Sofrer um pouco, vale!

por Assessoria de Imprensa


Você já sentiu, depois de uma corrida intensa ou de um treino que deixou as pernas tremendo, uma sensação estranha de “precisar dormir como um morto”? Não é preguiça. É o seu corpo, lá no fundo, gritando uma ordem ancestral: “Construam mais usinas de energia!”. E quem obedece não é a sua força de vontade moderna, é o seu cérebro mais antigo — o complexo R, o famoso cérebro reptiliano.

As mitocôndrias são as centrais energéticas das células. Sem elas, nada funciona: nem músculo, nem neurônio, nem coração. Durante milhões de anos de evolução, nossos ancestrais não tinham academia, suplemento ou smartwatch. Tinham fome, frio e predadores. Quando precisavam correr para salvar a vida, o corpo entrava num estado de estresse agudo brutal. Nesse momento, a intensidade do esforço disparava sinais químicos que chegavam direto no tronco encefálico e no sistema límbico primitivo — a parte do cérebro que não entende palavras, só entende sobrevivência.

Esse cérebro antigo não sabe que você está fazendo HIIT por estética, saúde ou se pra fugir de um cão raivoso. Para ele, se você está gastando energia desse jeito é porque provavelmente vai morrer se não melhorar rápido. Então, durante o sono profundo — especialmente nas fases de ondas lentas e no sono REM — ocorre uma conversa silenciosa: o cérebro reptiliano “pergunta” às células quantas mitocôndrias sobraram depois daquele esforço todo. A resposta é quase sempre: “Poucas. Estamos no limite”.

É aí que a mágica acontece. Nas horas seguintes, principalmente no sono, o corpo inicia a biogênese mitocondrial. A proteína PGC-1, considerada a maestra dessa orquestra, é ativada em cascata. Novos organelos são fabricados, as mitocôndrias existentes se tornam mais eficientes, a capacidade oxidativa aumenta. Em poucas semanas de treino intenso e bem recuperado, uma pessoa comum pode aumentar em 50% a 100% a quantidade e a qualidade das mitocôndrias musculares. É o fenômeno chamado de “memória mitocondrial”: o corpo aprende que aquele nível de estresse pode voltar a qualquer momento e se prepara para ele.

E tem mais: esse mesmo estresse controlado, a hormese, gera adaptações que vão muito além do músculo. Melhora a sensibilidade à insulina, reduz inflamação crônica, aumenta BDNF (o “adubo” dos neurônios), fortalece o sistema imunológico e até retarda o envelhecimento celular. Tudo isso porque você forçou o corpo a acreditar, por alguns minutos, que a sobrevivência estava em jogo.

O mais irônico? Hoje, na era do conforto extremo, somos os primeiros humanos da história que precisam criar artificialmente o estresse que outrora era imposto pela natureza. Sentados o dia inteiro, com comida na geladeira e predadores apenas nas telas, o cérebro reptiliano cochila. Ele só acorda quando você o provoca de verdade, com carga, velocidade, falta de ar, músculos queimando. Sem esse gatilho, ele acha que está tudo bem viver com poucas e preguiçosas mitocôndrias. O resultado? Envelhecimento precoce, doenças metabólicas, fadiga crônica. O conforto nos mata devagar; o esforço controlado nos mantém vivos por mais tempo.

O cérebro reptiliano não entende meta de emagrecer nem de ficar “definido”. Ele entende ameaça e oportunidade. Quando você treina com intensidade suficiente para deixar o coração disparado e os músculos queimando, você fala a língua dele. E ele responde construindo um corpo mais forte, mais eficiente, mais preparado, mesmo que o único predador hoje seja o despertador às 6h.

Então, da próxima vez que alguém perguntar por que você insiste em sofrer na academia ou na rua, responda a verdade: “Estou negociando com meu cérebro de 400 milhões de anos. Ele só entende uma linguagem: esforço seguido de recuperação profunda. E, em troca, ele me dá superpoderes que nenhum suplemento do mundo consegue comprar.” Durma bem depois do treino. É quando o verdadeiro ganho acontece.



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