Quatro coletivos de corrida para pessoas pretas farão nesta quinta-feira treinos em rotas especiais para comemorar o Dia da Consciência Negra. Arte Corre Crew, do Rio de Janeiro, SBN Running, de Salvador, Corre Kilombo, de São Paulo, e o Corre Preto, de Porto Alegre, traçaram roteiros para celebrar os negros brasileiros, batizados de Rotas da Consciência, em parceria com a Olympikus.
Esses grupos surgiram para incentivar a prática esportiva entre pessoas pretas e para criar espaços de “aquilombamento”, afetividade e união. As crews organizam treinos para “ocupar as ruas” e para celebrar a própria história, fortalecendo a comunidade e o sentimento de inclusão.
Segundo a Olympikus, mais do que percursos de corrida, o Rotas da Consciência são caminhos de história e memória, uma vez que passam por pontos que marcam a presença da cultura negra no Brasil. Cada crew destacou os locais em sua cidade, como o Cais do Valongo, no Rio; a Praça Brigadeiro Sampaio, em Porto Alegre; o Pelourinho, em Salvador; e a Praça da Sé, em São Paulo.
Márcio Callage, CMO da Vulcabras, fabricante da Olympikus, explica que há tempos a marca apoia essas crews para ações com a comunidade. E que em 2025, quando a Olympikus celebra 50 anos, escolheu apoiar corridas e iniciativas em todo o país que levantam causas relevantes e utilizam o esporte como ferramenta de transformação social.
— Somos uma marca brasileira e celebrar a cultura negra como parte fundamental da identidade do Brasil é algo que deve ser honrado, valorizado e mantido vivo — afirma Callage, para quem a marca busca colocar a comunidade “no centro das narrativas”. — Acreditamos no poder da corrida como um espaço de impacto, pertencimento e mudança, e estar ao lado desses grupos é parte essencial desse compromisso.
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Segundo ele, apesar da corrida ter presença imensa de pessoas negras, cerca de 48%, de acordo com a pesquisa Por Dentro do Corre, da Olympikus e Box 1824, o esporte ainda carrega tensões ligadas à desigualdade e ao racismo, impactando o acesso seguro a espaços públicos, a sensação de pertencimento e até a liberdade de ocupar as ruas.
— As demandas mais recorrentes dos grupos que acompanhamos de perto giram em torno de segurança, representatividade e visibilidade. Não basta correr, é preciso sentir que aquele espaço também é seu. O Rotas da Consciência surgiu dessa escuta: um movimento que conecta esporte, cultura e ancestralidade para reforçar que correr também é orgulho e liberdade.
Para Nicole Mengue, especialista em marketing, de 29 anos, uma das coordenadoras do Corre Preto, o Rotas da Consciência é um presente não apenas para a comunidade preta. A ferramenta está disponível no Strava, a principal plataforma de pessoas ativas. E convida os usuários a escrever sobre a vivência de correr nesses espaços.
— Como estão no Strava serão guia para além da data. E isso é muito potente — comemora ela, que afirma que falar sobre raça e consciência negra é um trabalho de toda a sociedade. — É uma alegria falar de territórios pretos em Porto Alegre porque existe uma história de apagamento da população negra no Rio Grande do Sul. Falamos muito sobre colonização alemã e italiana, aprendemos muito sobre isso na escola. Muitas vezes não ouvimos sobre a história dos povos africanos, nem a questão da religião. É simbólico ter uma rota para celebrar os pretos em Porto Alegre.
Nicole lembra que o feriado nacional da Consciência Negra surgiu na cidade e que isso “diz muito sobre a resistência da população negra no Rio Grande do Sul”. A proposta foi do Grupo Palmares, formado por estudantes, que em 1971 escolheu a data da morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares para valorizar a luta e a cultura afro-brasileira.
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— O nosso coletivo surgiu de um lugar de dor, resistência e de não se enxergar em muitos espaços quando falamos de corrida. Por mais que esse esporte seja democrático, quando não nos enxergamos no ambiente, não nos sentimos pertencentes e capaz de estar ali — observa Nicole, que diz que no Corre Preto, os assuntos são diversos, vão além da corrida.
Fundado em 2024, o grupo reuniu 250 pessoas no primeiro encontro. Hoje, nos treinos mensais junta cerca de 1.500. O Corre Preto usa a atividade física como transformação social e criou o Corre Pretinho para crianças porque “olha para frente e projeta o que queremos para nós”.
— Temos muita margem para crescer. A cada encontro vemos rostos novos. E hoje há mais pessoas pretas correndo na orla do Guaíba, o melhor local da cidade para a prática. Muitas usam a camisa do coletivo. É evidente o aumento — diz Nicole, que observa que os coletivos também propiciam segurança aos corredores. — Meninos negros correndo sozinhos podem se sentir inseguros no sentido que podem ser abordados. A primeira coisa que se pensa não é que está praticando esporte.
Em São Paulo acontecerá a primeira corrida para pessoas pretas, a Corre Kilombo, mesmo nome do coletivo. A organizadora é a Vega Sports.
— A capital financeira do país, a cidade que não para, vai abrir espaço para a gente desfilar pelas ruas do Centro. E isso é muito significativo — comemora o músico Marcos Viega, de 41 anos, um dos fundadores do Corre Kilombo.
Segundo ele, o coletivo surgiu da necessidade de incluir pessoas pretas em eventos esportivos, buscando saúde e bem estar. E também de conectá-las para ter mais força e visibilidade. Diz que, ao participar de corridas e eventos patrocinados, não via corredores pretos. Era ele e mais um.
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— Nossos encontros são na USP, Parque Villa Lobos e Parque do Ibirapuera. A gente quer ver e ser visto. Gostamos de correr de bando, juntos, conectados e fazendo barulho. A gente canta e bate palma ritmado. É bonito de se ver, é de arrepiar — diz Viegas, que explica que o grupo também recebe pessoas que caminham. — São elas que puxam o pelotão. Assim corremos juntos.
Ele conta que foi em 20 de novembro de 2022 que tudo começou: onze pessoas, sendo uma mulher, se encontraram na Universidade de São Paulo para correr. Agora são cerca de 700 pessoas, a maioria mulher, nos treinos mensais no Parque do Ibirapuera.
— Por que em ambientes de esporte, qualidade de vida, estudo, entre outros, os pretos são minoria? Como é contraditório ter a maioria da população preta mas não estarmos em ambientes como esses — indaga Viegas. — Em um encontro do Corre Kilombo falei: “Já imaginou um dia termos a nossa corrida?”. Toda a realidade antes é imaginada, frase do KL Jay, DJ brasileiro, integrante do Racionais. A nossa corrida chegou.
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E das ruas às telas, a Olympikus lança ainda o documentário Rotas da Consciência, escrito por Vinícius Neves Mariano e produzido pela Buena Onda, para mostrar a relação entre a corrida e a humanidade. Além das quatro capitais, o filme viajou à Serra da Barriga (AL), berço do Quilombo dos Palmares, espaço de acolhimento de escravos fugitivos.
Segundo Callage, o documentário nasceu do desejo de celebrar, pela lente da corrida, “as narrativas que honram a história, a cultura e a ancestralidade de pessoas negras no Brasil”.
— Queríamos criar algo que fosse além de uma campanha, um movimento vivo, afetivo e construído de forma coletiva — explica Callage. — Como marca brasileira que vive o dia a dia da comunidade corredora, a Olympikus entende sua responsabilidade em reconhecer, valorizar e amplificar narrativas que fazem parte da identidade do país.
O documentário será exibido durante a etapa do Bota Pra Correr, no Ceará, em Cumbuco (está disponível no YouTube da marca). O festival de corrida da Olympikus manterá o tema com palestras com lideranças negras, incluindo Viegas e Nicole. E no sábado realizará as corridas de 11 km e 21 km no asfalto, além de 18 km de trilha.
Em paralelo, a marca lançou o primeiro produto especial da Consciência Negra. Um tênis Corre 4 amarelo, verde e vermelho, cores de 13 bandeiras africanas.
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O tênis foi desenvolvido em parceria com a artista Amanda Lobos, uma designer negra capixaba que estampou no cabedal um Adinkra, símbolo gráfico do povo Akan/Ashanti, de Gana, conhecido por representar valores, virtudes e sabedoria ancestral. Um design carregado de significado, história e propósito.

