investe nas rodovias”, explicou.

De acordo com Campos, a estratégia garantiu ao Estado uma situação financeira sólida e previsível. “Hoje, Mato Grosso tem mais de R$ 10 bilhões em caixa, paga sua folha de pagamento antes do fim do mês e liquida as notas fiscais dos fornecedores em 15 dias. A arrecadação já passa de R$ 40 bilhões por ano”, afirmou.

O contraste com Mato Grosso do Sul, segundo ele, é evidente. O estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre) mostrou que a política de renúncia fiscal sul-mato-grossense, que crescerá 114% até 2026, é considerada “extremamente agressiva”, beneficiando cerca de 1,5 mil empresas e reduzindo o espaço para investimentos sociais.

“No nosso caso, reduzimos as renúncias e aumentamos o investimento. O Estado ficou mais competitivo e saudável. Hoje somos nota AA no Tesouro Nacional, entre os três melhores do Brasil”, ressaltou Campos.

Outro ponto que diferencia os dois estados, na avaliação de Júlio Campos, é a infraestrutura logística. Mato Grosso, disse ele, transformou-se em um hub nacional de transporte de grãos com a ampliação das ferrovias. “A Rumo, antiga Ferronorte, já liga São Paulo a Rondonópolis e está chegando a Lucas do Rio Verde, com investimento de R$ 13 bilhões. Também temos a Fico, que vai cortar o Estado de leste a oeste, e a Ferrogrão, que deve ligar Sinop a Itaituba, no Pará. Se o governo federal não atrapalhar, o Estado explode em desenvolvimento”, afirmou.

Ele mencionou ainda projetos internacionais em estudo, como uma ferrovia financiada por investidores chineses para ligar Lucas do Rio Verde ao Peru, abrindo uma nova rota de exportação pelo Pacífico. “O nosso maior parceiro comercial é a China. Tudo com capital privado. O governo apenas concede e fiscaliza”, destacou.

Meio Ambiente

Campos também elogiou a política ambiental de Mato Grosso, que, segundo ele, conseguiu equilibrar preservação e desenvolvimento. Ele comparou o caso à situação de Mato Grosso do Sul, onde uma proposta semelhante à lei mato-grossense, que proíbe o transporte, armazenamento e comercialização de peixes por cinco anos, está parada na Assembleia Legislativa desde 2024.

“Em Mato Grosso, a lei passou com maioria absoluta. No começo houve protestos, mas hoje todos reconhecem os resultados. O turismo de pesca e observação de animais cresceu muito, especialmente no Pantanal. As pousadas estão cheias, e quem vivia da pesca artesanal agora trabalha como guia, barqueiro ou condutor turístico”, relatou.

Segundo ele, o Estado ofereceu capacitação e garantiu um salário mínimo para os pescadores durante a transição. “Foi uma medida dura, mas estratégica. Hoje o Pantanal está mais preservado e é destino internacional de observadores de onças e aves. Muitos turistas nem pescam, vêm só para fotografar”, disse.

Social

Apesar do otimismo com o desempenho econômico, Júlio Campos reconhece que Mato Grosso ainda enfrenta desafios sociais importantes. “Temos uma riqueza imensa, mas mal distribuída. Há cidades de primeiro mundo, como Sinop e Primavera do Leste, e outras que ainda vivem na pobreza, como algumas da Baixada Cuiabana. O nosso maior problema é a desigualdade de renda”, analisou.

Ele afirmou que o rápido crescimento do agronegócio criou polos de prosperidade, mas também deixou regiões inteiras à margem. “Temos bilionários em número recorde, mas também muitas cidades estagnadas. O desafio agora é transformar essa riqueza em qualidade de vida para todos.”

Visita a Campo Grande – A visita de Júlio Campos a Campo Grande teve um caráter simbólico. O evento de lançamento do livro sobre o ex-senador Filinto Müller, realizado no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, resgata uma figura política que une as histórias dos dois estados.

“Filinto Müller foi um dos políticos mais importantes do século passado. Foi presidente do Senado, líder do governo Vargas e articulador de grandes projetos, como o Prodoeste, que asfaltou a ligação São Paulo–Campo Grande–Cuiabá. Ele também ajudou a trazer a Universidade Federal do Mato Grosso e impulsionou a abertura da BR-163, que hoje leva o nome dele”, contou Campos.

O ex-governador enfatizou que o livro busca mostrar o outro lado da trajetória de Müller, cuja imagem ficou marcada pelo período em que chefiou a polícia política de Getúlio Vargas. “Queremos revelar o homem por trás do mito. Ele teve papel fundamental na integração do antigo Mato Grosso e deixou um legado que ainda repercute.”



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