Anunciada de maneira protocolar nos últimos dias, a venda de um projeto imobiliário de alto padrão no Rio pela Gafisa a outra incorporadora se dá após três anos de obras paradas — situação que levou alguns compradores a recorrer à Justiça. A construtora sustenta, porém, que se tratou de uma venda de “natureza estratégica”, dentro do plano de focar exclusivamente em empreendimentos de luxo em São Paulo e na orla da Zona Sul do Rio.
O projeto em questão é o Sense Icaraí, em Niterói, lançado em 2022 com Valor Geral de Vendas (VGV) estimado em R$ 204 milhões. A entrega deveria ter sido feita este ano, mas a obra praticamente nem começou. Nesta semana, a Gafisa passou o projeto pra frente, vendendo-o por R$ 15 milhões (mais passivos) à Soter Engenharia, especializada no mercado imobiliário de Niterói.
Como a coluna de Ancelmo Gois publicou em abril deste ano, a paralisação já fazia com que compradores recorressem à Justiça temendo prejuízos. Alguns conseguiram, junto à 3ª Vara Cível de Niterói, liminares determinando o depósito em juízo das prestações que ainda eram devidas à construtora.
Questionada pela coluna, a empresa controlada por Nelson Tanure afirmou que a venda visou “à preservação de caixa, ao fortalecimento da estrutura financeira, à redução da exposição a passivos do projeto e à realocação eficiente de recursos para mercados prioritários”.
“O início da obra foi postergado devido à não concretização de uma operação de funding para o projeto. Durante as negociações com algumas instituições financeiras, a companhia iniciou tratativas com um parceiro local de grande credibilidade no mercado regional, a Soter Engenharia. Ao longo desse período, a Gafisa manteve comunicação transparente e contínua com todos os clientes do empreendimento”, sustenta a empresa em nota.
A coluna apurou que o lançamento do Sense Icaraí foi frustrante para a Gafisa desde o início, com poucas vendas realizadas. Até o momento, menos de um terço das unidades foi vendido — certamente, a obra estacionada não inspirou confiança em potenciais compradores depois do lançamento.
A paralisação do Sense Icaraí não foi um caso isolado. Nos últimos meses, surgiram notícias de que a Gafisa está atrasando obras em pelo menos dois empreendimentos em São Paulo, e de que os clientes também já estavam recorrendo à Justiça.
“A companhia registrou redução temporária no ritmo de execução de algumas obras, em decorrência de fatores estruturais do mercado, como a elevação dos custos de insumos após a pandemia e o aumento da taxa de juros. Para mitigar esses efeitos e assegurar a continuidade dos empreendimentos em andamento, a Gafisa realizou um follow-on (oferta subsequente de ações na Bolsa) no valor aproximado de R$ 89 milhões e, em outubro, emitiu debêntures no valor aproximado de R$ 50 milhões. Essa estratégia permitiu direcionar os recursos captados para a conclusão das obras, com entrega prevista para o primeiro semestre de 2026”, disse a empresa ao ser questionada.
No Rio, outro projeto importante da Gafisa — o Canto, no Arpoador — passou por uma mudança no funding. O BTG, que já era um dos credores, assumiu todo o financiamento do negócio. A expectativa da Gafisa é entregar o empreendimento no ano que vem, e a empresa nega que a entrada do BTG tenha ocorrido devido a atrasos.
“O projeto Canto encontra-se em plena execução e o BTG foi um parceiro financeiro que estruturou uma operação de funding garantindo a exposição financeira de todo o projeto. Essa estrutura prevê mecanismos usuais de atualização e renegociação, garantindo previsibilidade de caixa e sustentação financeira para a fase de conclusão da obra, prevista para o primeiro semestre de 2026”, acrescentou.

