Após debates, jambu, tecnobrega, açaí e carimbó agitam festa dos povos nas noites da COP30 em Belém

por Assessoria de Imprensa


“Isso aqui é a cultura do Pará”, bradavam, para delírio do público, os DJs Dinho e Gordo, comandantes da aparelhagem de tecnobrega do Crocodilo, uma das manifestações artísticas mais famosas do estado, em que o imponente equipamento de som tem o formato do bicho. Na praça do Ver-o-Rio, dividiam o espaço belenenses com camisas do Remo e do Paysandu, indígenas com corpos pintados, integrantes de movimentos sociais e estrangeiros: latinos, europeus, africanos e asiáticos, com sorrisos deslumbrados, tentando assimilar o calor, as cores e uma música tão única.

Mais à frente na orla, franceses e americanos se esforçavam para acompanhar o ritmo frenético do carimbó, enquanto trabalhadores enchiam os seus cestos na famosa Feira do Açaí. No revitalizado Mercado de São Brás, um grupo da Organização Mundial de Meteorologia bebia caipirinhas, especialmente de jambu, com seus novos amigos: os moradores que os ajudaram na praia da Ilha de Cotejuba, dias antes.

Nas noites da COP30, após o exaustivo expediente, os participantes encontram em Belém uma cidade viva e pulsante, diferente das últimas sedes, onde o mundo exterior era bloqueado em função do evento, relatam. Nos “points” locais, brasileiros e estrangeiros se unem e transformam a capital paraense em um palco da festa dos povos.

Na ponta do complexo Ver-o-Peso, às margens da baía do Guajará, a movimentação é intensa madrugada adentro na Feira do Açaí, com o carregamento do fruto em cestos à frente dos barcos. No largo do cais rodeado por casarões coloniais, acontecem eventos culturais, como rodas de samba e de carimbó. Na última quinta-feira, o público, inflado pelos participantes da COP, se misturava aos trabalhadores do açaí.

— Decidimos sair toda noite para algum lugar. Aqui fazemos parte de uma verdadeira experiência brasileira, me sinto mais no Brasil aqui do que dentro da COP — contou o francês Jean Sauvignon, suadíssimo após se enfiar no meio da roda de carimbó.

Ele e seu amigo Paul Boeffard debutam em COPs, empolgados com a iniciativa da área em que trabalham, integridade da informação contra o negacionismo, uma das apostas da presidência brasileira. Os dois arriscaram passos de carimbó na roda formada, na maioria, por belenenses. Outro entusiasta era o americano Jayson Toweh. Na verdade, disse Boeffard, tentaram não atrapalhar.

— Senti que a dança é muito especial para eles, então não queria interferir. Eu devia estar procurando um amigo, mas quando começou a tocar eu esqueci de tudo e fiquei vivendo a música — disse o francês, positivamente surpreso com sua hospedagem na casa de uma família brasileira. — A mãe da casa me trata como filho, ela me acolheu no jantar da família deles e até reclama quando não como tudo.

Uma das marcas da COP de Belém é a participação da sociedade civil. A carioca Nicole Calheiros, do Projeto Manas, descobriu sobre a festa através de um grupo com mais de 700 ativistas.

— A cultura movimenta as pessoas, só parada aqui conheci gente de vários movimentos sociais, vai se formando uma rede — celebra a jovem que tinha acabado de conhecer um egípcio e um mexicano. — A COP vai deixar como legado a participação social e a pressão popular.

No Mercado de São Brás, revitalizado para a COP, um grupo dividia caipirinhas e unhas de caranguejo. Eram cientistas ligados à Organização Mundial de Meteorologia e jovens moradores de Belém. Eles se conheceram há uma semana, quando os estrangeiros pediram ajuda para chegar à praia na Ilha de Cotejuba. Acabaram juntos no passeio, trocaram contatos, e depois marcaram de sair.

— O que gosto nessa COP é que os moradores continuam vivendo. Eles estão nos mesmos locais que nós, estamos vivendo a vibe de verdade. Nas outras COPs era tudo fechado em função do evento — disse a canadense Rita Cozma.

O também canadense Francisco Rene torceu para que a sede continuasse em Belém e não fosse transferida para Rio ou São Paulo, por preferir cidades menores, onde é mais fácil vivenciar a cultura local. Do mesmo grupo, a colombiana Catalina Jaime disse que conhecer a Amazônia brasileira era um sonho.

— Fui para muitas COPs, mas aqui é muito diferente, é muito bom poder se misturar com as pessoas à noite, porque na conferência temos muito trabalho — disse Jaime.

A receptividade e simpatia do povo belenense são pontos em comum entre todos os estrangeiros. Por outro lado, o extremo calor era a maior, e inevitável, queixa.

Mistura com mobilização

Se a cultura é força de mobilização, nada melhor que as aparelhagens de tecnobrega para convocar ao Mutirão Global liderado pela presidência brasileira. Lennon Medeiros, diretor da Visão Coop, negócio de impacto climático, disse que o próprio presidente da COP30, André Corrêa do Lago, pediu um evento assim, que misturasse cultura e educação ambiental.

— Juntar cultura engaja mais. Aqui tivemos muitos ativistas no público, e o Crocodilo é uma das manifestações culturais mais importantes da Amazônia. A aparelhagem traz o debate popular sobre clima de uma forma diferente, sobre o que acontece no chão, na vida das pessoas — explicou Medeiros.

A americana Sol Broza, ativista de New Jersey, aprovou. Enquanto as músicas de Gaby Amarantos e Viviane Batidão embalavam a multidão, ela divulgava a campanha “Be together for the Amazon”, através de um QR Code.

— Precisamos alertar sobre risco de colapso da Amazônia, essa é a primeira vez que gente de todo mundo veio para cá — disse ela, que elegeu a COP 30 como sua favorita até agora. — Aqui teve mais música que qualquer outra COP, deveria ter sempre, porque música rompe barreiras e constrói pontes.

Na Estação das Docas, a comida típica atrai os participantes. Em um dos restaurantes, um grupo de chineses provava o tacacá. Já o alemão Lion Martius preferiu o sorvete de açaí e taperebá. Belém não é uma novidade para ele, que frequenta a região há três anos pela sua pesquisa sobre seca na Floresta Nacional de Caxiuanã, no Marajó.

— Gosto muito do carimbó, mas ainda sou muito “gringo” para dançar — brincou.



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