A mais recente decisão da Justiça italiana – de manter presa a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) – foi uma pá de cal na tentativa da parlamentar de sair da cadeia. No entorno de Zambelli, a avaliação é a de que as sucessivas derrotas na Itália não só enfraquecem a narrativa de perseguição política como indicam o caminho de uma futura extradição.
Esses aliados não admitem em público, mas já chegaram à conclusão que o processo de extradição é inevitável – uma percepção também compartilhada por fontes do governo brasileiro ouvidas pelo blog.
Em mais um revés para a deputada, na última quarta-feira (8), a Corte de Cassação da Itália – que funciona como última instância do país – negou um recurso da defesa para que Zambelli fosse para a prisão domiciliar. Na prática, a decisão impede que ela saia da prisão até a decisão do processo de extradição.
O tribunal manteve o entendimento da Corte de Apelação de Roma, que em agosto determinou que a parlamentar fosse para o regime fechado, ao apontar fortes indícios de risco de uma nova fuga. Zambelli está há mais de dois meses no complexo penitenciário de Rebibbia, nos arredores de Roma.
“Pelo menos no Judiciário ela não convence”, diz uma fonte do governo brasileiro que acompanha de perto o caso. “Eles não parecem estar interessados em defender uma criminosa que disse ser intocável na Itália.”
As recentes decisões não afetam diretamente a tramitação do processo de extradição de Zambelli, que ainda aguarda um parecer da Procuradoria-Geral da Itália.
Após o parecer da Procuradoria-Geral sobre a extradição, a Corte de Apelação de Roma vai se debruçar sobre o mérito do caso da deputada.
Se a decisão for desfavorável, caberá um novo recurso de Zambelli à Corte de Cassação, que dará a decisão final sobre a extradição, um processo que deve se arrastar por mais meses.
O caso Zambelli tem sido acompanhado com lupa pelo governo Lula.
Conforme informou o blog, a administração petista impôs um sigilo de cinco anos às informações e documentos enviados pela Advocacia-Geral da União (AGU) às autoridades italianas e à embaixada do Brasil em Roma sobre o processo de extradição da deputada.
Em resposta a um pedido formulado pela equipe da coluna via Lei de Acesso à Informação, a AGU alegou que os documentos sobre o processo de Zambelli “dizem respeito à estratégia jurídica de defesa dos interesses do Estado brasileiro e às teses e argumentos que o Brasil deve levar ao processo judicial, o que se encontra protegido pelo sigilo profissional que orienta a atuação da advocacia”.
A medida, no entanto, foi criticada por especialistas, que apontam que o caso é de interesse público e a AGU precisa prestar contas sobre a sua atuação.
Integrante da tropa de choque bolsonarista na Câmara, Zambelli também é alvo de um pedido de cassação que tramita na Comissão de Constituição e Justiça da Casa, onde a perda do mandato é dada como certa por seus aliados e integrantes do PL.
“Zambelli é odiada por muita gente na Câmara”, diz um interlocutor de Zambelli ouvido pelo blog, que aposta que a parlamentar será rifada até mesmo pelo próprio partido. O entorno de Jair Bolsonaro, por exemplo, até hoje coloca na deputada parte da culpa pela derrota do ex-presidente nas últimas eleições presidenciais.
Um dia antes do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, Zambelli apontou sua arma e perseguiu um apoiador de Lula em uma rua no bairro nobre de Jardins, em São Paulo. Na capital paulista, o petista obteve quase meio milhão de votos a mais que Bolsonaro.
- Veja também: A ‘volta’ de Carla Zambelli para a Câmara dos Deputados
- Transparência: O sigilo imposto pelo governo Lula no caso Zambelli
Na última quinta-feira (2), terminou a licença de 127 dias do mandato que Zambelli tirou após sua fuga do Brasil, em uma tentativa de evitar o cumprimento da pena de 10 anos de prisão imposta por unanimidade pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento na invasão hacker do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).