Que fique bem claro: chocolate é feito de cacau, e ponto final. Mas ele anda roubando a cena na COP 30 (ao lado do tucupi e a Cerpa gelada), um verdadeiro arroz de festa. A amêndoas (ou castanhas) – depois de fermentada, seca e descascada – vira nibs, tal qual o do parente mais próximo, seu primo cacau. O cupuaçu está com tudo no vaivém das conferências e no entre e sai das cúpulas, mas uma versão chama mais atenção: o “cupulate”.
O nome foi patenteado pelo Sebrae. “Foi em 2003, no âmbito do debate sobre o desenvolvimento sustentável da Amazônia com base na bioeconomia, destacando o potencial do fruto no mercado de produtos de alto valor agregado”, contou ao blog uma diretora do Sebrae. Mas há quem use o nome por aí, quem diz que não pega?
De cultivo dominado pelas mulheres da Amazônia, o cupuaçu (de sabor azedinho que enche a boca) transformou a vida da empreendedora social Raquel Luna, que saiu do Paranã e foi morar em Manaus, onde junto com outras mulheres toca a Cupu do Quintal, marca de produtos derivados do fruto, inclusive “cupulate”, mas é ela quem diz.
“Somos pequenas (risos)”, brinca. “Tudo começou com uma conversa despretensiosa numa casa de farinha. Dali nasceu o Cupu no Quital. Compramos o caroço e a polpa de 17 famílias para gerar renda entre essas mulheres”. Da polpa, ela explica, faz-se geleias e o fruto cristalizado, aquele do pacote para andar na bolsa e não parar de comer nunca mais. Do caroço, também rendem nibs para granola e shakes. Cupuaçu é rico em fibras e antioxidantes.
Uma das suas clientes é a chef paulistana Debora Shornik, que se tornou referência em comida amazônica ao abrir seu Caxiri, no centro histórico de Manaus. É dela a receita que faz mais sucesso entre as sobremesas da casa: mousse de (olha ele aí de novo) cupulate.
Maria do Carmos Gomes é conhecida como a “madame cupuaçu”. São (nada menos do que) oito mil pés em sua propriedade, uma verdadeira floresta de cupuaçu, que teve início em 1987. “Não me canso da beleza da árvore.” São dela as polpas e caroços utilizados no “cupulate” Gaudens (700kg/ano), um dos pioneiros a comercializar o produto, antes mesmo de o Sebrae batizar.
Sua árvore, lembra Raquel Luna, cresce à sombra da floresta, “nutrindo pessoas e animais, além de prosperidade e sustento para as comunidades locais.”
No mais, primo ou parente distante do autêntico chocolate, é uma delícia e tem sabor da Amazônia.

