O país já sabe o que precisa ser feito para garantir mobilidade social e enfrentar o racismo estrutural. O que falta é agir, e rápido. Esse foi o tom do painel sobre Educação e Futuro Sustentável, na 4ª Conferência Empresarial ESG Racial, organizada pelo Pacto de Promoção da Equidade Racial, nesta segunda, no Rio.
Ricardo Henriques, do Instituto Unibanco, lembrou que as últimas três décadas registraram avanços consistentes, porém lentos. O problema, diz ele, é que a fronteira do conhecimento se move cada vez mais rápido.
– Temos que, simultaneamente, saldar dívidas históricas e avançar em direção à fronteira. Precisamos dar um salto. O processo de ações afirmativas, como as cotas, é fundamental, mas pertence ao campo de reparar o passado. É preciso fazer isso enquanto nos conectamos ao que o mundo está fazendo hoje.
Henriques defendeu mudanças profundas na educação e no modelo empresarial: ciclos universitários longos e generalistas perdem força; empresas terão de operar guiadas também por valores sociais; e o país precisa acertar a base para eliminar a defasagem idade-série em até dez anos. Para ele, o Brasil tem potencial para dar um salto rumo à economia de baixo carbono, desde que invista pesado em educação, construa redes corporativas mais inclusivas e mantenha ações afirmativas ao longo de toda a formação básica.
Ana Inoue é a superintendente do Itaú Educação e Trabalho, reforçou que a formação da população negra deu um salto expressivo. Hoje há lideranças, pesquisadores e profissionais em todas as áreas. Mas, segundo ela, é preciso direcionar os jovens para os espaços de maior impacto econômico e tecnológico: transição climática, inteligência artificial, finanças ambientais, inovação.
– Quando pensamos em transição justa e financiamento ambiental, quem serão os jovens negros discutindo isso? Eles precisam ser preparados para estar lá.
Cláudia Rodrigues, gerente de diversidade da Firjan, também destacou o caráter urgente do momento. Para ela, o Brasil não pode seguir desperdiçando energia explicando políticas básicas de reparação.
– Estamos, em 2025, discutindo a importância da lei de cotas. Por quê? É só olhar para a história. Tudo que precisamos saber, a gente já sabe. O que falta é agir.
Cláudia relatou ainda um ponto essencial da experiência dentro da Firjan: a permanência de jovens negros em cursos e formações esbarra, muitas vezes, em obstáculos simples, como pagar o transporte, ou estruturais, como lidar com a gravidez precoce. Barreiras que, somadas, interrompem trajetórias inteiras.

