‘É a aventura de começar algo novo’, diz William Bonner, na sua despedida do Jornal Nacional

por Assessoria de Imprensa


“O Jornal Nacional tira de quem integra essa equipe o simples direito de ser ingênuo. Nós não podemos ser ingênuos nunca porque nós temos a confiança de um país de que vamos fazer um trabalho de apuração daquilo que é certo, daquilo do que não é certo, do que é verdadeiro e do que não é. Então, ingenuidade é proibida para quem aqui trabalha”.

Com essas palavras, William Bonner anunciou sua saída da bancada do Jornal Nacional, após 29 anos como apresentador do principal noticiário da TV brasileira. Ao lado de Renata Vasconcellos, sua colega de bancada há 11 anos, Bonner recebeu nesta sexta-feira (31) seu substituto, César Tralli, que começa no posto na próxima segunda-feira, dia 3.

Bonner segue para o o Globo Repórter em 2026, dividindo a apresentação com Sandra Annenberg. Com a mudança, o cargo de editor-chefe, acumulado pelo jornalista há 26 anos, passa a ser desempenhado por Cristiana Souza Cruz, atual editora adjunta. Com a chegada de Tralli, também mudam os outros telejornais da Globo: Roberto Kovalick o substitui no Jornal Hoje, e Tiago Scheuer assume o Hora 1.

Durante quase 20 minutos, o trio falou da importância de estar na bancada do JN, além de repassar alguns dos principais momentos de Tralli como repórter e apresentador. Bonner ressaltou a coincidência de deixar a atração exatamente 11 anos após a chegada de Renata, que substituiu Patrícia Poeta no dia 31 de outubro de 2014. Bonner também brincou ao lembrar de quando ouviu do veterano Cid Moreira que nunca deixou de ficar nervoso ao apresentar o telejornal e que se dava agora o direito de errar.

“Convido (o público) a me reencontrar no ano que vem, em fevereiro, no Globo Repórter, ao lado da minha querida amiga Sandra Annenberg, onde eu vou começar uma carreira nova, com direito inclusive de ser um fracasso fenomenal”, brincou Bonner, durante a despedida. “Torço para que não, vou fazer meu melhor. Mas é é a aventura de começar algo novo”.

Em entrevista ao GLOBO horas antes da última edição do JN apresentado por ele, Bonner avaliou algumas das maiores mudanças no telejornal ao longo das décadas nas quais se consolidou como o principal noticiário do país: lançado em 1969, o JN alcança, em média, 30 milhões de pessoas por dia, cerca de 14% da população brasileira.

— Para muitos brasileiros, o Jornal Nacional não era só a principal fonte de informação. Era a única. Mas é óbvio que as telas de celular mudaram drasticamente essa situação. Hoje, num dia normal de trabalho, se você não for marciano, terá sido confrontado com os principais assuntos do dia — observa o apresentador. — Então, hoje a gente pega tudo o que de mais importante aconteceu, faz uma curadoria e entende o que precisa de mais foco, quais assuntos tendem a perdurar ou que têm uma enorme gravidade de implicações atuais e urgentes. Por isso, enquanto uma reportagem típica de JN tinha um minuto e meio quando eu assumi, hoje ela tem dois minutos e meio. E não raramente há matérias de três, três minutos e meio. Em vez de querer abraçar o mundo, a gente quer mostrar o mais importante do dia, com um aprofundamento maior.

William Bonner entrou no JN em 1996, ao lado de Lillian Witte Fibe, substituindo Sérgio Chapelin e Cid Moreira. O jornalista é o apresentador com maior tempo no programa, mais até do que o próprio Cid. São 29 anos de um, contra 26 de outro. O paulistano radicado no Rio disse que a decisão de deixar os cargos de apresentador e editor-chefe foi puramente pessoal e começou a ser tomada em 2020, durante a pandemia da Covid-19. Os boatos sobre sua possível saída já corriam desde então.

— William nos procurou há cinco anos, manifestando um desejo de encontrar um outro caminho que desse a ele mais tempo para sua vida pessoal — disse Ricardo Villela, diretor de jornalismo da Globo, em setembro. — Entendemos que era um movimento que exigia tempo para preparar um sucessor e entender o melhor lugar no jornalismo da Globo para o William.

O jornalista, que não descarta participar dos debates eleitorais no ano que vem, sabe que a saída do JN vai gerar especulações de todo tipo, mas faz questão de frisar que a família foi o fator determinante para tal decisão. Dois de seus três filhos, fruto do casamento com a jornalista Fátima Bernardes (de 1990 a 2016), moram na França, e ele quer ter mais tempo para eles.

— Hoje em dia, a verdade não é mais tão importante, o que importa é a versão — disse Bonner, ciente de que a saída pode ser interpretada de diferentes formas pelo público. — Depois que avisei que gostaria de mudar, a Globo e eu não concordamos de imediato com esse calendário. Eu tinha uma urgência, mas nós entramos num acordo, porque era evidente que uma movimentação dessa natureza deveria ser feita com calma.

Na Globo desde 1993, Tralli já foi repórter em São Paulo, correspondente internacional em Londres e âncora na Globo e GloboNews. Aliás, além do Jornal Hoje, ele deixa também a edição das 18h do canal fechado para se dedicar ao JN. O nome que o substitui vai ser anunciado posteriormente.

— O trabalho de repórter está dentro de mim, adoro apurar notícia — disse Tralli, que pretende continuar a fazer isso no cargo de editor executivo do jornal noturno, o mesmo que Renata Vasconcellos ocupa hoje.

A nova bancada do JN, Cesar Tralli e Renata Vasconcellos, com Sandra Annenberg e William Bonner, que passam a dividir o Globo Repórter. — Foto: TV Globo/ João Cotta
A nova bancada do JN, Cesar Tralli e Renata Vasconcellos, com Sandra Annenberg e William Bonner, que passam a dividir o Globo Repórter. — Foto: TV Globo/ João Cotta

Atualmente morando em São Paulo, Tralli recebeu o convite para sentar na bancada oficialmente há cinco meses. O segredo foi mantido a sete chaves, ele garante. Nem a família — cuja mudança para o Rio ainda está sendo decidida — ficou sabendo.

Casado com a apresentadora Ticiane Pinheiro, César Tralli é um sucesso nas redes sociais, com mais de 4 milhões de seguidores só no Instagram. O novo cargo não deve mudar sua rotina virtual.

—Mostro mais minha família, coisas pessoais e bastidores do nosso trabalho, mas não falo de notícias — disse, também em setembro, o pai da pequena Manuella, de 6 anos. — Comecei a fazer isso de forma natural e vi que teve uma boa aceitação.

O próprio diretor de jornalismo da TV Globo acha benéfico, em tempos de fake news, o tipo de postagens de Tralli em seus perfis.

— Tem gente fazendo de tudo na internet e chama isso de jornalismo. É importante para nós mostrarmos o processo — disse Villela.



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