A diplomacia brasileira deu uma nova demonstração de competência nesta terça-feira, com a ligação do presidente Lula para Donald Trump. A tensão entre os Estados Unidos e países vizinhos ao Brasil, como Venezuela e Colômbia, vem aumentando significativamente, e o Brasil, com razão, sempre demonstrou grande preocupação com qualquer ação militar estrangeira na América do Sul. Desde o Barão do Rio Branco, a diplomacia brasileira atua para manter a região como uma zona de paz. Ao ligar para o presidente americano, Lula entrou no tema da forma certa, ao convocar Trump para uma atuação conjunta no combate ao crime organizado. Ao fazer isso, o presidente sinaliza que o Brasil também está engajado no enfrentamento ao tráfico de drogas e de armas, compartilhando a mesma preocupação dos EUA — mas, ao mesmo tempo, trata indiretamente de um tema interno relevante: o caso Refit.
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Ricardo Magro, dono do grupo, mora nos Estados Unidos desde 2016, onde realiza grandes investimentos. O Brasil combate aqui um crime cujo principal alvo está a salvo em território americano. As operações de lavagem de dinheiro identificadas pelo governo brasileiro passam pelo estado de Delaware.
O caso da distribuidora envolve sonegação bilionária de impostos — segundo a Receita Federal, o grupo é o maior devedor do estado de São Paulo, são cerca R$ 10 bilhões — mas está também conectado a outros esquemas do crime organizado. Não por acaso, Lula pediu ao ministro Fernando Haddad a tradução para o inglês da apresentação do esquema da Refit, ao serem identificados desdobramentos do caso nos Estados Unidos. Em entrevista à TV Verdes Mares, do Ceará, nesta quarta-feira, Lula fez menção a brasileiros nos EUA para fugir do crime, numa referência a Magro.
A extradição é um processo complexo nos EUA, mas Lula entrou no tema por uma vertente que hoje preocupa o governo americano: o combate ao crime transnacional. Os Estados Unidos têm adotado uma estratégia centrada na força — inclusive com bombardeios a barcos suspeitos de transportar drogas no Caribe, com ataques a sobreviventes —, enquanto o Brasil propõe cooperação e integração entre as inteligências dos dois países.
A diplomacia também foi habilidosa ao não tocar — ou ao menos não divulgar publicamente — discussões sobre as sanções da Lei Magnitsky, que miram autoridades brasileiras.
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O assunto à mesa, apesar da referência aos produtos ainda sobretaxados pelos EUA, foi o mesmo como combater o crime organizado. Após a ligação, Trump disse que a conversa foi “boa”, depois “muito boa” e, por fim, “ótima”, repetindo três vezes que “gosta de Lula”. Mais uma vez, a diplomacia brasileira mostrou acerto.

