BC tomou decisão de forma independente, sem ceder a pressão política

por Assessoria de Imprensa


A liquidação do Banco Master mostra autonomia do Banco Central e para para quê ela vale. O valor da autonomia é permitir que se proteja o sistema de uma forma geral. Daniel Vorcaro, dono do Master, preso ontem pela Polícia Federal, tinha muitas conexões entre os políticos de diversos partidos e toda a ligação com BRB banco estadual de Brasília. Apesar disso o Banco Central tomou todas as decisões de forma independente com o objetivo de proteger o sistema. Em outras situações, certamente, os políticos estariam em torno do Banco Central exigindo uma solução “política “. E houve pressão. Há relatos que Vorcaro avaliava que o fim do mandato de Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, em dezembro, poderia dar alívio a situação do banco. A decisão do BC, no entanto, foi técnica e não cedeu a pressões.

O caso do Master segue a trilha deixada pelo Proer e as liquidações dos bancos na época do governo Fernando Henrique. Fazer tudo tecnicamente e nada politicamente. O Fundo Garantidor de Créditos (FGC), criado também na gestão de FHC, vai garantir os investimentos dos clientes do banco liquidado até R$ 250 mil. Ainda não se sabe ao certo qual será o real impacto no fundo. O certo é que o Fundo Garantidor deve ficar bastante descapitalizado, e por isso está em discussão um aumento da contribuição dos bancos para o FGC.

Apesar do montante, os economista Ricardo Hammoud, da FGV, e Alexandre Chaia, do Insper, não consideram que a liquidação do Master traga nenhum risco ao sistema bancário. Mas o sistema foi testado, diz Hammoud. Ambos avaliam que o episódio virá uma página em relação a regulação e na fiscalização. A autoridade monetária tem apertado as regras em relação a fintechs, aumentou o valor mínimo para operação de bancos e financeiras, assim como transações em fundos exclusivos.

– O BC faz uma sinalização na direção correta, de maior regulação. Os grandes bancos, que são os maiores contribuidores do FGC, já vinham demonstrando preocupação com a situação do Master e gostariam que tivesse uma solução de mercado para que o fundo não precisasse ser acionado. A negociação com o BRB seria absurda, o Banco Central enfrentou uma pressão política grande e foi corajoso em não aprovar – diz Hammoud.

Ainda não se sabe precisar ao certo com será o desdobramento para o BRB, diz Chaia. Para além dos desdobramentos que envolvem a Polícia Federal, mas por se tratar de um banco estatal, isso pode ter impacto nas contas públicas

– Ainda não temos informações completas sobre a operação da PF, mas aparentemente o BRB comprou carteiras de crédito falso e isso é muito ruim para o banco. O BRB não pode usar o fundo garantidor, porque não tem intervenção, e provavelmente vai ter um prejuízo se esses créditos não forem verdadeiros. Como é o banco estatal acaba tendo o tesouro ajudando, o que pode levar a um efeito para as contas públicas.

Hammoud pontua ainda que a apuração de compra de títulos de crédito falso pelo BRB, mostra um compliance muito ruim do banco e deve aumentar a desconfiança do consumidor e levar a saques, o que pode prejudicar ainda mais a saúde financeira do banco:

– Vai ocorrer um escrutínio ainda maior sobre o BRB , o que pode acarretar saques e venda de ativos. Isso acaba prejudicando ainda mais a saúde financeira do banco. Por enquanto, os consumidores não serão afetados. O valor dos ativos ( marcação a mercado) do BRB pode sofrer por reputação abalada – ressalta o professor da FGV.

Aos consumidores, o alerta é claro, diz Chaia, professor do Insper:

– Não existe almoço grátis, quando uma instituição oferece um rendimento muito acima da média do mercado há risco. É preciso ficar atento.



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