Para honrar a memória, a filha voltou a fazer peças de cerâmica e hoje ensina quem visita à Aldeia Babaçu

Sentada em um banco de madeira, Rosinha de Arruda, 56 anos, mexe a argila que ela mesma faz no Pantanal Sul. Ali, dentro da bacia de ferro, a ceramista mistura areia à massa. Quem vê a indígena da Aldeia Babaçu, em Miranda, não imagina que, para fazer as peças, Rosinha teve que vencer a dor de ter perdido a mãe. Anos depois do luto, foi exatamente pela lembrança dela que a artista voltou a fazer o que as duas amavam: a cerâmica.
A ceramista indígena Rosinha de Arruda, de 56 anos, retomou seu trabalho com cerâmica na aldeia Babaçu, em Miranda, após superar o luto pela perda da mãe. O retorno aconteceu em 2018, quando outras artesãs da comunidade também estavam abandonando a arte tradicional. Desde os 10 anos, Rosinha aprendeu o ofício com sua mãe, que insistia na importância de preservar a tradição. Hoje, ela trabalha em união com outras mulheres da aldeia, coletando argila e produzindo peças artesanais. O turismo etnocultural tem facilitado a comercialização das obras, diferente do passado, quando precisavam transportar as peças até a cidade para venda.
O retorno foi no momento certo. As ceramistas da aldeia também estavam desistindo da arte. A mãe partiu quando Rosinha tinha 35 anos. O retorno para a massa aconteceu em 2018. Enquanto amassava a argila, ela conta que, na época, perdeu as esperanças sem a mãe.
“Perdi a força de continuar; parei quatro anos depois que ela foi embora. Eu tive que parar; olhava para o lado e não tinha companheira. Quando Jheferson foi cacique, ele me indicou e disse que o trabalho tinha que continuar. Será que eu consigo? Ele indicou a dona Lucília e Jovelina, que são nossas parceiras. Comecei a trabalhar e nós nos reuníamos”.
Ela conta que, desde pequena, a mãe fazia questão que ela aprendesse para continuar o legado. Além de ser cultural a herança da profissão dos pais para os filhos, Rosinha gostava da cerâmica. Inclusive, ela conta que alguns jovens já não se interessam pelas artes manuais como antes e que a tradição está se perdendo.
“Ela falava que vem aprender porque daqui a uns tempos eu vou partir e você vai continuar com o meu trabalho. Minha mãe falava que a gente tem que valorizar o serviço porque é nela que a gente vai viver. E eu estou vivendo nela. Comecei com 10 anos”.
Rosinha queria brincar, mas a mãe insistia para que ela prestasse atenção e pedia que ela alisasse as peças. “Eu olhava e aprendi, por isso continuei. Foi muito difícil; caía lágrima quando ela partiu”.

A ideia de voltar acendeu em Rosinha uma nova esperança. Foi ali que as mulheres da aldeia realmente se uniram, cada uma com a sua bolsinha, para pegar argila. Tudo aconteceu através do projeto Etnotour Babaçu, feita por indígenas terena e voltada para o turismo de base comunitária na T.I (Terra Indígena) Cachoeirinha.
“Sem união, não fazíamos nada. A nossa vivência é essa. A gente tem esperança de que vai melhorar e está melhorando. Eu tinha muita argila. A cerâmica que fiz estou vendendo aos poucos e está indo; não é grande coisa, mas ajuda”.
Rosinha agora ensina quem chega à aldeia a fazer cerâmica: mostra a massa, como prepará-la e onde assa as peças. Tudo fica pronto em um forno improvisado feito no chão. Ela faz o buraco e o cobre. Depois de horas queimando, ela o abre. Na ocasião, as peças já estavam todas prontas, mas ela indicou o lugar onde faz o forno.
Da época da mãe até hoje, muita coisa mudou por lá. No início, a artesã tinha que ir para a cidade vender e colocava as peças na cabeça. Rosinha já fez isso com a mãe quando criança. Com o turismo etnocultural acontecendo aos poucos pela aldeia, Rosinha só tinha um desejo: que a mãe pudesse ter visto.
“Eu ia bastante com ela vender peças na cidade. Batalhei bastante com ela. Hoje eu queria que minha mãe pudesse renovar tudo de novo para aprender comigo e a gente vender sentada a nossa cerâmica. Ela deve estar dizendo que falou para minha filha que ia dar tudo certo e deu”.
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