O engenheiro florestal e especialista em vegetação do Cerrado, Bruno Walter, destacou a importância e as ameaças ao bioma, cuja data, o Dia Nacional do Cerrado, passa despercebida. A entrevista foi ao ar nesta sexta-feira (12/9) no programa CB.Agro, parceria do Correio com a TV Brasília.
Em conversa com os jornalistas Adriana Bernardes e Roberto Fonseca, Walter afirmou ser necessário “divulgar mais o Cerrado”, destacando que o bioma é pouco valorizado e pouco conhecido. Ele ainda observou que o Dia Nacional do Cerrado, comemorado ontem, costuma ser esquecido, seja por coincidir com o 11 de setembro ou, neste ano, por eventos políticos marcantes.
Segundo o engenheiro, do ponto de vista ambiental, o Cerrado é o bioma brasileiro menos conservado dentro das unidades de conservação, enquanto leis e políticas oferecem maior proteção a biomas como a Amazônia e a Mata Atlântica.
“A própria Constituição diz que a Amazônia e Mata Atlântica, são patrimônios nacionais e o Cerrado e a Catinga não. Então eles nem entram como patrimônios desde a Constituição de 88. Então isso de cara já coloca o cerrado por fora de uma preocupação sobre o ponto de vista de conservação”, disse Walter.
De acordo com o especialista, o Cerrado também é o bioma mais afetado pela agricultura de larga escala, pois o biomas com floresta tem políticas de conservação mais fortes. O produtor rural tem que conservar 80% da área na Amazônia brasileira, enquanto no cerradão a área conservada cai para apenas 20%.
“Eu me arrisco a dizer que o Cerrado é o bioma mais ameaçado, até porque mapeamentos de conservação do Cerrado — como o mapa de biomas de 2022/2023 — mostram que mais de 50% do bioma já perdeu suas vegetações originais. E desses menos de 50% de áreas supostamente conservadas, quem conhece a vegetação sabe que, ao visitar essas áreas naturais, elas não estão tão preservadas quanto os mapas e mapeamentos de satélite indicam”, destacou.
Walter avaliou que o Congresso precisa rever seu olhar ambiental sobre o Cerrado, considerado a caixa d’água do país e fundamental para a agricultura brasileira.
“A agricultura precisa de água, e o melhor lugar para armazená-la é no solo. A chuva precipita em uma área, e são as vegetações naturais que fazem a água penetrar nos lençóis freáticos, abastecendo os rios que, por sua vez, retornam para a própria agricultura. Então, se quisermos garantir a sustentabilidade da agricultura a longo prazo, precisamos preservar as vegetações do Brasil Central, que correspondem basicamente ao Cerrado”, frisou.
Assista a entrevista completa:
*Estagiário sob supervisão de Rafaela Gonçalves
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