Etarismo, ageísmo, idadismo. Três palavras, um significado: a discriminação por conta da idade, mais presente no cotidiano do que se imagina.
— Toda vez que pensamos: “essa pessoa é velha demais para fazer aquele trabalho, para assumir determinada responsabilidade ou função, para ter um relacionamento, estamos discriminando — disse a escritora e ativista norte-americana Ashton Applewhite, 73 anos, em palestra no 18º Fórum da Longevidade Bradesco Seguros, realizado em São Paulo e disponível no YouTube (veja neste link).
— Começamos a envelhecer assim que nascemos. Se tivermos sorte, ficaremos idosos. Só não fica velho quem morre antes. Então, precisamos mudar nossa mentalidade. Envelhecer não é uma doença, uma coisa triste. Envelhecer é viver e viver é envelhecer — afirmou.
Autora do livro “This chair rocks: A manifesto against ageism” (ainda sem tradução para o português) e cofundadora da Old School Hub, plataforma voltada ao combate do etarismo, Ashton é uma das principais vozes globais no movimento pela inclusão da idade como critério de diversidade. Em 2022, foi nomeada pela ONU como uma das 50 líderes mundiais que estão transformando o mundo em um lugar melhor para envelhecer.
O preconceito de idade se manifesta em várias dimensões: no mercado de trabalho, nas relações pessoais e até na forma como cada um enxerga o próprio envelhecer.
— Quando negamos nossa idade ou quando temos medo de envelhecer, reforçamos o etarismo. E essa discriminação nos prejudica individualmente e coletivamente, de várias maneiras — diz a especialista.
Ashton aponta que viver mais significa, também, trabalhar por mais tempo — e que é urgente derrubar as barreiras etárias no mercado de trabalho.
— Sabemos que equipes com diferentes faixas etárias tomam melhores decisões. Empresas que valorizam a diversidade, inclusive de idade, lucram mais.
Mas o etarismo não se limita ao ambiente profissional. Ele também se manifesta de forma internalizada, quando as pessoas associam envelhecimento à doença ou incapacidade.
— Quando pensamos: “na minha idade, sentir dor ou estar doente é o esperado”, estamos sendo preconceituosos. Há evidências de que essa atitude impacta o corpo em nível celular. Pessoas com visão positiva e realista sobre a velhice se curam mais rápido, vivem mais e melhor.
Estudos recentes confirmam: a percepção sobre o envelhecimento influencia a saúde física e mental.
— Quem associa envelhecimento a crescimento e propósito tem menos probabilidade de desenvolver Alzheimer, mesmo que tenha predisposição genética — diz.
O alerta de Ashton ecoa o movimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), que em 2021 lançou uma campanha global para combater o etarismo. Para a ativista, o desafio é cultural e profundo: é preciso redefinir o que significa envelhecer.
— Estamos vivendo um momento espetacular da história da humanidade. Pela primeira vez, quatro ou cinco gerações convivem ao mesmo tempo. Isso é uma oportunidade extraordinária de explorar o potencial de milhões de adultos mais saudáveis e educados. Isso é capital social.
Entre os grupos mais afetados pelo idadismo, as mulheres são as que mais sofrem.
— Nós, mulheres, vivenciamos o sexismo além do etarismo. Existe um duplo padrão: o homem é considerado bonito quando envelhece; a mulher, não. E no trabalho, sentimos isso: nunca estamos na idade certa. Jovens são vistas como sexy demais para serem levadas a sério, depois férteis demais para serem promovidas, e mais tarde, velhas demais para estarem na ativa.
O discurso de Ashton reflete a urgência de considerar a idade nas políticas de diversidade e inclusão, ao lado de gênero, raça e deficiência.
— Criar um mundo melhor para os idosos significa criar um mundo melhor para as mulheres, para os deficientes, para os não ricos, para os não brancos, para todos— enfatiza.
Para ela, envelhecer pode ser enriquecedor — desde que se mantenha o desejo de aprender e contribuir.
— Os anos que vivemos é que nos fazem ser quem somos hoje, e eles são preciosos.
Ashton defende uma visão mais colaborativa da vida, em que autonomia e interdependência caminham juntas.
— Queremos autonomia, mas autonomia requer colaboração. Todo mundo precisa de ajuda por toda a vida. Nunca somos totalmente independentes — diz.
O combate ao preconceito exige ação coletiva e empatia:
— Acabar com o etarismo é um trabalho árduo, que envolve gestores, especialistas em saúde pública e uma mudança de pensamento e cultura. Uma vida longa não pode ser um privilégio. É um direito humano.

