Técnicos da Caixa Asset, o braço de gestão de ativos do banco estatal, alertaram em julho de 2024 que o Banco Master não tinha “clareza, efetividade e consistência em seus números”, com um modelo de negócios de “difícil compreensão” e “alto risco de solvência para a instituição”.
A análise consta de um parecer sigiloso de 19 páginas revelado pela equipe da coluna em que a área de renda fixa da Caixa Asset desaconselhou enfaticamente a compra de um lote de R$ 500 milhões em letras financeiras do Banco Master, consideradas arriscadas demais para os padrões do banco.
O episódio abriu uma crise na Caixa Asset, repercutiu no mercado financeiro e levou os gerentes Daniel Cunha Gracio, de renda fixa, que assina o parecer, e Maurício Vendruscolo, de renda variável, que também avalizou os documentos, a perderem seus cargos. Também fez a Controladoria-Geral da União (CGU) realizar uma auditoria inédita na Caixa Asset.
Nos bastidores da Caixa, o movimento foi interpretado como uma tentativa de retaliação e de eliminar as resistências internas ao negócio – que acabou não sendo concretizado. O Master se meteu depois em outro negócio polêmico: a compra de 58% do capital social do Banco Master pelo BRB,
“O Banco Master mantém em sua carteira de crédito um volume relevante de precatórios, ativos com grande incerteza quanto ao prazo de recebimento e direitos creditórios com estruturas que dificultam a visibilidade dos investidores sobre exposições que possam afetar o desempenho financeiro do banco”, alertou a equipe técnica da Caixa Asset.
“O histórico reputacional da instituição, assim como de seus principais executivos, fragiliza a confiabilidade e a fidúcia necessária para alocação em seus ativos”, sustentou o parecer.
As letras financeiras emitidas pelo Banco Master que a Caixa considerava comprar previam uma rentabilidade de 130% do CDI ao ano no prazo de 10 anos.
No documento sigiloso encaminhado ao comitê de investimentos, os gerentes observaram que a Caixa Asset nunca aplicou um volume sequer próximo de R$ 500 milhões durante um prazo tão longo em instituições de perfil arriscado como o Master, que tem um rating interno de BB+, considerado de médio risco. No geral, esse tipo de aporte só é feito em instituições renomadas no mercado, como os principais bancos públicos e privados.
De acordo com os técnicos da Caixa, o Banco Master “tem trabalhado no limite quanto aos enquadramentos de Basileia, o que remete um alto risco de solvência para a instituição”.
“Desta forma, é fundamental que antes de qualquer perspectiva de aplicação de recursos na instituição, o banco demonstre real capacidade de operar com ganhos consistentes de qualidade, já que o horizonte de análise atual se mostra excessivamente curto para compreender se todas as aquisições realizadas realmente serão integradas de maneira positiva ao fluxo operacional.”
À época, o dono do Master, o executivo Daniel Vorcaro, chegou a afirmar que a aquisição era um “bom negócio”. A Caixa Asset, por sua vez, alegou na época dos fatos que “realiza, periodicamente, uma avaliação do time de gestores, e não faz parte da política da empresa nenhum tipo de retaliação, sendo que as substituições se dão com critério exclusivamente profissional”.
Uma pesquisa realizada pela área de compliance da Caixa Asset também apontou que executivos do banco foram alvos de processos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), “por manipulação de preços, irregularidades em distribuição de produtos de investimento no mercado, além de envolvimento em diversos crimes financeiros”.
Em 2020, o próprio Vorcaro acertou um termo de compromisso de R$ 250 mil com a CVM, no âmbito de um processo que envolvia eventuais irregularidades nas emissões de debêntures.
A Caixa Asset é uma divisão recente do banco estatal, criada em 2021 no governo Jair Bolsonaro durante a gestão do então presidente da instituição, Pedro Guimarães.
Após o episódio, a Controladoria-Geral da União (CGU) decidiu preparar uma auditoria inédita na Caixa Asset, o braço de gestão de ativos do banco estatal, com previsão de ser concluída em dezembro deste ano.

