Vivemos sempre conectados: mensagens, cobranças, expectativas e a ideia de que precisamos estar bem o tempo todo. No Mind Summit — maior evento de saúde mental e potencialidade humana da América Latina, realizado em São Paulo — o escritor e pesquisador israelense Tal Ben-Shahar trouxe um contraponto fundamentado em ciência: a vida boa não é livre de atritos; é aquela em que aprendemos com eles.
Referência mundial em Psicologia Positiva e conhecido pelo curso mais concorrido da história de Harvard, sobre a ciência da felicidade, ele apresentou o conceito de antifragilidade, a capacidade de crescer com os desafios, como fazem nossos músculos, que se fortalecem após esforço seguido de recuperação.
— Emoções positivas não são “mimos”, mas estratégias de sobrevivência: ampliam nossa criatividade, fortalecem a saúde e favorecem soluções inteligentes — diz. — Elas ajudam a construir pontes entre pessoas, melhoram a capacidade de colaboração e fornecem base emocional para enfrentar pressão e incertezas.
Ser feliz, no entanto, não significa estar sempre alegre. Depois de pandemia, perdas e instabilidades, falar apenas sobre felicidade pode soar irreal. Por isso, segundo ele, a chave está na permissão para ser humano: acolher a tristeza, a frustração ou o medo sem negá-los, abrindo espaço para escolhas mais conscientes.
Para lidar com a complexidade do mundo atual, Shahar apresentou práticas simples e baseadas em ciência, reunidas em quatro pilares essenciais:
1. Permissão para ser humano
Sentir medo, tristeza ou frustração é parte da vida. Reprimir emoções pode intensificá-las; acolhê-las abre espaço para reflexão e ação.
Três caminhos possíveis:
- Chorar quando necessário, permitindo que o corpo regule a emoção.
- Conversar com alguém de confiança. Nomear o que sente diminui a intensidade das emoções.
- Escrever o que está sentindo. Isso organiza pensamentos e ajuda a tomar decisões mais claras.
Shahar sugere criar pequenos rituais restauradores, como caminhar por dez minutos ao ar livre, tomar um banho morno ou fazer uma respiração guiada.
2. Recuperação como estratégia de vida
O problema não é o estresse, mas a falta de recuperação após situações estressantes.
Pausas curtas podem fazer diferença.
- Três respirações profundas a cada duas horas, com inspiração lenta e exalação prolongada.
- Levantar-se a cada 30–60 minutos para movimentar o corpo, alongando-se ou caminhando.
- Durante o dia, fazer algumas pausas para olhar pela janela por alguns minutos, sem celular ou computador.
- Cuidar da qualidade do sono.
3. Movimento que cabe na rotina
Exercício regular melhora o humor, o foco e protege o cérebro.
- O melhor exercício é o que você gosta. Só assim terá regularidade e os benefícios virão. Vale caminhar, passear com o cachorro, dançar, pedalar, pular corda, nadar.
- Pensar em “pílulas de movimento”: subir escadas, ir a pé à padaria, dar uma volta após o almoço.
4. Generosidade e conexão
Fazer algo por alguém traz bem-estar para quem faz e para quem recebe:
- Mandar uma mensagem sincera, preparar um café, oferecer ajuda.
O equilíbrio é essencial: cuidar dos outros sem esquecer de si.
— Os líderes que mais performam são doadores que também se abastecem — diz Shahar.
Ele reforçou que o cuidado com a mente não depende de grandes revoluções, mas de práticas simples e consistentes. A sugestão é escolher apenas duas dessas ideias e coloque em prática. — Não precisa começar grande; precisa começar possível. A ciência mostra que pequenas mudanças, repetidas, viram transformação — afirma.
Ao final, deixou um lembrete essencial para tempos de excesso:
— Cuidar da mente não é luxo nem moda, é estratégia de vida. Comece pequeno, comece hoje.

