Para ambientalista chinês, COP30 está devendo em energia renovável

por Assessoria de Imprensa


Em meio às dificuldades para a aprovação dos documentos da COP30, um tema deveria ter recebido maior destaque: a ampliação do uso de energias renováveis. A opinião é de um dos principais nomes da China quando o assunto é mudança climática e proteção do meio ambiente. Ma Jun ainda sentia a longa viagem de volta de Belém quando falou com a coluna em Pequim, nesta quinta. Ex-repórter investigativo, em 2006 ele fundou em Pequim o Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais, que ganhou fama internacional pelo ativismo contra a poluição do ar na China.

Ma Jun elogiou a atmosfera de engajamento em defesa do meio ambiente que vivenciou em Belém, “apesar da situação global complexa, com alguns grandes países recuando em suas políticas climáticas”. Valeu a pena encarar a longa viagem, disse ele, para unir esforços “na porta de entrada da floresta com a maior biodiversidade do mundo”, o que tornou a COP30 em Belém “a mais especial”, comparada com outras de que participou.

Sobre a resistência de alguns países em aprovar o plano de “phase out”, a eliminação gradual do uso de combustíveis fósseis, ele lamenta. Mas acha que é preciso cuidar também do “outro lado da moeda”, ou seja, o desenvolvimento de energias alternativas. Ma Jun conhece de perto o desafio, afinal a sede de seu instituto fica em Pequim que em menos de dez anos conseguiu sair da lista de cidades com a pior qualidade de ar do mundo — entre outros motivos graças à substituição de parte de sua frota por veículos elétricos.

— O uso de combustíveis fósseis é um problema não apenas pelas emissões de carbono, mas também pela poluição do ar. Mas é preciso alinhar isso com outras ações climáticas, com a expansão de energia verde e o desenvolvimento socioeconômico de alta qualidade — diz Ma. — Na COP26 de Glasgow nós concordamos com o ‘phase out’ e na COP28 de Dubai nos comprometemos em triplicar a capacidade de energia renovável. Eu lamento que essa segunda meta não tenha recebido maior destaque em Belém, o mundo ainda está devendo nessa. É o outro lado da moeda.

Nesse lado, a China tem muito o que mostrar. Afinal, nenhum país chega sequer perto da escala com que o país investe, produz e instala fontes de energia renovável. Em 2024, o volume de instalações de energia eólica e solar em construção foi duas vezes maior que o do resto do mundo, levando o país a uma capacidade instalada de 1.200 GW, seis anos antes da meta estabelecida pelo governo. A penetração de energia renovável na China está ocorrendo “numa escala sem precedentes”, diz Ma. Ele torce por um aumento na cooperação para que o país propague esse conhecimento com outros.

Alguns ambientalistas demonstraram frustração com as metas anunciadas pela China antes da COP30, afinal esperavam um nível maior de ambição do país que lidera as emissões de gases de efeito estufa. Ma compreende o sentimento, mas argumenta que essas metas não são o teto, e sim o ponto de partida. Por tradição, explica, a China prefere estabelecer metas que possa superar. Além disso, é preciso entender que o momento de guerras comerciais e tensões geopolíticas conduzem a uma atitude de prudência em Pequim, explica. É mais seguro usar o carvão que o país tem em abundância do que depender da importação de gás natural, menos poluente.

Com o boicote dos Estados Unidos aos esforços climáticos, naturalmente crescerá a pressão para que a China assuma um papel de liderança, reconhece Ma. Para ele, “querendo ou não, fomos colocados no banco do motorista”. A crise climática está piorando e, sendo o país que mais emite gases de efeito estufa, a China entende sua responsabilidade, ao mesmo tempo em que “reconhece a importância da colaboração multilateral”, afirma.

Embora tenha manifestado apoio à iniciativa apresentada pelo Brasil, a China não se comprometeu a investir no Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), mas o ambientalista não descarta que o país entre com capital no futuro. O tema do financiamento ambiental é espinhoso, diz ele, porque a posição de Pequim tradicionalmente foi baseada no princípio de “responsabilidade comum mas diferenciada”, pelo qual os países desenvolvidos devem arcar com o aporte de fundos climáticos.

Ele vê uma mudança na atitude da China, que nos últimos concedeu bilhões em financiamento para ajudar a transição energética e a descarbonização em países em desenvolvimento. A iniacitiva do Brasil também deverá ter fundos da China, prevê.

— Acho que em algum momento a China também irá contribuir com esse fundo específico. Mas como é uma iniciativa nova, é preciso que haja um processo de alinhamento com a política do ‘comum mas diferenciado’, para que ela se encaixa num modelo justo de financiamento climático global — conclui.



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