A sombra da China no bromance Lula-Trump

por Assessoria de Imprensa


Marco Rubio quase não falou durante o tão aguardado encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump domingo, na Malásia. Pelo menos nos nove minutos que foram abertos à imprensa, ele estava de cara amarrada. Na manhã seguinte, o secretário de Estado americano faltou à reunião que deu seguimento ao degelo nas relações iniciado pelos presidentes, embora Trump o tenha escalado para o time de negociadores.

Mas Rubio estava bem perto. Enquanto assessores brasileiros e americanos se reuniam no hotel da comitiva americana, o secretário de Estado estava numa sala ao lado, com Trump. A ausência do chefe da diplomacia, considerado um dos “falcões” da ala ideológica do governo, ajudou a tornar mais suave a transição do tom político que originou o tarifaço para um timbre mais econômico, como deseja o Brasil.

Nada garante que esse compasso será mantido no “tango” entre os dois países, observou um negociador brasileiro. Assim como fatores internos fizeram a relação bilateral desafinar, levando ao tarifaço de 9 de julho, fatores externos também podem interferir na normalização que Lula pretende restaurar com os EUA. A começar pelo ruído da competição americana com a China, que em grande medida determina os rumos da política externa comandada por Rubio — sob a tutela do imprevisível Trump.

Na véspera de sua chegada à Malásia, Rubio citou juízes e a regulação das big techs no Brasil, num sinal de que é cedo para concluir que as negociações agora se limitarão a temas econômicos. O americano também deu um jeito de encaixar a rivalidade com Pequim num bate-papo sobre o Brasil, ao dizer que seria “benéfico” ao país ter os EUA como parceiro comercial número um, em vez da China. Lula aproveitou a deixa. Diante de Rubio, durante o encontro com Trump, o presidente disse “tomara”, indicando não ter preferências, contanto que o comércio aumente.

Mas, ainda que Lula repita que não queira tomar um lado, a competição entre Pequim e Washington tornou-se tão onipresente que afetará muitas das decisões que o governo terá de tomar. Não há como ficar isolado dessa “grande disputa geopolítica”, reconheceu a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, que acompanha Lula. “Pelo contrário, uma das grandes variáveis da disputa geopolítica é o domínio tecnológico”, disse à coluna.

A visita à Malásia também serviu para ilustrar como a tentativa de manter o equilíbrio dos interesses entre Washington e Pequim é uma gangorra cercada de nuances. Ao mesmo tempo em que comemorava os avanços com os EUA, a delegação brasileira deixou Kuala Lumpur com um sentimento de oportunidade perdida em relação ao nosso maior parceiro comercial. O primeiro-ministro da China, Li Qiang, cancelou o encontro com Lula, frustrando o plano de colocar pressão para que o país retome as compras de frango do Brasil, paradas desde maio por conta de um caso de gripe aviária no Rio Grande do Sul.

Para um integrante do governo brasileiro, as negociações com os EUA que devem começar semana que vem em Washington podem abrir oportunidades para uma composição estratégica que ofereça aos dois países alternativas ao domínio chinês sobre o processamento mundial de minerais críticos para as novas tecnologias. Um exemplo de como é complexo desvincular as duas potências é a mineradora Serra Verde, que opera em Goiás. O investimento é americano, mas os metais vão para a China.



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